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A Tal Felicidade

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Seu propósito pode estar bem embaixo do seu nariz

Adriana Drulla, mestre em psicologia positiva e pós-graduada em terapia focada em compaixão, acredita que a felicidade vem de propósitos de vida simples

Por Adriana Drulla em depoimento a Helena Galante
Atualizado em 3 dez 2021, 11h09 - Publicado em 3 dez 2021, 06h00
Um desenho simples de uma nuvem e uma escada em um fundo azul.
A felicidade só pode ser alcançada com propósitos de vida. (Christina Reichi Photography/Getty Images)
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É a ausência de sentido, não de felicidade, que faz com que países como o Japão tenham altas taxas de suicídio. Pessoas que encontram sentido na vida apoiam-se nessas razões quando o mundo parece desabar. A felicidade não é uma constante na vida de ninguém, muito menos um refúgio seguro quando tudo vai mal.

Para o psiquiatra Viktor Frankl, fundador da logoterapia, a busca pela felicidade põe em risco a própria existência. A explicação é simples. Quando nos esforçarmos para encontrar o que nos faz feliz, focamos nas nossas necessidades e desejos particulares. No entanto, estudos em neurociência apontam que mal existimos como organismos individuais.

Nosso cérebro é programado para funcionarmos como membros de uma tribo. Por exemplo, por mais que a escrita seja um esforço individual, eu escrevo para você ler. Sem o leitor, meu texto não tem razão para existir. O foco na felicidade individual nos torna autocentrados e pode nos desconectar do outro. Contudo, é da conexão com a tribo que depende a nossa felicidade.

Adriana Dulla é uma mulher branca, de olhos e cabelos castanhos. Ela pose em frente a uma parede de tijolos e traja uma camisa azul e um colar prateado.
(J. Mantovani/Divulgação)

Adriana Drulla é mestre em psicologia positiva pela Universidade da Pensilvânia (EUA) e pós-graduada em terapia focada em compaixão pela Universidade de Derby (Inglaterra). É autora dos podcasts Crescer Humano, no qual fala sobre psicologia, e Mente Compassiva, que publica meditações para o desenvolvimento da autocompaixão.

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Somos seres sociais. Consideramos que a nossa existência tem sentido quando fazemos diferença para o mundo, ou parte dele. Precisamos sentir que pertencemos e que somos importantes. Dessa forma, uma vida com sentido é aquela que transcende a própria pele e em que somos capazes de nos conectar com algo para além de nós mesmos. Por exemplo, algumas pessoas encontram sentido doando-se para a família, enquanto outras se esforçam para impactar a sociedade lutando por uma causa.

Ter um propósito é uma das formas de encontrar mais sentido na vida. Tanto que a palavra gera mais de 50 milhões de resultados na busca do Google. A maioria das pessoas deseja mais propósito, mas considera a busca um tanto complexa.

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Talvez estejamos em crise com relação ao propósito porque cometemos um erro na definição do termo. Primeiro porque achamos que propósito é uma busca interna. Quando na verdade, para ter mais propósito, você precisa olhar para dentro apenas para identificar suas habilidades e valores. A partir daí, o olhar deve dirigir-se para fora, para as necessidades do outro. Propósito é sobre usar as suas habilidades para adicionar valor ao mundo.

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Erramos também porque sofisticamos o propósito. Hoje ele tem a ver com causas grandiosas, com pessoas que inspiram milhões de outras. Hoje ter propósito é quase equivalente a escalar o Monte Everest, um projeto para poucos. Mas o propósito não é um luxo disponível apenas para os que podem largar o emprego ou investir horas sem fim em uma causa.

Se entendermos propósito como um conjunto de ações (que podem ser simples) em prol das outras pessoas, fica mais fácil encontrarmos mais sentido em nossa vida. Você pode encontrar mais propósito ajudando o morador de rua que está na frente da sua casa, auxiliando uma creche ou abrigo de animais, fazendo uma campanha em benefício de alguém ou, ainda, na criação de seus filhos.

Os estudos demonstram que, além de mais resiliência diante dos desafios, uma das consequências da vida com sentido é também mais felicidade. O mundo está cheio de oportunidades para acrescentarmos valor. É só deixarmos de olhar para o nosso umbigo, ou para o topo do Monte Everest, e olharmos ao nosso redor.

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Publicado em VEJA São Paulo de 08 de dezembro de 2021, edição nº 2767

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