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A Tal Felicidade

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Saúde, bem estar e alegria para os paulistanos
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Há felicidade no mundo corporativo, mas ela é construída

As psicanalistas Fernanda França, Márcia Uehara e Yara de Barros, do projeto EscutAtiva, falam sobre o bem-estar no mundo corporativo

Por Fernanda França, Márcia Uehara e Yara de Barros, em depoimento a Helena Galante
22 set 2023, 06h00
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Amar e trabalhar: Fernanda França, Márcia Uehara e Yara de Barros falam de bem-estar no trabalho. (CaiaImage/Martin Barraud/Getty Images)
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Já pensou no esforço que temos de fazer para definir ou materializar felicidade? De acordo com Freud, o estado de saúde e bem-estar de uma pessoa está diretamente ligado à sua capacidade de amar e trabalhar.

As questões de trabalho nos entrelaçam, dedicamos muito tempo de nossos dias às atividades profissionais, então é imprescindível pensar que a felicidade também deve estar lá, no trabalho.

Imagine esta cena comum no mundo corporativo: a empresa reúne os times e anuncia que vai implantar tecnologias 4.0 e inteligência artificial, reestruturar as unidades de negócio ou, ainda, passar por um processo de fusão. Silêncio no auditório, barulho só dos batimentos cardíacos acelerados. Notícia digerida, palmas e sorrisos oportunos, em público.

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Individualmente, um misto de excitação e medo, companheiros do desconhecido, e a pergunta não verbalizada: “O que vai acontecer comigo?”. Cenas como essa são constantes e podem gerar incerteza e angústia. Medo da inovação, de não conseguir acompanhar as mudanças, de perder o emprego, preocupações familiares que passam a habitar o mesmo espaço mental com a visão de oportunidades de decolar na carreira, adquirir novas habilidades ou surfar na onda digital.

Enfim, quando alguma mudança se instala gerando sentimentos ambíguos, a parte mais preciosa de qualquer empresa, o fator humano, precisa de cuidado.

Quando afetos são tamponados, eles se deslocam para o território do “não dito”. Matéria humana que não aparece nos relatórios e indicadores povoados de algarismos. Os números muitas vezes não batem com comportamentos reais pelo simples fato de que números não expressam sentimentos. Essa tarefa está a cargo das palavras.

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A “rádio corredor” vive em paralelo com a “rádio oficial”, silenciosa, robusta e agora mais veloz do que nunca, trafegando digitalmente nuvem afora com um clique. A empresa que propicia um espaço seguro para que esse patrimônio humano venha à tona sai na frente na prática da inovação. Viabilizar o par palavra-escuta em tempos de algoritmos é se diferenciar.

A civilização digital pede novas formas de acolhimento e incentivo para que as pessoas se expressem, convidando-as para experiências individuais e em grupo onde há interesse genuíno de troca humana para fortalecimento de laços, oferecendo a possibilidade de serem ouvidas em sua percepção de mundo, vestidas de sua própria identidade.

People skills acima de hard skills.

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Em um grupo, se descobrem fazendo parte de algo maior, saem da solidão angustiante e se sentem mais fortes. Fortalecendo-se, atualizam suas identidades para o novo, deslocam-se para a etapa seguinte com coragem e entusiasmo.

Às vezes é necessário haver uma escuta individual, atenção exclusiva àquela pessoa que passa por um momento delicado da existência. Essa soma de afetos é estruturante de um sentimento de felicidade no trabalho.

O novo mundo demanda que os entraves corporativos do dia a dia venham à tona saudavelmente, pois o que não aparece não é trabalhado. Ali estão pessoas com suas nuances humanas verdadeiras — e não somente profissionais politicamente corretos, tecnicamente impecáveis e ecologicamente sustentáveis — representadas pela fala e escuta que a linguagem nos permite enquanto Homo sapiens desta era.

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Há felicidade no mundo corporativo, mas ela não está dada, é construída minuto a minuto com segurança, cooperação e confiança. É construção de todo o organograma, a começar pelo topo.

Se nossa saúde e bem-estar estão ligados à capacidade de amar e trabalhar, também é possível ter esse sentimento genuíno relacionado ao próprio ofício. É quando descobrimos que o investimento em pessoas capitaliza a força de existir do indivíduo e deste no coletivo.

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Fernanda França é psicanalista e escritora, sempre fascinada pela complexidade e beleza da mente humana. Márcia Uehara é psicanalista e empreendedora em TI. Pesquisa e atende adultos e crianças em interface com o mundo digital 4.0. Yara de Barros é psicanalista, interessada no fator humano em sua subjetividade multifacetada por um contemporâneo complexo. Encontraram-se na psicanálise e fundaram juntas a EscutAtiva (@escutativa_psicanalise), que promove bem-estar no mundo corporativo. (Arquivo pessoal/Divulgação)

A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.

Publicado em VEJA São Paulo de 22 de setembro de 2023, edição nº 2860

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