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Ansiedade, uma condição do viver humano

Será que estivemos, em algum momento, imunes à ansiedade? Doutora em psicologia e psicanalista, Blenda Oliveira, responde

Por Blenda Oliveira, em depoimento a Helena Galante
11 ago 2022, 06h00
Desenho de homem levando as duas mãos aos olhos em pose de sofrimento
 (GETTY IMAGES/ALICE ADLER/Reprodução)
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Estamos no olho do furacão do que alguns chamam de a era da ansiedade. Será que estivemos, em algum momento, imunes à ansiedade? Seria possível descartar medos, incertezas e contratempos da trajetória humana sobre a Terra?

O projeto de nos tornarmos cada vez mais humanos, civilizados e dotados de certo domínio sobre os acasos, circunstâncias e vicissitudes nos dotou da característica de autoafirmação e de autocontrole para realizarmos o que chamamos de potencial humano. Inevitavelmente, todo esse percurso está e estará marcado pela presença de inúmeras condições que não permitiram (e talvez jamais permitam) que tudo siga de forma linear, sem inúmeras falhas e erros.

A ansiedade nunca deu trégua ao ser humano. Somos todos ansiosos de um jeito ou de outro, mais ou menos. A experiência da ansiedade é, ao mesmo tempo, concreta e abstrata, numa medida que varia na frequência e na intensidade em diferentes ciclos da vida. Sua presença se deve ao número de situações de incerteza, medo e imprevisibilidade, nas quais o nosso viver, do mais mundano ao mais monástico, está mergulhado.

+ O lugar de ser feliz!

Nos tempos atuais, nunca se buscou tanto a questão do sentido, do propósito e do significado para a vida que vivemos. Nessa mesma linha, a demanda pelo que se denomina espiritualidade, qualidade de vida e diminuição de estresse tem trazido enorme interesse nas mais diversas discussões e pesquisas acadêmicas e médicas. Estamos todos de alguma forma à procura de uma vida melhor. Se possível (o que não é), livres de medos, sofrimentos e ansiedade.

O incômodo, a sobrecarga, as exigências emocionais envolvidas no manejo das coisas simples e práticas da vida, como trabalhar, pagar contas, criar filhos, cuidar da saúde física e mental, são gatilhos permanentes de algum tipo de intensidade da ansiedade. Por tudo isso, a ansiedade precisa ser ouvida e decodificada. É importante criar as condições necessárias para aprender a ler nossos estados psicológicos e emocionais, assim como regular os limites na relação com as demandas cotidianas; caso contrário, estaremos reféns de certo “analfabetismo emocional”.

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Vale dizer que não faço apologia da ansiedade. De forma alguma! Níveis altos de ansiedade, próprios dos transtornos advindos dela, são de enorme sofrimento e precisam de rápida ajuda médica e psicológica.

+ Será que a idade é um fator importante para a felicidade?

Todavia, nem toda ansiedade é um transtorno. Somos seres gregários e solitários, apreendemos a realidade de acordo com o que trazemos do nosso background familiar, educacional e cultural; assim, estamos fadados a lidar com as mais diversas emoções. No mundo contemporâneo, a vida está absolutamente sujeita a inúmeros imprevistos, incertezas e rápidas mudanças. Cabe a cada um de nós buscar construir, em nós e no nosso entorno, lugares, relações e condições que tragam propósito e significado para nossa existência diária.

Resta-nos aprender e compreender que a incerteza e a pretensão de controle do futuro são experiências disparadoras da ansiedade, que é, afinal, uma espécie de habitat natural da vida humana, como nos lembra Bauman em seu livro A Arte da Vida.

Quer saibamos ou não, nossa vida é obra de arte no estilo de cada um de nós. Para vivermos, conforme a arte da vida nos requisita, igual a qualquer artista, enfrentaremos grandes desafios, metas nem sempre à altura da capacidade disponível e das exigências quase sempre perturbadoras. Tolerando a angústia gerada por toda essa engrenagem, nos mantemos vivos à cata de sentidos mesmo que cambiantes.

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Blenda Oliveira sorrindo
Blenda Oliveira, doutora em psicologia pela PUC-SP e psicanalista, é autora de Fazendo as Pazes com a Ansiedade, publicado pela Editora Nacional. Atua como psicoterapeuta em orientação de pais, famílias, casais e adultos. Além da prática presencial no consultório, Blenda troca ideias nos perfis @blenda_psi, no Instagram, e @oliveira_blenda, no Twitter. (Arquivo Pessoal/Divulgação)

A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br

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Publicado em VEJA São Paulo de 11 de agosto de 2022, edição nº 2802

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