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Associações pedem e prefeitura acata: Praça do Pôr do Sol começa a ser cercada

Gestão municipal coloca alambrados na região a R$ 650 000; urbanista defende que instalação de grades não é solução

Por Vinicius Tamamoto
Atualizado em 11 fev 2021, 13h38 - Publicado em 5 fev 2021, 13h17

Depois de muita gritaria de associações de moradores, a prefeitura de São Paulo cedeu e começou a instalar um alambrado em torno da Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiro, popularmente conhecida como Praça Pôr do Sol, em Pinheiros. O custo total de mais uma obra aos moldes ‘não no meu quintal’ é de R$ 652.953,78.

O pedido foi feito pela Associação Amigos do Alto de Pinheiros (SAAP) e pela Associação de Moradores de City Boaçava. “Deixou de ser uma praça de bairro, tem um fluxo muito grande de gente que vai não só para assistir ao pôr do sol, mas que fica a noite inteira ali”, critica Marcia Kalvon Woods, publicitária e presidente voluntária da SAAP. 

A transformação do cenário bucólico de cerca de 28 000 metros quadrados (o nome oficial é Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiro) usado por poucos moradores da região em pico de badalação para jovens de outras partes da cidade se deu a partir da Copa do Mundo de 2014. O evento levava milhares de pessoas à Vila Madalena em dias de jogos até que o grande público descobriu a idílica praça. Foi-se o sossego de quem antes desfrutava um raro crepúsculo — quase privado — na cidade mais populosa do país.

Praça do Pôr do Sol antes dos tapumes
Antes e depois: praça aberta “descoberta” na Copa e, abaixo, já com tapumes (Rogério Pallatta/Veja SP)

Desde então, as associações reclamam dos frequentadores. “Ficam ambulantes irregulares vendendo bebidas alcoólicas, barulho, uso de drogas, violência, depredação e muito lixo. A gente observa questões sérias de infrações com lei, de violência”, queixa-se Marcia. Em outubro de 2017, a prefeitura instalou um posto fixo de vigilância no local. Houve ainda projeto de iluminação e instalação de câmeras. Em outra obra mais recente, de 2019, a prefeitura gastou 350 000 reais. “Tem todo um tratamento diferenciado pelo município. Melhorou, mas não resolveu nosso problema”, afirma a presidente da associação.

Desde que o local foi descoberto por jovens de outras partes da cidade, as associações se mostram preocupadas. Woods diz que houve mobilização para aumentar a iluminação e foi feita a instalação de câmeras de segurança, além de contratação de vigia. “Melhorou, mas não resolveu nosso problema”, reclama.

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Praça Pôr do Sol, em Pinheiros: cercamento após reclamação de associações

Praça Pôr do Sol, em Pinheiros: cercamento após reclamação de associações

Cercar é solução? 

A “longa batalha”, como diz Woods, culminou no cercamento da área verde, o que é rechaçado por especialistas. “Em uma cidade como São Paulo, onde espaços públicos são tão escassos, é positivo que estejam usando a praça”, diz o urbanista Anthony Ling. “Se há lixo e criminalidade, a prefeitura deveria fiscalizar como qualquer outra área da cidade”, argumenta.

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O debate sobre cercar espaços é recorrente em grandes cidades, como escreveu Ling em artigo publicado no site Caos Planejado. No texto, o urbanista afirma que cercar um espaço público não aumenta a segurança da cidade, apenas desloca a violência para outro local e, possivelmente, pode aumentá-la, criando zonas ausentes de ‘olhos da rua’.

Woods, da SAAP, diz que compreende e concorda com a visão de urbanistas contrários ao gradeamento. “Queríamos ela linda, aberta. Mas a gente tem que ver a evolução da cidade, a evolução do uso”, argumenta.

Para Ling, um dos principais problemas é exatamente a dificuldade de poucos moradores privilegiados aceitarem as mudanças ao seu redor. “Acho que tem pessoas em uma boa posição que gostariam que a cidade não crescesse, não mudasse. Mas, como sabemos, isso não é e nunca será uma opção. A vida em cidade requer um certo desprendimento para aceitar a transformação ocorrendo ao seu redor.”

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“Quem busca uma vida pacata em meio ao verde sempre terá essa opção à sua disposição, na zona rural ou distante do centro urbano”, afirma ele, que defende que a região deveria ser mais adensada.

Em agosto de 2020, reportagem da Vejinha mostrou que, no Alto de Pinheiros, onde moram 43 000 paulistanos, existem dois parques e 53 praças, mais do que têm Campo Limpo, Capão Redondo e Vila Andrade somados, onde vivem 607 000 pessoas.

Praça Pôr do Sol, em Pinheiros: cercamento após reclamação de associações
Praça Pôr do Sol, em Pinheiros: cercamento após reclamação de associações (Rogério Pallata/Veja SP)
Praça Por do Sol com tapumes
Praça cercada: tapumes que isolam local serão substituídos por alambrados (Rogério Pallatta/Veja SP)

O que diz a prefeitura

Em nota, a administração municipal disse que a iniciativa irá facilitar o controle de pessoas para não causar aglomeração durante a pandemia. No pós-pandemia, a obra irá atuar para a conservação do local, “que contém características de parque e recebe grande quantidade de frequentadores”.

De acordo com a gestão Covas, os horários de fechamento e abertura do local, assim como sua capacidade, estão em fase de estudos. “Foram instalados alambrados em vez de grades, por ser mais econômico”, diz a prefeitura.

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Publicado em VEJA São Paulo de 17 de fevereiro de 2021, edição nº 2725

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