Com filmagens em São Paulo, ‘Cidade de Deus’ ganha série de TV
Sob o comando de Aly Muritiba ('Cangaço Novo'), produção terá Alexandre Rodrigues de volta como Buscapé
Na Vila Maria, um set de filmagens se mistura à rotina da região da Zona Norte de São Paulo. Além da extensa equipe, das câmeras, luzes e dos toldos que abrigam mais algumas dezenas de profissionais e seus equipamentos, diversos olhares curiosos observam atentamente e fazem silêncio quando Aly Muritiba, diretor-geral da série Cidade de Deus, fala “ação!”: são os próprios moradores do bairro, que será parte viva dos cenários da produção.
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A série deve estrear em 2024, com seis episódios. Apesar de a história narrada pelo fotógrafo Buscapé (Alexandre Rodrigues, de volta ao personagem) continuar se passando no Rio, a capital paulista foi o palco escolhido para a maior parcela das filmagens.
“Foi por questões técnicas. Nossa estrutura está em São Paulo. Após a pesquisa de locação, vimos que era possível filmar aqui”, explica Andrea Barata Ribeiro, sócia-fundadora da O2 Filmes. “Favela é favela em qualquer lugar. A arquitetura e o sentimento de comunidade são os mesmos”, destaca Rodrigues, que diz não ter sentido tantas mudanças entre as locações do filme e da série. Ao todo, foram quatro meses na capital e as últimas semanas serão filmadas no início de novembro, no Rio.
A produtora O2 realizou o filme homônimo de Fernando Meirelles (também sócio-fundador da O2 ao lado de Andrea) em 2002 e, agora, trabalha ao lado da HBO Max neste título Max Original, inspirado na obra de Paulo Lins. “O que nos deu o brilho nos olhos foi a ideia de trazer os personagens vinte anos depois. O que aconteceu nesses anos todos?”, conta Andrea.
O enredo se passará no início dos anos 2000, com a formação das milícias, e terá trechos do filme em flashbacks — seja para relembrar o espectador, seja para apresentar o filme, indicado a quatro prêmios Oscar, às novas gerações. Andrea destaca que a série vai narrar as histórias de diversas pessoas: “Cidade de Deus revelou um universo que, até 2002, era tratado de forma superficial. Agora, vamos acompanhar uma comunidade que reage, faz as coisas darem certo e sofre com a violência”.
Além de Alexandre Rodrigues, estão de volta Roberta Rodrigues (Berenice), Kiko Marques (Reginaldo), Thiago Martins (Lampião) e Edson Oliveira (Barbantinho). Alice Braga não retornou para o papel de Angelica, mas nomes como Andréia Horta e Marcos Palmeira estarão na obra com personagens inéditos. “A série aponta a câmera para dentro do coração desses moradores, dos novos personagens”, garante Andréia. O elenco, majoritariamente do Rio, veio para São Paulo ao lado de outros atores que realmente moram na Cidade de Deus.
Aly Muritiba (do recente sucesso Cangaço Novo, do Prime Video) define como um “deleite” trabalhar na série e diz que o desafio está em criar um meio-termo entre inovar e honrar a história e linguagem do filme original. Ele afirma que o protagonismo feminino está em maior escala. “Só isso já traz um viés diferente do que foi feito no filme.”
O diretor adianta que algumas mudanças estéticas serão percebidas pelo espectador: “A série está mais colorida, vibrante e alegre. Ao mesmo tempo, com um controle de câmera muito maior do que existia na proposta do filme”.
Muritiba também afirma que, nas bases de pesquisas estéticas feitas pela equipe, a inspiração principal recaiu em narrativas afrocentradas, não americanas: “Esse é um diferencial da produção”.
Publicado em VEJA São Paulo de 27 de outubro de 2023, edição nº 2865