“Tarcísio mentiu”, diz presidente do Sindicato dos Metroviários
Entidade decidiu em assembleia continuar a greve mesmo após decisão de Justiça pela volta ao trabalho; estado diz que sindicato descumpriu acordo
Em entrevista na tarde desta quinta-feira (23), a presidente do Sindicato dos Metrovários, Camila Lisboa afirmou que os metroviários continuarão a greve mesmo após a determinação da Justiça para volta ao trabalho . “O governador Tarcísio [Tarcísio de Freitas, do Republicanos] mentiu para a imprensa, para a população e metroviário”, afirmou. Em nota emitida quase quatro horas depois da declaração da dirigente, a assessoria de Tarcísio informou que foi o sindicato quem descumpriu o acordo (leia ao final).
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A greve paralisou totalmente a operação das linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 15-Prata. As linhas 4-Amarela e 5-Lilás continuaram operando normalmente, já que são operadas por consórcios cujos trabalhadores não são vinculados ao Sindicato dos Metroviários. As linhas de trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) também operam normalmente. A greve levou a lotação dos ônibus e trânsito de mais de 800 km na capital.
A dirigente sindical afirmou que os metroviários estavam em negociação com o governo estadual desde o início do ano principalmente sobre o abone referente ao PLR (Participação de Lucros e Resultados), que, segundo ela, não é pago há três anos, e ainda a contratação de mais efetivo. Porém, ela diz que as tratativas pioraram no último mês, com o Metrô negando qualquer possibilidade de acordo.
Ela disse que a categoria aceitou, em assembleia realizada das 0h30 às 2h da madrugada desta quinta-feira, trabalhar com todo o efetivo desde que houvesse catraca livre. Por volta das 8h, ela informou ter recebido uma carta (leia íntegra abaixo) do presidente do Metrô, Paulo Menezes Figueiredo, dizendo que estava autorizada a catraca livre. “O Metrô não faria isso se não tivesse a autorização do governador”, afirmou.
Camila lembrou ainda que o próprio governo do estado fez uma postagem em suas redes sociais dizendo que haveria catraca livre. “Nosso objetivo não é prejudicar a população, mas lutar pelos nossos direitos”, afirmou. “Se a cidade de São Paulo está um caos o responsável por isso é Tarcísio de Freitas”, disse.
🚨 AGORA: O Metrô comunicou ao Sindicato dos Metroviários a liberação do funcionamento do sistema nesta quinta-feira (23) com liberação total das catracas (catraca livre, entrada gratuita), de forma a não prejudicar ainda mais a população que depende do transporte.
— Governo de S. Paulo (@governosp) March 23, 2023
Ela disse que ligou às 12h30 para Paulo Menezes dizendo que todos os funcionários já estavam a postos para trabalharem. Ela diz que o presidente do Metrô informou que dependia de uma liberação. Camila afirma que foi pega de surpresa com essa determinação judicial, já que contrariou um acordo que havia sido firmado entre o governo do estado e a categoria.
Logo depois do anúncio da decisão judicial, ela diz que cerca de 2 000 metroviários participaram de uma nova assembleia e 80% deles decidiram por continuar a paralisação.
Uma nova reunião na Justiça trabalhista está prevista para esta quinta-feira, às 17h.
Resposta
Em nota encaminhada no final da tarde desta quinta-feira, a assessoria do governador Tarcísio de Freitas afirma que desde a noite de quarta-feira o Metrô buscou alternativas à greve para evitar transtornos à população.
“Nas primeiras horas do dia, o Metrô comunicou ao Sindicato dos Metroviários a autorização para o funcionamento do sistema com liberação total das catracas (catraca livre, entrada gratuita), com o retorno imediato de 100% dos metroviários para garantir a segurança dos passageiros. Esta liberação era uma condição do Sindicato para o retorno da operação, atendida pelo Metrô e não cumprida pelos metroviários”, afirma a nota emitida pelo Palácio dos Bandeirantes.
Segundo o texto, o Metrô “tentou todas as formas de negociação, inclusive com a concessão de benefícios como o pagamento de progressões salariais”. “A empresa também cumpre integralmente com o acordo coletivo de trabalho e as leis trabalhistas, e considera incompreensível a postura do Sindicato dos Metroviários que acabou punindo o cidadão que depende do transporte público para ir ao seu trabalho, com impactos diretos em serviços como saúde e segurança, por exemplo”, informa a nota.