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Playcenter sofre com histórico de acidentes

O episódio em que oito visitantes foram arremessados de uma altura de 7 metros é o mais recente da lista de problemas responsáveis pela decadência do parque

Por Daniel Salles
Atualizado em 29 dez 2016, 13h52 - Publicado em 8 abr 2011, 22h01

O acidente no Playcenter no último domingo (3) é de provocar calafrios mesmo em quem nunca sentiu medo de se aventurar em brinquedos radicais de parques de diversão. Um pouco antes das 6 da tarde, 32 pessoas chacoalhavam em uma geringonça gigante chamada Double Shock, que sobe a até 12 metros do chão e gira verticalmente, como um pêndulo. Em uma das primeiras voltas, porém, uma das quatro travas de segurança se soltou, arremessando oito visitantes de uma altura de 7 metros. Adriana Barros, de 12 anos, que teve lesões na região do abdômen, passou por uma cirurgia para a retirada do baço. Daniele Aparecida Pansarin, 30 anos, quebrou uma perna e Susana de Souza, 20, deslocou o braço. Fabio Lima Pereira, 24, fraturou a mão e foi liberado no próprio domingo, mas sentiu náuseas e tontura dois dias depois. O mesmo aconteceu com Ana Paula Souza, 27, que voltou ao hospital com fortes dores de cabeça. Até a última quinta (7), os cinco seguiam internados (as outras vítimas não foram hospitalizadas e passam bem).

O caso, registrado no 23º Distrito Policial, está sendo investigado pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil. Horas antes da queda, um operador do equipamento relatou uma pane à equipe de manutenção. Momentos depois de uma inspeção realizada por um engenheiro do parque, o Double Shock foi liberado. “Assumo toda a responsabilidade por essa tragédia”, afirma o fundador do parque, Marcelo Gutglas. “Sabemos que algumas pessoas poderão ter medo de nos visitar daqui para a frente e, por isso, estamos contratando uma empresa especializada para atestar a segurança de todos os nossos brinquedos.”

+ Confira a entrevista exclusiva com Marcelo Gutglas, dono e fundador do Playcenter

O episódio com o Double Shock golpeou o Playcenter em um momento crítico. Em setembro, um dos dois trenzinhos que se alternam na montanha-russa Looping Star não conseguiu frear e se chocou com o outro, deixando um saldo de dezesseis feridos — a maior parte deles com pouco mais de 10 anos de idade. Um garoto quebrou o nariz e um segundo, o maxilar. O defeito no equipamento, desde então interditado, ainda não foi explicado. Suspeita-se que tenha sido motivado por uma pane elétrica.

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As falhas com o Double Shock e o Looping Star não foram as únicas registradas na história do complexo, embora as anteriores tenham acontecido há um bom tempo. Em janeiro de 1995, um menino de 11 anos despencou de 13 metros de altura de um brinquedo apelidado de Space Loop, que simula “loopings” de avião. Ele quebrou o braço e o fêmur e sofreu traumatismo craniano porque a trava de segurança havia se soltado. Outro episódio grave é muito mais antigo. Em março de 1980, quatro garotos, com cerca de 12 anos, espatifaram-se no chão com um dos vagões da montanha-russa, que descarrilou no fim do percurso. Um deles fraturou a bacia. Nos acidentes recentes, chama atenção o curto período que separa um do outro, sinal de que algo ali não anda bem.

Não é de hoje que o Playcenter enfrenta dificuldades. Criado na Barra Funda em 1973 por Gutglas, um boliviano radicado no Brasil desde os anos 50 e formado em engenharia eletrônica no Mackenzie, o parque revolucionou o setor. Com seus aparelhos modernos, espalhados inicialmente por um terreno de 30.000 metros quadrados, o Playcenter deixou a anos-luz de distância as ruidosas rodas-gigantes de parques itinerantes. Sem concorrentes no horizonte, caiu nas graças dos paulistanos.

De tempos em tempos, atrações extras eram promovidas para arrebanhar frequentadores. Em 1977, eles foram surpreendidos por um enorme gorila mecânico de 15 metros de altura, capaz de realizar oitenta movimentos. Parece familiar? Pois se tratava do boneco utilizado no filme King Kong, estrelado por Jessica Lange e lançado aqui no mesmo ano. “Em apenas um mês, recebemos 400.000 pessoas, que não se importaram de amargar mais de uma hora na fila, debaixo de chuva, para conferir a novidade”, lembra Fernando Elimelek, diretor de marketing do grupo durante sua primeira década de existência.

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Em 1983, a programação de férias do complexo foi aberta por um show do golfinho Flipper, que ganhou fama planetária ao protagonizar uma série de mesmo nome nos Estados Unidos. “Investir rotineiramente em novos atrativos é questão de sobrevivência para um parque de diversão”, diz Elimelek. “Do contrário, o público simplesmente cansa dele e deixa de frequentá-lo.”

A falta de renovação das atrações do Playcenter é um dos principais motivos de sua decadência. Há oito anos o parque não recebe um brinquedo novo — uma eternidade num mercado tão dinâmico quanto o do entretenimento — para fazer companhia aos 35 existentes ali. Desavenças entre Gutglas e seu antigo sócio, o GP Investimentos, do banqueiro Jorge Paulo Lemann, contribuíram para a situação. O fundador voltou a ser o único dono do negócio em 2002, mas o estrago já era considerável. Na época, a frequência do parque havia caído 30% e, desde então, se mantém estável, na faixa de 1,5 milhão de visitantes por ano. “Foi uma coisa natural, diante da concorrência que sofremos hoje com outras opções de lazer na cidade”, afirma Gutglas.

Na tentativa de manter o negócio no azul, a direção do Playcenter popularizou o perfil de frequentadores com uma política agressiva de descontos. Uma promoção recente, por exemplo, permitia parcelar o valor de 33 reais do ingresso comprado pela internet em três vezes. Outra, realizada por um site de compras, oferecia o Passaporte da Alegria por 16,50 reais, 67% a menos que o preço praticado na bilheteria, de 49 reais. Cerca de 30% dos visitantes adquirem seus tíquetes dessa forma. Nos últimos anos, para reforçar o caixa, Gutglas começou a alugar o espaço para eventos como o Festival Planeta Terra. Agora, promete trazer para o segundo semestre um novo brinquedo, orçado em 4 milhões de reais. Antes disso, terá pela frente uma missão mais difícil: convencer a todos que seu parque ainda é um lugar bacana e seguro.

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