Candidatos ao governo de SP, Tarcísio e Haddad nacionalizam debate
Este é o primeiro debate entre os candidatos que disputarão o segundo turno na disputa estadual
Os candidatos ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) se se enfrentaram diretamente nesta segunda-feira (10) no primeiro debate após o primeiro turno das eleições, promovido pela Band. Como esperado, os dois transformaram a disputa estadual em uma discussão nacional: os nomes de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) foram citados diversas vezes, com os dois postulantes usando seus padrinhos políticos como exemplos do que pode ser feito no estado caso assumam o Palácio dos Bandeirantes.
O primeiro tema do debate foi impostos, quando Tarcísio exaltou a ação de Bolsonaro de reduzir o ICMS sobre combustíveis. O petista rebateu dizendo que o chefe do Executivo federal está “fazendo caridade com o chapéu alheio”, porque a medida diminui a arrecadação dos estados.
Depois, Tarcísio questionou Haddad sobre uma fala de Lula, que sugeriu que policiais não são gente, ao que o petista respondeu que o ex-presidente já havia pedido desculpas e citou falas negativas de Bolsonaro, como ter chamado a Covid-19 de “gripezinha” e ter “debochado de pessoas com falta de ar”.
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Em seguida, o assunto da segurança pública foi posto em pauta e Tarcísio voltou a repetir que vai retirar as câmeras dos uniformes dos policiais militares. “Se a gente for olhar a produtividade, a gente vai ver que a produtividade nos batalhões que estão com câmeras caiu. Eu estou preocupado com a segurança do cidadão porque a câmera não conseguiu trazer a segurança”, afirmou. Ele ainda defendeu a ampliação de acesso a armas, política adotada pelo atual presidente. “A arma sempre chegou ao bandido, agora está chegando ao cidadão de bem”.
Haddad, por outro lado, disse que não se pode “fechar os olhos para a ciência, para os dados que mostram que as câmeras funcionam”. Depois, questionou Tarcísio a opinião dele sobre vacinas.
Tarcísio usou boa parte de suas falas para defender Bolsonaro, acusou o adversário de usar “fake news” sobre falas do presidente e disse que a economia do País cresceu nos últimos anos. Ele ainda afirmou ser a favor da redução da maioridade penal e que a bancada de deputados federais aliados vai atuar no Congresso para mobilizar isso. Ele ainda prometeu “construir mais presídios para o semiaberto”.
Haddad prometeu construir 70 hospitais-dia em todo o estado de São Paulo e disse que o governo federal “simplesmente cruzou os braços durante dois anos ao invés de preparar o SUS para o pós-pandemia”. “Você fala de infraestrutura como se infraestrutura fosse asfalto, infraestrutura é UBS, hospital, é CEU, escola, universidade. Braços cruzados, o menor investimento do estado de São Paulo. E por que, por causa de uma briga boba. Governador e presidente precisam se entender por dever constitucional, como o Lula fez”, acrescentou.
Quando questionado sobre investimentos para o agronegócio no estado, o petista também aproveitou para alfinetar Bolsonaro, argumentando que “a mudança no regime de chuvas aqui em São Paulo tem a ver com o desmatamento da Amazônia e que no governo Bolsonaro, nós desmatamos uma Bélgica na Amazônia”. Sobre o mesmo tema, Tarcísio defendeu regularização fundiária e ambiental e ampliar o acesso ao crédito rural.
Em mais um momento de nacionalização, Haddad questionou Tarcísio sobre o orçamento secreto do Congresso Nacional e quanto o governo federal decidia os destinos dos recursos federais, ao que o postulante do Republicanos não respondeu diretamente. Ele afirmou que as emendas de relator “precisam de ajustes”, e destacou que o governo “não pode ficar só escravo do orçamento, por isso que a gente foi atrás da iniciativa privada”. Ele aproveitou para citar o projeto de privatização do Porto de Santos.
Haddad disse ser contra qualquer tipo de sigilo, e ao tocar no assunto de privatizações, se posicionou contra a privatização da companhia de saneamento básico, falando que essa medida aumentaria o valor da tarifa de água para a população.
Em outro momento, o petista provocou o adversário Tarcísio sobre ter trabalhado no governo Dilma Rousseff: “Eu trabalhei menos que você, eu trabalhei um ano, você trabalho quatro”. Tarcísio criticou: “Acho que você está preso ao passado, ao tempo que você era ministro. Agora você é candidato ao governo de São Paulo”.
Chegada
Ao chegarem no estúdio, os candidatos falaram que usarão a oportunidade para apresentar suas propostas. Tarcísio minimizou a importância do apoio de Rodrigo Garcia (PSDB), disse que ele não irá compor o seu governo e afirmou que não pretende manter nenhum secretário atual caso seja eleito. “No primeiro debate a gente sempre está mais nervoso, este é o quinto. Agora já estou mais a vontade, as propostas vão se consolidando, vai ser um debate propositivo, diferente do que foi o primeiro”, afirmou.
O candidato do Republicanos ainda destacou que não há favoritismo de Lula no plano nacional contra Bolsonaro, seu principal padrinho político, e se mostrou otimista. “Esse favoritismo já foi, ele acabou no domingo, no primeiro turno. Ele teve uma maioria eleitoral, mas não tem uma maioria política, e agora a gente vai começar a ver essa maioria política se transformando em maioria eleitoral. O jogo está absolutamente aberto e eu estou muito confiante que o presidente Bolsonaro vai ganhar a eleição”.
Haddad, por sua vez, se mostrou otimista em relação ao fato de ter ficado no segundo lugar no primeiro turno. “É a segunda vez que o PT vai para o segundo turno, isso só aconteceu uma única vez, em 2002. Então nós estamos muito satisfeitos até aqui, a diferença entre nós dois é pequena, superável. É uma disputa diferente e naturalmente, como no plano nacional o Bolsonaro está tentando alcançar o presidente Lula, aqui também. Faz parte do segundo turno duas posições se enfrentarem, essa questão do favoritismo começa hoje no debate”, falou. Ele ainda disse o debate do segundo turno tem mais “paridade” e que isso favorece o eleitor.
No primeiro turno, Tarcísio recebeu mais de 9 milhões de votos, que representaram 42,32% do total, enquanto Haddad somou mais de 8 milhões, 35,70% entre os votos válidos. Independente de quem vença a eleição, será a primeira vez em 28 anos que o estado de São Paulo não será governador por um político do PSDB.
Na próxima sexta-feira (14), os dois participam de debate promovido por VEJA, SBT, CNN Brasil, Estadão, Terra e Nova Brasil FM, às 22h30. No dia 17 de outubro, os candidatos participarão do Roda Viva, da TV Cultura. Já no dia 27, será realizado o debate da TV Globo.