‘Caetano tem razão, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que se é’
O influenciador digital Vítor diCastro conta como aprender a descartar padrões sociais e para ser ele mesmo
Vivemos num tempo em que as pautas identitárias estão bombando. Qualquer peça publicitária das maiores marcas quase sempre estará cheia de diversidade, com pessoas de vivências e corpos muito diferentes, ocupando aquele espaço para mostrar que todos devem ter orgulho de ser quem são e que todos são bem-vindos para gastar seu dinheiro com aquilo em específico. Mas, quando se fala sobre “ser quem se é e orgulhar-se disso”, precisamos ir muito além de uma propaganda de trinta segundos.
Eu cresci assistindo a produções hollywoodianas me ensinando que “seja você mesmo” é o maior e o melhor lema da vida humana, mas só fui aprender bem mais tarde que Caetano (mais uma vez) tinha razão ao dizer que “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que se é”. Não é algo de fácil digestão, um botão que apertamos e seguimos a vida cantando e dançando, como na emblemática cena do musical O Rei do Show. É uma construção diária e, muitas vezes, penosa. Um caminho que poderia ser mais simples, se não vivêssemos numa sociedade que tenta a todo momento encaixar cada indivíduo num padrão, que geralmente é impossível de ser alcançado.
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Porém que delícia é o processo de aceitação… Ai, ai… Quando eu me libertei da necessidade de corresponder às expectativas dos meus pais (e de toda uma galera) sobre a minha sexualidade e meu futuro, foi como se eu pudesse respirar pela primeira vez. Passei pelo menos vinte anos tentando de tudo para me encaixar naquilo. Passei a adolescência negando meus sentimentos, meus prazeres, minhas vontades, porque eu entendia que só seria feliz e pleno se fosse hétero e me casasse com uma mulher, formasse a tão famosa família tradicional. Mas cá entre nós: a quem eu queria enganar com essa história? eu não nasci para ser tradicional, para ser padrão.
Nasci gay, nasci revolucionário, nasci cheio de indagações e cresci com elas latejando na minha cabeça, e quando pude finalmente colocar tudo isso pra fora, senti uma leveza que nunca havia experimentado, ou, como diz Lulu: “Uma sensação que até então não conhecia”. Senti uma paz e uma felicidade que eu não conseguiria descrever neste texto, nem se eu tivesse todos os caracteres do mundo.
Mas, para além das conquistas pessoais que essa ação gera, libertar-se das amarras e dos padrões sociais faz a gente entender o mundo de maneira diferente e perceber que todos somos únicos, o que nos dá vontade de libertar os outros também, para que todo mundo sinta esse gosto de mel na boca. Ou seja: é uma corrente infinita, deliciosa, necessária e, na falta de uma palavra melhor para descrevê-la, eu digo que é muito, muito foda! Experimente.
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Vítor diCastro é ator, influenciador, entusiasta dos signos e criador do canal Deboche Astral.
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Publicado em VEJA São Paulo de 20 de outubro de 2021, edição nº 2760