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O apelo de Dalai Lama ao mundo

Confira trechos do novo livro da Sua Santidade, em que conversa com o ativista Franz Alt sobre mudanças necessárias para a sociedade

Por Helena Galante Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
16 abr 2021, 06h00
Foto do mundo tirada do espaço, com metade do globo sobreposta com uma sombra preta e uma luz no fundo da imagem
Dalai Lama: “nós, 7 bilhões de seres humanos, precisamos aprender a viver juntos” (LeYa Brasil/Divulgação)
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Em conversa franca com o ativista Franz Alt, a Sua Santidade pede uma nova ética social e ambiental. Confira trechos do novo livro A Nossa Única Casa, publicado pela LeYa Brasil.

Franz Alt: Sua Santidade, querido amigo. Quinze anos atrás, você me disse numa entrevista: “O século XXI pode se tornar o mais feliz e pacífico da história da humanidade. Espero que sim, pelos jovens”. Ainda nutre essa esperança?

Dalai Lama: Tenho esperança de que o século XXI possa se tornar o mais importante da história da humanidade. O século XX testemunhou destruições imensas, sofrimento humano e danos ambientais sem precedentes. O desafio que temos diante de nós, portanto, é fazer do século XXI um século de diálogo e de promoção do senso de unidade da humanidade. Como monge budista, faço um apelo a todos os seres humanos para que pratiquem a compaixão — a fonte da felicidade. nossa sobrevivência depende da esperança. Esperança significa algo bom. Eu acredito que o propósito da nossa vida é ser feliz.

Em 1992, você disse: “A responsabilidade universal é fundamental para a sobrevivência humana”. O que significa isso em termos concretos e práticos?

Os 7 bilhões de seres humanos são animais sociais e devem aprender a viver juntos. não é mais hora de pensar apenas em “meu país”, “meu povo”, “nós” e “eles”. Vivemos num mundo globalizado.

Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, com o ativista alemão Franz Alt. Eles posam para a foto de mãos dadas em frente ao peito
Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, com o ativista alemão franz alt: unidos pelo meio ambiente (Bigi Alt/Divulgação)

Há séculos o nacionalismo molda nossa história. Existe realmente uma possibilidade de superá-lo?

Aonde quer que eu vá, enfatizo que todos os seres humanos são física, mental e emocionalmente iguais. todos querem viver uma vida feliz e sem problemas. até os insetos, pássaros e animais querem ser felizes. Para garantir um mundo mais pacífico e um ambiente mais saudável, às vezes apontamos o dedo para os outros, dizendo que deveriam fazer isso ou aquilo. Mas a mudança deve começar conosco como indivíduos. Quando um indivíduo se torna mais compassivo, isso influencia os outros, e é assim que vamos mudar o mundo.

“As catástrofes ambientais são o reflexo de nossas formas combativas e destrutivas de pensar baseadas num desejo egoísta de prosperidade e lucro”, você afirmou em outra ocasião. Egoísmo e desejo de riqueza não fazem parte da essência humana?

Os valores materiais são importantes. Mas os valores internos mais profundos são mais importantes do que os materiais. Já nos descrevi como egoístas, é verdade. Mas devemos ser egoístas sábios, em vez de egoístas tolos. Pensar menos no “eu” e mais no bem-estar dos outros. assim se obtém o benefício máximo. então isso é o egoísmo sábio.

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Você fala em priorizar a educação ambiental — do jardim de infância ao ensino médio, mas também nas universidades. Por que é importante começar tão cedo?

Toda criança deve aprender na escola que seu futuro e sua felicidade sempre dependerão do futuro e da felicidade dos outros. Já no jardim de infância, as crianças podem aprender que todos os seres humanos têm o direito de ser felizes. todos vivemos no mesmo planeta, sob o mesmo sol, e respiramos o mesmo ar. Hoje, o mundo precisa de uma educação ético-ambiental baseada numa compreensão mais profunda que transcende a religião.

O que você quer dizer com a expressão “educação do coração”?

Meu desejo é que se dê mais atenção à educação do coração — ensinando amor, bondade, paz, compaixão, perdão, atenção plena, autodisciplina, generosidade e tolerância. Precisamos de uma iniciativa mundial para educar o coração e treinar a mente nessa era moderna. a educação moderna não é adequada e dá pouca atenção aos valores internos.

Você, caro amigo, diz: “A espiritualidade é fundamental para a nossa sobrevivência”. Poderia dar razões para essa afirmação?

Muitas vezes eu disse que, de acordo com a tradição da cultura budista tibetana, todos os seres sencientes foram nossas mães. essa é a verdade básica do despertar, da iluminação e da tomada de consciência. estamos todos interconectados no universo, e daí nasce a responsabilidade universal. Jesus conhecia a lei espiritual chamada de “carma” no budismo e falou sobre ela sem usar a palavra carma. É a lei espiritual de que “você colhe aquilo que planta”. as coisas dependem inteiramente do seu esforço, da sua ação. as coisas, portanto, mudam por meio da ação e não da oração. devemos agir para criar carma positivo.

Capa do livro A Nossa Única Casa, de Dalai Lama. A ilustração mostra uma foto do mundo tirada do espaço, com metade do globo sobreposta com uma sombra preta e uma luz no fundo da imagem
A Nossa Única Casa (Editora LeYa Brasil; R$ 29,00): a tradução é de Marina Vargas (LeYa Brasil/Divulgação)
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Publicado em VEJA São Paulo de 21 de abril de 2021, edição nº 2734

 

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