Diário da quarentena: “Não vale a pena correr o risco”, diz Erick Jacquin
Chef conta sobre a rotina de restaurante fechado, o cuidado com casa e filhos e a incerteza sobre o futuro
“Minha vida mudou completamente no dia 18 de março, quando fechei o Président, restaurante que abri em dezembro na região dos Jardins. Era uma quarta-feira e quase não tínhamos clientes no almoço — o Président é um programa, e justamente a primeira coisa que as pessoas cortam do orçamento. Fechei também porque em uma das mesas havia pessoas que contavam que tinham acabado de chegar de Buenos Aires e não usavam proteção nenhuma. Uma decisão difícil, mas não podia pôr em risco os fregueses, a equipe e a minha família.
Já nutria grande admiração pela Rô, e ficou ainda maior. Temos uma cumplicidade muito grande, redescobrimos isso. Dividimos todas as tarefas.
Meu filho mais velho, o Dudu (Edouard), que morava e estudava em Madri, onde a situação estava fogo, me mandava notícias de lá o tempo todo. Por sorte, consegui que ele fosse para a casa da mãe no interior da França. Quando decidi parar, viajei uma semana na praia e fiquei trancado num condomínio com a Rô (Rosangela), os gêmeos (Antoine e Elise), que têm 17 meses, meus sogros e um cunhado.
Na volta, nos fechamos no apartamento. Nem meu sócio no Président, o Orlando (Leone), encontrei mais, mas falo com ele por telefone todos os dias. Sou defensor do confinamento. Somos só nós em casa. Não é nada fácil com dois bebês. Sorte que eles dormem bem.
Já nutria grande admiração pela Rô, e ficou ainda maior. Temos uma cumplicidade muito grande, redescobrimos isso. Dividimos todas as tarefas. Lavo o chão da cozinha, tiro o lixo, arrumo os quartos. Sou eu que faço a papinha dos bebês. Só saio se for realmente necessário, como para fazer compras num supermercado que tem ao lado de casa. Fui no último domingo à tarde, porque no sábado soube que estava muito cheio. Fiz minha máscara caseira, porque é melhor fazer e usar do que não usar.
O grande problema é que, nas raras vezes que estou na rua, as pessoas não entendem que não posso tirar foto. Para não parecer antipático, peço que façam selfies de longe. Sempre explico que não podemos ficar próximos. Quando volto, deixo os sapatos do lado de fora do apartamento, tiro a roupa, ponho para lavar e vou tomar banho.
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Quando reabrir, eu me pergunto se poderei fazer a mesma comida, clássica com um toque moderno, ou terei de fazer algo mais simples para poder sobreviver.
No Président, reduzi a equipe — os garçons estão de férias e os cozinheiros que podem trabalham em pequenos grupos. Agora estou desenvolvendo um programa de delivery em uma cozinha central, e não no restaurante. Faço pratos clássicos como boeuf bourguignon e blanquette de veau, além do meu pato na panela. Eu e meu sócio, porém, poderemos parar a qualquer momento se percebermos que não vale a pena correr o risco.
O Président era um sonho, a minha volta ao mundo da restauração. Quando reabrir, eu me pergunto se poderei fazer a mesma comida, clássica com um toque moderno, ou terei de fazer algo mais simples para poder sobreviver. É certo que será com um cardápio simplificado. Pode ser que recomece como Vice-Président.
Na TV, as coisas também estão paradas. Tinha gravado quatro episódios de Pesadelo na Cozinha, o que é pouco. Não sei quando a Band vai exibir, provavelmente no segundo semestre. Neste ano, começaríamos as gravações da nova temporada de amadores do MasterChef em maio. Agora, resta esperar o fim da quarentena.”
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