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“Fernando Haddad deixou a desejar em políticas na periferia”, diz Boulos

Pré-candidato a prefeito pelo PSOL pretende reverter programa de desestatização e atrelar cobrança do IPTU à renda do dono do imóvel

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 out 2020, 15h27 - Publicado em 31 jul 2020, 06h00

Qual avaliação o senhor faz da administração atual da cidade?

A gestão do Doria foi um dos maiores desastres da história da cidade. Ele usou a capital como trampolim para se tornar governador. Gosto do Bruno (Covas) como pessoa, sou solidário à doença dele, mas enquanto prefeito ficou na sombra do Doria. São Paulo está sem rumo, sem projeto.

E quanto às ações do atual prefeito contra o coronavírus?

Quando se opôs à política genocida do Bolsonaro, o Bruno foi bem. Mas, para um gestor, não basta falar para a população ficar em casa. Ele não é consultor de autoajuda e fracassou.

O que o senhor teria feito de diferente?

São Paulo tem 1.400 escolas municipais e elas poderiam ter virado moradias provisórias. Várias cidades do mundo destinaram hotéis para a população em situação de rua. Paris, Nova York e Londres fizeram isso. Entramos com uma ação no Ministério Público, que determinou a criação de 8.000 vagas, mas a gestão não criou nem 100.

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Por que a periferia, reduto histórico do petismo, virou as costas para Fernando Haddad nas eleições de 2016?

Haddad deixou a desejar em algumas políticas públicas na periferia. O investimento em saúde, muito a cargo das organizações sociais (OS), sem fazer a gestão direta, foi um dos fatores. O outro foram as políticas de moradia popular, que dependiam do Minha Casa Minha Vida. Por outro lado, houve avanços importantes, como a abertura da Avenida Paulista e as ciclovias.

Caso o senhor seja eleito, qual será sua política para as ciclovias?

Vamos fortalecer as ciclovias. Para deslocamentos enormes, elas são muito mais difíceis. Mas para deslocamentos locais, de casa até o metrô, precisam funcionar. A forma de a prefeitura estimular esse meio de transporte é ampliando as ciclovias.

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Tem meta?

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Fui indicado pré-candidato a prefeito há apenas uma semana (em 19 de julho). Quero fazer esse debate com a sociedade. Não quero meta arbitrária. Vamos debater com estudiosos, professores, com a população.

Como os aplicativos de transporte e entrega serão tratados pelo senhor?

Vou assumir a responsabilidade que São Paulo não assumiu. Aqui não pode ser o quintal de empresas de aplicativo. Elas botam um jovem da periferia para trabalhar doze horas por dia e ganhar 800 reais por mês. Governo tem de ser para defender pessoas, não o lucro.

Mas há muito motorista de aplicativo que ganha mais do que se trabalhasse com carteira assinada.

Espero que continuem ganhando. O problema é que vendem uma farsa, dizem que ele não é trabalhador, é empreendedor. Isso é uma canalhice. Trata-se de uma exploração do século XIX mascarada pela tecnologia do século XXI. Vamos botar um teto. Se as empresas levam 15%, 20% (de taxa), vamos botar um teto de 10%.

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Qual rumo o senhor daria ao atual programa de desestatização?

Nós vamos reverter tudo o que for possível e assumir a responsabilidade da prefeitura em administrar o patrimônio. Essa ideia de que a privatização torna a gestão mais eficiente é ilusória. Os paulistanos conhecem bem os pedágios do Sistema Anchieta-Imigrantes, cuja concessionária admitiu ter formado cartel e pago propina ao PSDB desde 1998. Gestão pública não é para dar lucro.

Como será seu plano de tarifa zero no transporte público? É viável?

Nossa proposta é primeiro propor aos desempregados e construir aos poucos a tarifa zero para todos. As grandes empresas fizeram do transporte uma verdadeira máfia, um negócio de amigos. São três ou quatro empresas que há décadas controlam o transporte, dão as cartas das licitações. Queremos municipalizar o transporte.

A ideia é recriar a antiga CMTC?

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Se eu falar isso, vão achar que estamos querendo um modelo de transporte que a cidade já superou. Se o formato for uma companhia municipal ou outras formas, queremos debater.

“O MTST nunca invadiu a casa de ninguém. Ao contrário, dá casa. É inaceitável que São Paulo tenha 25 000 pessoas morando na rua e 40 000 imóveis vazios no centro”

Guilherme Boulos

Outra proposta sua é cobrar mais IPTU em áreas mais nobres. Isso já não ocorre?

São Paulo já tem o IPTU progressivo, e eu quero aprimorá-lo. Há regiões muito pobres que precisam de isenção. Vamos cruzar os imóveis com a renda de seus proprietários. O cálculo do IPTU tem de levar em conta não só o bairro, mas os dados da Receita Federal, de patrimônios.

Tanto o IPTU progressivo quanto a tarifa zero foram tentados pela ex- prefeita Luiza Erundina, vice na sua chapa, mas naufragaram na Câmara. Por que daria certo com o senhor?

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A Erundina foi a melhor prefeita que São Paulo já teve. Ela governou quatro anos sem ter maioria um único dia na Câmara. Teve derrotas, mas conseguiu fazer muita coisa.

E se o senhor não obtiver maioria dos votos na Câmara, como vai ser?

A gente precisa mudar a Câmara, que hoje tem as portas abertas para interesses imobiliários. Quero ajudar a mudar esse perfil. Politica se faz com diálogo. Quero dialogar com a Câmara e com a sociedade.

Como as invasões de prédios por movimentos sociais serão tratadas em sua gestão?

O MTST nunca invadiu a casa de ninguém. Ao contrário, dá casa. O que o movimento social faz é denunciar uma situação ilegal. É inaceitável que uma cidade como São Paulo tenha 25.000 pessoas morando na rua e 40.000 imóveis vazios no centro. Os movimentos que lutam por moradias serão tratados como parceiros.

O terreno conhecido como Copa do Povo, em Itaquera, foi cedido ao MTST e deveria ter virado um conjunto habitacional. O que houve?

Aquilo é um verdadeiro absurdo. Quem comprou foi o governo federal. Um projeto aprovado no município, com alvará, para 2.600 moradias, mas simplesmente o governo não liberou o dinheiro para a obra.

Quem serão seus adversários: bolsonarismo, Covas, França, Tatto?

Tenho dois grandes objetivos: derrotar o bolsonarismo e a hegemonia dos tucanos. Os tucanos têm dois candidatos, o Bruno e o Márcio França, que foi vice do Alckmin e apoiou o Doria em 2016. Ele é, portanto, corresponsável pela atual gestão.

Dizem que França e Doria se odeiam.

Em briga de compadre sempre tem verdade. Eles podem ter se desentendido, mas fizeram parte do mesmo projeto. Além disso, Márcio França não é da cidade. Se perguntarem onde fica Perus, ele vai achar que é o nome de uma feira na Vila Madalena.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 05 de agosto de 2020, edição nº 2698.  

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