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Artacho Jurado é homenageado em nova ‘Ocupação’ do Itaú Cultural

Exposição sobre o arquiteto autodidata traz fotos e documentos do acervo da família e uma maquete de seus principais edifícios na capital

Por Ana Mércia Brandão
Atualizado em 24 jun 2024, 13h47 - Publicado em 21 jun 2024, 15h51
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Artacho Jurado corta bolo na forma do Edifício Viadutos, na Bela Vista, ao lado da filha, Diva (a esquerda) e a esposa, Mercedes (a direita) (Acervo família Jurado/Divulgação)
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A nova edição do projeto Ocupação, do Itaú Cultural, em cartaz desde esta quinta (20), homenageia Artacho Jurado (1907-1983), o arquiteto autodidata que, sem formação profissional, foi responsável por projetar edifícios icônicos da paisagem paulistana, como o Piauí (1952), seu primeiro, e o Bretagne (1958), ambos em Higienópolis.

Cerca de 130 peças, entre imagens, fotografias, vídeos, desenhos originais, publicidade de época e uma maquete dos oito principais empreendimentos do arquiteto na capital, e dois localizados em Santos, ocupam o segundo piso do Itaú Cultural. Boa parte do material veio do acervo pessoal da família Jurado. “Quis ajudar por entender que essa é uma homenagem justa que ele não teve em vida”, explica Diva Jurado, 89, filha única do empresário.

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Maquete com os principais edifícios projetados por Jurado: oito na capital e dois em Santos (André Seiti/Divulgação)

Filho de imigrantes espanhóis, João Artacho Jurado nasceu no bairro do Brás, Zona Leste. Sem formação acadêmica, começou a carreira profissional nos anos 20, após fazer cursos de desenho técnico, como letrista de cartazes e neons publicitários. Nos anos 40, participou da produção da cenografia de estandes de feiras industriais. “Ele vai criando uma série de boas relações que lhe proporciona conhecer mais do mapa da cidade, dos terrenos e se aproximar da área de construção”, explica o antropólogo Guilherme Giufrida, que assina a curadoria da Ocupação Artacho Jurado ao lado da pesquisadora Jéssica Varrichio.

Nos anos 50, Jurado abre a Construtora Monções e inicia sua década de ouro na produção de grandes edifícios. “Com a Monções, ele contrata outros arquitetos para assinar, mas quem criava era ele”, explica Giufrida. “A exposição coloca o Artacho como um artista”, define o curador. “Buscamos não colocá-lo em caixas como pós-moderno ou avesso ao Modernismo, mas sim como alguém particular e de uma arquitetura facilmente reconhecível.”

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Estande de Artacho na Feira Internacional de Indústrias de São Paulo, na década de 1940 (Acervo família Jurado/Divulgação)

A arquitetura de Artacho Jurado se diferenciava da opção minimalista feita pela arquitetura modernista em voga na época, por seu uso de adornos e cores e seu caráter maximalista. Janelões, cobogós, lustres, rampas, gradis e pastilhas são alguns dos elementos que tornam um Artacho Jurado reconhecível. Uma sessão da Ocupação, intitulada Gramática de Artacho, é dedicada a mostrar de perto essas formas e cores características do método do arquiteto.

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Cobogós no Edifício Cinderela, em Higienópolis (Tuca Vieira/Divulgação)

“A recepção dos prédios era muito dividida”, conta Diva. “Eu gostava porque via qual era a finalidade dele. Ele sempre construiu para a classe média. Ele achava que a classe média tinha mais dificuldades para entrar em clubes e esse tipo de coisa.”

Com esse pensamento, Artacho se torna o pioneiro das áreas comuns dos edifícios, que ocupavam o térreo e a cobertura, com até mesmo salões de chá e de música. O Bretagne, de 1958, foi o primeiro com piscina. “Pode parecer óbvio hoje, mas não existia na época. O condomínio virava uma espécie de clube”, define Giufrida.

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Cobertura do Edifício Bretagne (Tuca Vieira/Divulgação)

O Cinderela (1956), em Higienópolis, o Planalto (1956), na República, o Saint Honorè (1958), na Avenida Paulista, e o Louvre (1966), também na República, são alguns dos Artachos Jurados que colorem a capital paulista. Depois da intensa produção, o modelo de negócios adotado pela Monções, em que os apartamentos eram vendidos a preço de custo, se torna insustentável pelo aumento da inflação em meados dos anos 50 e a construtora fecha as portas. O arquiteto autodidata só recebeu o devido reconhecimento depois de sua morte, em 1983, com o advento do Pós-Modernismo.

Diva Jurado recorda uma única vez em que um acadêmico de arquitetura elogiou o pai. “Meu filho fez arquitetura e, por volta de 1978 durante uma aula, disse ao professor que era neto do Artacho Jurado com muito orgulho. E o professor respondeu: ‘Então, você tem que ser o melhor aluno, porque ele chegou onde chegou sem ter feito faculdade e você está fazendo faculdade’. Quando ele contou isso, papai ficou muito contente.”

Antes do início da produção da Ocupação, nada do acervo da família Jurado estava digitalizado. “A ideia é que a gente siga nessa digitalização do acervo e de conteúdos novos que forem surgindo”, afirma Juliano Ferreira, coordenador de Artes Visuais e Acervos do Itaú Cultural. “O Artacho conviveu com muitos dos arquitetos modernistas que já trouxemos em Ocupação, como Paulo Mendes da Rocha e Vilanova Artigas. Trazemos ele, que olhava para uma vertente completamente oposta do que estava em voga nos anos 50, como um reconhecimento e um jeito de reforçar a importância dele.”

Itaú Cultural. Avenida Paulista, 149. 🕿 2168-1777 → Ter. a sáb., 11h/20h. Dom. e feriados, 11h/19h. Grátis. Até 15/9.

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