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Meditação e ultramaratonas

Como a corrida e a meditação se completam e melhoram a qualidade de vida

Por Patanga Cordeiro em depoimento a Helena Galante
15 jul 2022, 06h00
Homem feito de bolinhas coloridas correndo
Maratona (Getty Images/Mustafahacalaki/Reprodução)
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Aos 19 anos eu não fazia exercício físico nenhum e minha vida era meio vazia. Num daqueles dias, fui a um curso gratuito de meditação. O palestrante tinha levado uma foto do seu mestre espiritual, Sri Chinmoy. No meio do curso, parei de prestar atenção e comecei a olhar para a foto. Parecia que ela me observava também, com um olhar sério — como se tivesse responsabilidade por mim. Foi algo que nunca esqueci.

Além da meditação, uma das coisas que Sri Chinmoy escreve é sobre como o esporte é fundamental para trazermos dinamismo, luminosidade e espontaneidade para o físico, emocional e mental. Com isso, a sua meditação e oração também se beneficiam, pois o instrumento (que é você todo, todas as suas partes do ser) está em boas condições.

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Foi por isso que comecei a correr. Em 2012, resolvi fazer uma corrida de dez dias (é como se fossem dez corridas de ultramaratona de 24 horas, uma em seguida da outra, dando voltas num parque). Durante essa corrida, as experiências externas acontecem hora após hora, sem parar. Tive muitos problemas — pés, joelhos, costas, canela, além dos psicológicos. Sempre tinha de me adaptar, amarrar alguma coisa, fazer cortes nos tênis para dar espaço aos pés inchados, cuidar de bolhas etc.

Mas nem tudo tem conserto. No segundo dia, estava com muita dor e muito exausto. Pensei: “isto aqui não é para mim. Isto aqui é para atletas etc. eu não sou ninguém”. Chega uma hora em que o cansaço, os ferimentos, a dor, a dúvida de si, tudo isso se junta, e não há algo que você possa fazer para resolver. Só há duas estradas. Você tem de ficar mais forte do que é, ou então desistir.

Ao me conhecer melhor e afastar a dúvida, os problemas também foram embora. O fato de ter tido essas experiências dolorosas me fez enfrentar a dúvida e a insegurança. É como se a corrida e a meditação se completassem; uma é a perna esquerda, e a outra é a direita. Uma traz a percepção de uma realidade maior. A outra lhe dá uma oportunidade de praticar essa realidade.

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Um problema no seu pé ou joelho que normalmente levaria semanas ou meses de repouso para se curar é resolvido com dez ou doze horas de corrida! Depois de um tempo, aceitamos as experiências num nível mais alto, as enfrentamos e, para a nossa surpresa, a dor passa.

Depois de seis dias, minhas pernas estavam ficando mais fortes. O corpo estava funcionando com base em outras leis que não vivenciamos no nosso cotidiano de acorda-trabalho-escola-dorme. No sétimo dia, tudo era paraíso. Meu suor não cheirava mais mal como nos primeiros dias. Eu enxergava tons de cor nos pássaros negros.

Eu sorria mais sinceramente. eu me identificava com as pessoas. O mundo ficou muito maior, mais belo e, ao mesmo tempo, cabia muito mais coisas dentro do meu coração.

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Tanto na meditação quanto na corrida, aprendemos tantas coisas, temos de nos tornar tão mais fortes de um momento para o outro que a sensação é a de anos de aprendizado.

Patanga Cordeiro está sorrindo e usa óculos e boné
Patanga Cordeiro é ultramaratonista e professor no centro de Meditação Sri chinmoy, que oferece cursos gratuitos de meditação praticamente todo mês. As informações e inscrições estão disponíveis no site meditacaosp.com. (Arquivo Pessoal/Divulgação)

A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br

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Publicado em VEJA São Paulo de 20 de julho de 2022, edição nº 2798

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