La Bohème: ópera e champanhe para o réveillon
É só mais uma apresentação com casa cheia. Hoje, é a última récita de La Bohème, uma das minhas óperas favoritas, desta vez montada no palco do Teatro Municipal com direção musical de John Neschling. Uma Bohème em tons de cinza principalmente (cores do figurino, nada a ver com o best-seller que chegará ao cinema), […]
É só mais uma apresentação com casa cheia. Hoje, é a última récita de La Bohème, uma das minhas óperas favoritas, desta vez montada no palco do Teatro Municipal com direção musical de John Neschling. Uma Bohème em tons de cinza principalmente (cores do figurino, nada a ver com o best-seller que chegará ao cinema), mas com um feérico segundo ato do qual falarei adiante.
Assisti à récita do dia 15, uma vesperal de domingo. Não farei comentários sobre a qualidade musical do espetáculo, que me agradou, com exceção do tenor francês Jean-François Borras, que, embora dono de uma agenda internacional intensa, fez um Rodolfo sem charme. Pena também que a soprano Mihaela Marcu, uma loira de tirar o fôlego no papel da periguete Musetta, tenha voz tão pequena.
Embora Mimi já esteja com sintomas da doença, La Bohème é uma ópera de vitalidade. É protagonizada por jovens que adoram a vida e estão despertando para o amor, os amores (nem sempre fieis, mas constantemente ciumentos). Antes de tudo, é uma história de amizade, companheirismo entre quatro rapazes, artistas que vivem amontoados em um apartamentinho chinfrim de uma Paris fervida e na qual os cafés, mal comparando, equivalem as baladas de hoje.
É justamente a segunda parte da ópera me interessa. Antes, ao ato I. Serve para a apresentação da vida miserável que levam Rodolfo, o poeta, Marcello, o pintor, Schaunard, o músico, e Colline, o filósofo. Mostra as peripécias usadas para não pagar o aluguel a Benoît, o locador, e usar o pouco dinheiro que o quarteto tem em caixa para ir ao Café Momus. Todos não, Rodolfo planeja ficar um pouco mais para escrever. Está em um momento sem inspiração. Mas literalmente, a musa bate a sua porta. É Mimì, a florista, em busca de um fósforo, uma vela. Lembre-se, estamos no século XIX e ela não tem luz em casa. Pronto, a paixão gruda os dois.
Vamos ao que interessa: o enredo e a bebida. Ato II, o Café Momus, no Quartier Latin, o efervescente bairro latino tomado pela moçada como acontece, bem guardadas as proporções temporais e de distância, aqui na Vila Madalena. O café, não apenas o Momus, é ponto de encontro de artistas, intelectuais, jornalistas, escritores, cortesãs… Quem passava por suas mesas? Nomões como Baudelaire e Courbet e tantos outros podem ter dado as caras por lá.
Como bem define a historiadora de arte, Armelle Fémelat, da segunda metade em diante do século XIX o café é um lugar aberto e livre, um espaço essencial de sociabilização e de criação, um destino inevitável para os homens de letras e ideias. É palco para encontros, discussões, insights… E também compromissos amorosos. O Café Momus, embora fechado em 1850, imortalizou-se na peça de teatro de Henri Murger, que ele mesmo transformou em romance, obras bases para a ópera de Giacomo Puccini.
Bem, não vou me estender mais na história. Para saber do restante, é preciso ver a ópera. Só vou lembrar o que se bebia no século XIX. Os mais ousados tomavam a fée verté, ou melhor, o absinto, uma fadinha verde e alucinógena quando consumida pura e em excesso pelo alto teor alcoólico que contém. Baudelaire que o diga. No mais, os copos eram preenchidos por vinho. Nesta Bohème, a bebida tomada com mais graça é o champanhe, que aparece uma única vez na ópera, servido no Café Momus assim que Musetta entra em cena, uma aparição fulgurante.
Aproveito para erguer um brinde.
Selecionei doze espumantes para celebrar o novo ano. São escolhas para todos os bolsos, a partir de 29,90 reais. Inclui até um asti bem docinho para quem gostar de borbulhas açucaradas.
Antes de encerrar, desejo a todos um feliz 2014! Nos encontramos aqui mesmo a partir de janeiro.
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