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Conheça a trajetória de sucesso de Miled Khoury, dono da Sawary Jeans

Proprietário de uma das maiores fabricantes de calças do país, o empresário libanês começou a diversifcar seus negócios com a compra de casas noturnas e restaurantes

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 17h21 - Publicado em 2 Maio 2014, 02h00

Muvuca de comerciantes brasileiros vindos de estados como Bahia, Ceará, Paraná e Rio Grande do Sul carregando carrinhos de supermercado cheios de calças. Por dia, cerca de 300 clientes passam pelo local em busca das mercadorias organizadas em prateleiras cheias de pacotes com onze peças em numerações diversas, que vão do 36 ao 44.

Os modelos possuem cores como verde-limão, laranja-cintilante e a zulbic, entre outras. No acabamento, levam estampas de cobra, zebra e onça, algumas trabalhadas com balangandãs que incluem aplicações de resina, strass nos bolsos, bojo no bumbum e fivelas que lembram ferraduras ornamentadas com brilho. Ao todo, são mais de 2 000 produtos diferentes disponíveis na loja própria da Sawary, no Brás.

A empresa especializada no mercado popular é hoje uma das maiores fabricantes de jeans do país — só perde para a Oppnus, do Paraná, que comercializa 1,2 milhão de jeans por mês. O ponto de vendas da marca no centro tem 200 funcionários e se divide em 6 000 metros quadrados, sendo três dos quatro andares exclusivos para estoque. No local são comercializadas por mês cerca de 500 000 calças.

 

Para efeito de comparação, no mesmo período a Colcci vende 75 000 e a Iódice, 17 000. Alguns clientes atacadistas, que desembolsam 48 reais por uma Sawary, gastam até 75 000 reais em uma visita. No varejo, os consumidores podem encontrar as peças por uma média de 100 reais em redes como Marisa, C&A, Riachuelo e Walmart. Além dos preços baixos, a Sawary é conhecida pelo ritmo frenético de lançamentos. Todos os dias, chegam à loja do Brás pelo menos trinta modelos de calça.

A pessoa por trás desse fenômeno é um empresário que fugiu da guerra civil de seu país natal aos 20 anos de idade para escapar do Exército, chegou a São Paulo sem falar uma palavra de português e hoje é dono — ao lado de dois irmãos — de um império do setor de confecção que fatura 24 milhões de reais por mês.

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Sawary Jeans
Sawary Jeans ()

O libanês Miled El Khoury desembarcou no ramo por acidente. Ele veio ao Brasil para trabalhar como balconista de uma atacadista de roupas infantis, a Widor, tocada por Antoine e Boutros Khoury, seus primos em primeiro grau. “Eu atendia as pessoas sabendo apenas falar ‘bom dia’”, lembra ele, aos 42 anos. No mesmo negócio trabalhava também um irmão de Miled, Antoun.

Tempos depois, Antoine e Antoun saíram de lá para abrir a Bivik, confecção de jeans do Brás conhecida pelos preços baixos e que vende atualmente 400 000 peças por mês. Em 1995, convidado por Miled, Antoun deixou a sociedade para abrir ao seu lado a Sawary — Gerges, um terceiro irmão, também faz parte da administração.

Sawary Jeans
Sawary Jeans ()

Desde o começo, o foco eram calças fashion para conquistar as consumidoras dispostas a mostrar a ascensão social usando roupas chamativas. “Vendíamos 1 000 peças nos primeiros meses”, calcula Miled. Para aumentar o volume de negócios, passou a investir em marketing. “Até então, nenhuma empresa do Brás gastava um tostão com isso.” Ele patrocinou letreiros em jogos da seleção brasileira e do Corinthians.

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Nos anos 80 e 90, o mercado de jeans nacional era dominado pela trinca composta por Zoomp, Ellus e Forum. “Chegava a vender 1,8 milhão de peças por ano”, afirma Renato Kherlakian, fundador da extinta Zoomp. “A Sawary se apropriou de um vazio de mercado, produzindo para a ascendente classe C, tendo como apelo a novidade e a sensualidade, o que pode ser conhecido como um estilo bregachique”, define Kherlakian.

Sawary Jeans
Sawary Jeans ()

Além de gastar com propaganda, Miled preocupou-se em criar produtos diferentes dos da concorrência. Surgiu assim, em 2008, um dos maiores sucessos da grife, a calça intitulada “levanta bumbum”, cuja modelagem tem quatro penses que formam um volume na região e promete dar uma segurada no derrière. “Nós patenteamos a ideia, mas não adiantou porque todo o comércio do Brás nos copiou”, critica Antoun. “É sinal de que estamos fazendo sucesso”, completa Miled.

Mas os sócios estão longe de ser os puritanos da criação. Com apenas cinco estilistas, a Sawary também tem suas fontes de “inspiração”. “Quando viajo para fora do Brasil, compro uma calça da Diesel por 1 500 dólares, trago para a fábrica e faço uma igual”, admite Gerges. Em seis anos, 2,5 milhões de jeans da tal “levanta bumbum” foram comercializados. Em 2012, criariam uma outra novidade para quem sonha em ficar popozuda sem os recursos da academia ou da cirurgia plástica: a calça com bojo de bumbum.

Sawary Jeans Tokyo Rose
Sawary Jeans Tokyo Rose ()
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A obsessão por formas e volumes não parou. Na semana passada, por exemplo, a marca lançou modelo com enchimento de quadris. Embora só contratem mulheres lindas e voluptuosas como garotas-propaganda (Sabrina Sato está no posto desde 2008), os donos da confecção refutam a ideia de que a marca é a queridinha das periguetes. “Parte de nossas clientes é ousada, gosta de roupas que marcam o corpo e de aplicação de brilho”, afirma Gerges. “Mas também temos calças lisas e de cores sóbrias.”

Sawary Jeans Sabrina Sato
Sawary Jeans Sabrina Sato ()

Fora do universo do jeans, a confecção lançou neste ano sua linha de roupas para academias obedecendo ao padrão de brilhos, estampas e roupas agarradas. Ela também possui uma linha de malharia e, até o fim do ano, promete se aventurar pelo segmento de roupas para crianças e acessórios. Para diversificar e principalmente fazer contatos, Miled decidiu investir num ramo de negócios que não tem nada a ver com confecções.

 Depois de uma incursão pelo Buddha-Bar, que ficava na Daslu, há dois anos ele se tornou sócio das boates Disco, com 10% das cotas, e Provocateur (3,5%). Curiosamente, ao contrário do que ocorre na Sawary, são casas voltadas para o público abonado, que não veste suas calças com enchimento, e paga 2 000 reais por uma garrafa de champanhe.

Sawary Jeans Disco Club Itaim Bibi
Sawary Jeans Disco Club Itaim Bibi ()
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No ano passado, o passo foi mais largo na diversificação de negócios. Ele investiu 900 000 reais para abrir o restaurante de culinária japonesa Tokyo Rose, no Itaim. “Tem gente que vê a noite apenas como diversão”, diz. “Eu invisto para fazer contatos, aumentar meu círculo social e levar o nome da minha marca de jeans para um público diferente.”

O empresário Marcos Maria, seu sócio na Disco, afirma que Miled faz bom proveito da empreitada. “Ele aproveita a casa para atender bem um cliente e para fazer networking.” Dos três negócios do segmento da noite, o que mais lhe toma tempo é o restaurante. Dono de 39% de suas cotas, ele sonha criar filiais do Tokyo Rose a partir do ano que vem.

Sawary Jeans Tokyo Rose
Sawary Jeans Tokyo Rose ()

Miled é o que fala melhor a língua portuguesa entre os seus três irmãos que vieram ao Brasil (são seis no total), com pouquíssimo sotaque, graças à tutela da mulher, a advogada Gisele, que, desde que começou a namorar o empresário, passou a corrigi-lo. “Nós nos conhecemos no trânsito”, lembra ela. “Estava indo com uma amiga para um barzinho, ele me viu dentro do carro, na Avenida Faria Lima, e buzinou para puxar papo.” O namoro engatou três meses depois da paquera automotiva. “Casamos em 2004, no Líbano”, conta ela, que, em contrapartida, fez aulas para aprender árabe. “Só do Brasil, foram uns 200 convidados.”

O casal mantém uma residência na cidade de Aarjes, no norte do Líbano. Lá, possui uma fazenda de oliveiras e produz azeite. Os dois viajam para o local pelo menos duas vezes por ano junto dos três filhos, com idade entre 1 e 8 anos. A família mora num apartamento de 400 metros quadrados na Zona Sul. Miled e seus irmãos não esquecem a origem do clã.

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Entre outras ações, ajudaram a patrocinar a reforma da Catedral Nossa Senhora do Líbano, na Liberdade. “Já sabia da atuação dele na comunidade libanesa antes de assumir o cargo de cônsul no Brasil”, diz Kabalan Frangieh. “Ele está envolvido nas nossas causas, mas não é o tipo de pessoa que só conversa com imigrante. Tem contato em todas as áreas.”

Sawary Jeans Disco Club Itaim Bibi
Sawary Jeans Disco Club Itaim Bibi ()

Embora não seja filiado a nenhum partido, nas últimas eleições municipais Miled apoiou o candidato Gabriel Chalita, também integrante da colônia libanesa. Entre seus 500 funcionários, tem fama de bravo. Do gerente-geral à faxineira, todo mundo tem de bater ponto. O expediente começa às 7h30. Mesmo dentro da loja, os irmãos Khoury circulam sob a proteção de seguranças à paisana. Católico praticante, Miled tem uma rotina que não parece combinar com o perfil de um dono de boate. Quando está em São Paulo nos fins de semana, costuma ir à missa. Também viaja para o Guarujá com frequência, onde tem casa.

Seus filhos aprendem árabe e estudam em colégios católicos. “Eles falam pelo Skype com minha mãe, que mora no Líbano.” Uma foto aérea de sua residência no Oriente Médio enfeita a parede de seu escritório no Brás. O empresário se divide entre a loja e a fábrica. Nem sempre é ele quem abre a confecção, mas todo dia dá expediente por lá. No trabalho, há uma cozinha com dois profissionais que fazem seu almoço e o de seus irmãos. “Nós comíamos em restaurantes por quilo aqui da região, mas são muito ruins.”

Vaidoso, quase sempre veste os modelos de sua marca. Quando quer uma calça sóbria para usar com terno, porém, apela a peças da Zegna e da Gucci. Nessas horas, nem o rei do jeans popular resiste a um luxo.

Sawary Jeans
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