Paulistanos compram clube inglês da 11ª divisão e tentam alavancar desempenho dos times
Sem experiência no ramo, empresários contrataram técnico brasileiro e usam análise de dado com o time de futebol Wakefield A.F.C.
Muito mais que dinheiro, o novo investimento do empresário Guilherme Decca envolve treino, sorte e uma boa torcida. Após trabalhar com finanças por mais de vinte anos, o paulistano decidiu abraçar sua paixão pelo futebol e comprar o próprio clube, com direito a estádio e dois times. Tudo isso não no Brasil, mas em Wakefield, cidade inglesa com cerca de 350 000 habitantes.
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“Escolhemos esse local por ser a maior cidade da Inglaterra sem um clube profissional. Vimos uma oportunidade de negócio”, explica Guilherme, que precisou convencer um amigo a participar da ideia. “Eu não era fã do esporte como ele, mas comecei a ver os números e depois percebemos que o futebol passou a ficar mais popular que o rúgbi na região”, acrescenta o sócio André Ikeda.
Após obter a participação majoritária do Wakefield A.F.C., os dois agora trabalham para reforçar o desempenho dos jogadores e aumentar a visibilidade do clube, fundado em 2019. Para isso, contrataram o brasileiro Gabriel Mozzini como técnico do time principal, têm apostado em análises de dados a cada partida e vão iniciar a construção de um centro de treinamento.
“Embora seja desafiador começar com um time novo, se tivéssemos comprado um dos muitos times centenários, seria mais complicado aplicar essas mudanças”, opina Guilherme. Uma das decisões mais polêmicas foi a demissão de um dos antigos diretores. “É difícil aceitarem que demitimos um cara que já passou pelo Manchester United, mas essa reestruturação é um processo necessário.”
Se por aqui os torcedores costumam acompanhar apenas os grandes clubes e no máximo os times da série B, na Inglaterra o sistema inclui mais de dez divisões — e torcida suficiente para cada uma delas. No clube comandado pelos paulistanos, a equipe feminina está na quinta divisão e a masculina, por enquanto, na 11ª (o objetivo é subir para a quarta divisão em vinte anos).
“Hoje temos um grupo de fãs com 2 000 membros no Facebook, mas, para ter mais público, é preciso ganhar mais jogos”, diz Guilherme. A dupla não revela os custos da empreitada (na casa dos milhões de reais), mas afirma ter dobrado a receita em apenas seis meses.
Além de abrir as portas do mercado do futebol para mais investidores apaixonados, a longo prazo eles sonham em criar equipes juvenis com estudantes acima de 16 anos e fazer intercâmbios com escolas brasileiras. “Esse apelo comunitário do futebol é a parte mais divertida”, acredita Guilherme. “Nós somos capitalistas para tudo, mas em futebol sou meio comunista: é um esporte feito para o povo.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 13 de abril de 2022, edição nº 2784