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Autocuidado: como colocá-lo em prática no dia a dia

Karen Vogel, psicóloga e professora na The School of Life, dá dicas de como incorporar os cuidados consigo mesmo na rotina

Por Karen Vogel, em depoimento a Helena Galante
16 dez 2022, 06h00
Ilustração mostra mulher se abraçando sorrindo
O autocuidado diz respeito a uma série de atitudes na rotina (Freepik/Creative Commons)
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A rotina, muitas vezes, parece um convite ao estresse. Em alguns dias, temos tantos pratos para equilibrar que acabamos negligenciando algo vital para ter uma vida que vale a pena ser vivida: o autocuidado, ou seja, atitudes e ações diárias de cuidado com nós mesmos, com nosso corpo, com a nossa mente e o nosso espiritual.

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Cuidar de si pode ser compreendido como parte das competências da autocompaixão: um olhar mais cuidadoso e amoroso para si mesmo em vez das nossas conhecidas autocríticas. É uma mudança na forma como nos tratamos. O olhar compassivo nos oferece compreensão, incentivo, e não crítica e punição.

O autocuidado vem de uma prática de autonutrição. Envolve principalmente autorresponsabilidade, pois somos nós os ou as responsáveis por atender àquilo que estamos sentindo falta ou precisando. Se estamos nos sentindo carentes, por exemplo, geralmente não é a falta de outra pessoa que estamos sentindo, e sim de nós mesmos.

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O mais comum é irmos em busca de pessoas para preencher essa carência. Ser uma boa companhia para si mesmo, se levar para passear, cuidar para promover ações que busquem entrar em contato com as coisas que você gosta de fazer podem ser alguns exemplos de práticas de autocuidado.

Cuidar de si envolve, também, evitar (ou diminuir) substâncias, alimentos, pessoas, situações que sabemos que não nos fazem bem. Saber dizer não para os próprios impulsos, colocar limites em si mesmo, é um dos grandes desafios do autocuidado e é ação muito significativa e importante. O limiar entre comer um bombom ou uma caixa inteira, por exemplo, é uma atitude de autocuidado.

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As situações que envolvem prazer, aliás, serão lugares que o autocuidado sempre vai precisar atuar e, muitas vezes, ser taxativo. É quando você não quer fazer atividade física porque considera a prática desconfortável, mas o seu autocuidado diz, com gentileza, que é hora da ginástica. E você obedece, entendendo que deve ser a principal pessoa interessada em implementar na sua rotina o que é importante e vai fazer bem.

Sendo assim, autocuidado não envolve somente prazer. Ir à massagem, descansar, meditar podem ser exemplos de atividades prazerosas. Mas cuidar de si tem a parte árdua, que é atuar na contramão da vontade, no cuidar dos comportamentos sabotadores do nosso cuidado. E é importante destacar que existem diferentes áreas de autocuidado e cabe a cada um de nós analisar para qual precisamos dar mais atenção.

Exemplos dessas áreas são: corpo (saúde, alimentação e atividade física); mente (meditação e leituras); espiritual (crenças, mantras e oração); social (encontrar pessoas e ser compassivo); e emocional (ir à terapia e ler).

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A vida cotidiana, o estresse diário, o trabalho e a rotina são conhecidos como os principais vilões do autocuidado. Muitas vezes, passamos por cima de nós para atender a um prazo do trabalho, uma última reunião ou aquele pedido no final do expediente. Assim, é uma parte importante do treino do autocuidado a observação daquelas situações que são tóxicas, que nos deixam para depois, que passam para nós a mensagem que devemos ficar por último na lista das prioridades. Autocuidado envolve cuidar dessa lista e fazer modificações nela sempre que for necessário.

+ Cuidar de si e também do outro

Hoje, quem é o primeiro da sua lista em prioridade? Responda com honestidade! A grande maioria das pessoas prioriza os filhos ou o trabalho. Isso é uma luzinha amarela piscante de atenção!

Por fim, mais do que um ato de amor a si, autocuidado envolve limites, mudanças significativas, autorresponsabilidade, ações e uma boa dose de autoconhecimento. É preciso criar o hábito de trazer para a consciência os momentos em que não estamos nos priorizando, que permitimos situações que não favorecem nossa saúde, que estamos preguiçosos.

É difícil olhar para tudo que estamos fazendo e que não é bom, mas é um passo importante. Cuidar de si envolve, no final da história, lidar mais com o desconforto do que com o prazer. Mas os principais beneficiados seremos nós mesmos. Apenas por essa razão, acredito muito que o esforço vale a pena!

Foto de Karen Vogel, sorrindo e usando camisa preta e vermelha
Karen Vogel é psicóloga, psicoterapeuta e professora na The School of Life. Mestre em ciências pela USP, cursou Mindful Self Compassion e Mindfulness & Performance pela University of San Diego School of Medicine. É autora dos livros Quando Aprendi a Me Amar, Vigiando Pensamentos, Trabalhando Valores e Fada Helena Boazinha (Karen Vogel/Divulgação)

A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br

Publicado em VEJA São Paulo de 21 de dezembro de 2022, edição nº 2820

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