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Champanhe, babá de Ferrari e memes: relembre o Rei do Camarote

Sete anos depois, conheça os detalhes da apuração da matéria polêmica, que rendeu um prêmio do YouTube em 2013

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
25 set 2020, 04h40

Lugar de repórter é na rua, e por “rua” entende-se todo e qualquer ambiente fora da redação. A partir de 2012, a novela Avenida Brasil fez um tremendo sucesso de crítica e de audiência, e entre os ótimos personagens havia a periguete assumida Suellen, vivida por Isis Valverde. Propus escrever um raio x das meninas que não queriam saber de namorar, gostavam mesmo de beijar dez caras por fim de semana. Empoderamento e autonomia, quando essas palavras não estavam na moda. Logo na primeira casa noturna onde fui investigar o assunto, uma garota belíssima me instigou. Depois de duas doses de vodca com energético, ela foi direto ao ponto: “Acho legal fazer matéria conosco, mas quem nos bancam são os caras dos camarotes: nós não pagamos para beber e sequer pegamos fila na entrada. Tudo por conta DELES”.

Batido o ponto final da reportagem “Periguetes, sim, e daí?”, passei a apurar com baladeiros, hostess, promoters e donos de casas noturnas quais eram os homens que mais gastavam nos cercadinhos VIPs. Os valores impactam ontem e hoje. Vários deles torravam mais de 150.000 reais por mês com baladas, mas nenhum com a força e empenho de Alexander de Almeida. Alexandre quem? O sujeito era anônimo. Ainda.

Eu e ele nos encontramos pela primeira vez na extinta Pink Elephant, famosa balada por colocar foguinhos na champanhe. Almeida havia fechado três camarotes para reunir amigos, amigos de amigos e desconhecidos em uma quinta-feira trivial. Bancou champanhe Veuve Clicquot e vodca Cîroc à vontade para todos. O cantor Naldo, daquele refrão “Uísque ou água de coco”, foi ao camarote de Almeida, que chegou à Pink pilotando sua Ferrari 458, ano 2012, e com dois seguranças — ambos ficaram do lado de fora como cães de guarda do veículo, para ninguém encostar nem chegar perto. No mundo das boates de luxo, essa função tem nome: “babá de Ferrari”.

Após presenciar esse show de ostentação, troquei telefone com Alexander e, dois dias depois, almoçamos juntos no Outback do Shopping Anália Franco, bem perto de seu apartamento com mais de 1.000 metros quadrados. Expliquei a pauta: contar os hábitos de consumo e de comportamento de quem esbanja nas boates de São Paulo. Ele adorou. “Tô dentro!”. Além da Pink Elephant, estive com ele na Provocateure Ballroom — nesta última, onde foram gravadas algumas cenas do vídeo que, entre outras pérolas, mostra Alexander brincando com uma máquina de cartão. Naquela noitada, Almeida pediu sessenta garrafas de champanhe Perrier-Jouet, cinco garrafas de champanhe Cristal, seis garrafas de Absolut Flex e dezenas de latas de Red Bull. A conta foi de 50.000 reais.

Alexander de Almeida e a capa de 2013: apuração obsessiva para contar como eram as noites cheias de bebida que pisca (Mario Rodrigues/Veja SP)

A repercussão da matéria de capa e vídeo foi inédita na história da VEJA SÃO PAULO. Ainda que a reportagem mostrasse outros homens perdulários em boates, o termo “Rei do Camarote” virou sinônimo de Almeida. Ele se tornou a majestade. Em um momento inicial, o perfilado ficou animado com a repercussão — abriu conta no Instagram e me consultou se deveria dar mais entrevistas. Mas aí vieram as críticas, ataques de haters e memes. O termo “Rei do Camarote” foi o mais buscado no Google naquela semana de novembro de 2013. Vídeos com paródias com os “Dez Mandamentos do Rei do Camarote” pipocaram no YouTube com a velocidade dos “muy amigos” que lotavam os camarotes de Almeida. “Fiquei assustado e com medo de perder clientes, de gente que poderia me julgar, sendo que, ao gastar em baladas, eu estou movimentando a economia e empregando gente”, me disse ele na época. O vídeo de VEJA SÃO PAULO foi o quarto mais visto do Brasil em 2013, e ganhou um prêmio do YouTube. Hoje, o vídeo original soma 9,3 milhões de visualizações.

Aquele momento era o começo do que entendemos como a era da pós-verdade e da dinâmica de rede social, em que mensagens de ódio ganham projeção e os algoritmos pautam o que vemos. Especulou-se no Twitter que o personagem era fake. Vídeos analisaram quão “inverídica” era a história do Rei do Camarote. Uma tremenda bobagem. Além da visita de campo, no caso as baladas em si, a reportagem consumiu mais de três meses para poder checar e investigar a origem do dinheiro de cada um dos personagens. Saber de suas empresas, verificar a propriedade dos carros com os quais eles circulavam. Falar de “bebida que pisca” pode soar engraçado, mas a régua de apuração era a mesma de sempre: obsessiva. Almeida é dono de uma grande empresa despachante, especializada em administrar para alguns bancos a frota de veículos recuperados de pessoas inadimplentes.

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Passado o susto do enorme impacto da reportagem, algo que levou mais de um ano, o Rei do Camarote retomou seu comportamento padrão. Postava fotos em cercadinhos VIPs em Carnaval, em suítes de hotéis cinco estrelas e em viagens internacionais — ele adora Dubai e Bariloche. Almeida apareceu no noticiário quando chegou a cogitar se candidatar a vereador nas eleições de 2016, em São Paulo. Tirou a ideia da cabeça. Os tempos de ostentação pública ficaram no passado.

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 30 de setembro de 2020, edição nº 2706. 

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