Rapper promove o funk que ostenta a educação em escolas da periferia

Conhecido como Lemaestro, o músico Alex dos Santos já visitou mais de 100 colégios paulistas e cantou sobre a importância do estudo para quase 300 000 jovens

Por Aretha Yarak
Atualizado em 1 jun 2017, 16h57 - Publicado em 11 abr 2015, 00h00
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lemaestro-rapper-alex (Mario Rodrigues/)
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Nascido e criado no bairro de Cidade Kemel, em Poá, município da Grande São Paulo vizinho ao distrito do Itaim Paulista, no extremo da Zona Leste, o rapper Alex dos Santos, de 27 anos, é o caçula de uma família marcada pelo consumo de drogas e pelo envolvimento com o crime. Na infância, nos anos 90, acostumou-se a ver policiais armados invadir o quintal da casa da avó, onde brincava com primos, à procura de três tios, à época ladrões de banco.

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Seu pai sofre com o alcoolismo e os dois irmãos mais velhos são ex-viciados em cocaína. Ele próprio foi usuário frequente da droga a partir dos 16 anos de idade, principalmente em noites de balada na região. “Eram 10 gramas por dia, no mínimo”, recorda. Essa vida durou oito anos e só terminou no fim de 2011, quando se internou por três meses em uma clínica. Nesse período, escreveu sua primeira música. A letra resumia o drama pessoal e sensibilizou pacientes que passavam pela mesma situação. “Percebi que poderia ajudar outras pessoas fazendo algo de que gosto”, conta.

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Assim, em fevereiro de 2013, um ano após concluir seu tratamento, passou a levar o hip-hop a colégios da periferia. Mas, no lugar de estrofes sobre carrões e outros artigos de luxo, marca registrada de muitos artistas ligados ao funk, cria rimas a respeito da importância de frequentar o colégio. “Minha ostentação é o estudo. Quero mostrar que só isso pode ajudar alguém a ganhar um dinheiro digno”, diz. Batizada de “rap e funk da educação”, a batida de Lemaestro, seu apelido no meio, já foi ouvida por cerca de 300 000 jovens de 100 escolas da Grande SãoPaulo, como as estaduais Doutor José Eduardo Vieira Raduan, em Ferraz de Vasconcelos, e Américo Franco, em Poá.

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As apresentações ocorrem por meio de dois projetos, o Show de Inspiração e o MCs pela Educação, que são braço do Instituto Gerando Falcões, no qual atua como coordenador de arte e cultura. São cinco eventos por semana, com duração média de uma hora e meia, no pátio ou na quadra das instituições de ensino. A agenda está lotada até junho e há mais de dez colégios na fila de espera para o segundo semestre. A iniciativa viajou também para municípios do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.

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Além derealizar os shows, ele ajuda estudantes a iniciar “carreira solo”.Entre os frutos desse trabalho, está um CD produzido em novembro de 2013 por alunos da Escola Estadual Professora Lacy Lenski Lopes, no Jardim América, em Poá. Até agosto, ele planeja ainda lançar o primeiro álbum próprio, batizado de Escolhas Mudam Histórias. “Quero usar minhas canções para ajudar as pessoas”, afirma.

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Em paralelo com a música, Lemaestro mantém um programa ligado ao esporte chamado Falcões do Skate. As aulas ocorrem nas manhãs de domingo, também na escola Lacy Lenski Lopes — há quarenta vagas disponíveis para crianças e adolescentes entre 8 e 20 anos. A modalidade surgiu em sua vida na infância e ele chegou a competir com o apoio de patrocinadores. O sonho de tornar-se um atleta de elite foi interrompido aos 16 anos, quando sofreu uma lesão.

Sem ajuda financeira para bancar a recuperação, teve de abandonar o plano. Durante esses encontros com os jovens, o rapper aproveita para prestar orientação profissional e oferecer outros conselhos, até mediando conflitos típicos da idade. “Eu me tornei referência e muitos pedem ajuda.” Sua influência com os garotos é tamanha que, em janeiro de 2014, acabou sendo escolhido pelo Global Shapers, uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial, como um dos dezessete paulistas de até 30 anos com potencial para mudar o mundo.

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O tom da sala de aula

Alguns trechos de letras das canções escritas pelo artista

OSTENTANDO EDUCAÇÃO: Armado com lápis, borracha e caderno na mão / Progresso é inevitável lendo livro bom / Atencioso ao professor não vacila, não / Vai ter futuro promissor estudando de montão / Quem não soma com a ideia vacila grandão, mete marra quando tá com vários beberrão / Eu quero ver se é zica mesmo resolvendo a fração, na matemática tomar bomba nunca, não / No português a sua escrita ser de um campeão, em todas matérias dedicar devida atenção

REVOLUÇÃO PACÍFICA: Proposta interessante ditador a você, / não tente me comprar, eu não vou me vender. / Prevalecer nossa coragem, inteligência e pesquisa. / Sair da alienação, estudar e ir pra cima. / Não troco a salvação por prato de lentilha. / Não moldo o caráter segundo suas mentiras. / Reto, integro, vivo é verídico / Não posso enfraquecer na minha essência eu digo.

ESTUDANDO DE MONTÃO: Rapidim como raio e trovão, presto atenção na lição, não vou moscar na missão, que venha mais ambição. / Amanhã vou ser patrão de quem me tira, / sempre o primeiro da lista, estudando cê não acredita eu sonho grande porque eu vou. / Vou, vou estudando de montão, ostentando educação, ostentando eu vou / Vou, vou, o diploma é meu cifrão, ostentando educação, ostentando eu vou.

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