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Walfrido Warde, o amigo rico que é cabo eleitoral de Boulos nos Jardins

Advogado de grandes empresas ajuda candidato do PSOL a construir pontes com figurões do mundo jurídico, promove reuniões e dá ideias para o plano de governo

Por Pedro Carvalho
6 nov 2020, 06h00

Quando Walfrido Warde e Guilherme Boulos se cruzaram pela primeira vez, nos corredores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, no início dos anos 2000, não demorou a surgir uma amizade. Egressos da classe média paulistana e alunos da mesma graduação (filosofia), eles gostavam de debater os quiproquós da política e os dramas sociais do país. Após se formarem, tomaram caminhos diferentes: um se dedicou a esses dramas sociais; o outro, bem, aos dramas societários. Boulos, 38, renunciou a uma vida confortável na Pompeia para morar em ocupações de sem-teto. Há sete anos vive em uma casa no Campo Limpo, na Zona Sul. Na corrida eleitoral, o terceiro colocado nas pesquisas declarou um patrimônio de 579 reais e um automóvel Celta. Walfrido, 47, tinha um diploma anterior em direito pela USP e fundou a Warde Advogados, um renomado escritório na arena das brigas entre sócios de grandes empresas. Atuou em casos como a conturbada venda da ALL para a Rumo Logística, um negócio próximo a 6 bilhões de reais. A clientela inclui, ainda, algumas das maiores companhias dos Estados Unidos, China e Israel. Trabalha e mora nos Jardins, onde a firma ocupa 1 000 metros quadrados de um pomposo edifício da Alameda Itu. No quartel-general da elite paulistana, Walfrido é um eloquente apoiador do velho companheiro de curso, com quem manteve a amizade nesses anos. “Tenho um amor fraternal pelo Guilherme. O lugar onde me sinto mais à vontade é a casa dele. Vou lá comer churrasco, tomar cerveja e falar ‘groselha’ entre amigos”, ele conta.

Boulos também frequenta o apartamento de Warde, também de luxo, também espaçoso, no Jardim Paulista, onde esteve há poucas semanas para papear e jantar comida árabe — ambos são de famílias libanesas. Mas o advogado tem oferecido ao candidato do PSOL mais do que esfihas e coalhadas. Em tempos de disputa eleitoral, o amigo rico o ajuda a construir pontes com figurões do mundo jurídico, dá ideias para o plano de governo e, claro, uma forcinha do próprio bolso à campanha. “Vou doar 30 000 ou 40 000 reais”, diz. Warde organizou três reuniões recentes entre Boulos e pesos-pesados do direito na cidade. Duas delas, no escritório do colega Antônio Cláudio Mariz de Oliveira (ex-advogado de Michel Temer); a outra, uma videoconferência para mais de cinquenta convidados. Entre os presentes havia juízes, desembargadores e juristas, como Celso Antônio Bandeira de Mello e Fábio Comparato. “A receptividade é impressionante. Pessoas que sempre apoiaram a direita aplaudiram de pé o Guilherme”, relata Warde. “O Boulos não tem uma pauta antiempresas. Vai ter uma votação significativa nos Jardins.” Fluente em relações comerciais, ele também ajudou em propostas da campanha, como a ideia de revisar contratos ineficientes da prefeitura. “No serviço de tapa-buracos, por exemplo, a empresa recebe por tonelagem de massa asfáltica utilizada, o que provoca um desperdício brutal”, explica.

Warde diz que o apoio público não causou mais que curiosidade — e algumas provocações civilizadas — entre os clientes e sócios. “Os empresários são pragmáticos: o que importa é um trabalho bem-feito”, declara o sócio Leandro Daiello, que comandou a Polícia Federal de 2011 a 2017, nomeado na gestão Dilma Rousseff — o ex-ministro Valdir Simão (Planejamento, com Dilma) também entrou para o escritório. “Após conhecer o Boulos, percebi que tem boas ideias sobre segurança pública”, completa Daiello. Warde sabe que a exposição pode melindrar o empresariado. “Acho que 90% das coisas que faço no espectro público não trazem ganho à minha vida privada. Ao contrário, implicam risco. Mas é legal ter uma vida pública. Por que eu não posso ter isso?”, questiona.

No Rio de Janeiro, o PSOL ameaçou punir candidatos que receberam doações de figuras como Armínio Fraga e João Moreira Salles. Warde afirma que existem amplas diferenças no caso paulistano. “Sou amigo do Guilherme. E não sou o Armínio”, diz. Boulos alegou falta de agenda e não falou à reportagem. O PSOL-SP declara: “Sobre relações de amizade, o partido não tem nada a declarar. Sobre doações à campanha, não há, até o momento, registros de Walfrido Warde”.

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Publicado em VEJA São Paulo de 11 de novembro de 2020, edição nº 2712.

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