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Paulistanos criam abelhas sem ferrão como animais de estimação

Nomes como Alex Atala, Isabel Lenza e Marcelo Tas estão entre os adeptos; no caso de especialistas, mel vai parar nos endereços gastronômicos da cidade

Por Gabriela Amorim
23 abr 2021, 06h00

Jataí, mandaçaia, mirim… Esses são nomes de abelhas nativas, cada vez mais familiares para um grupo de moradores da cidade. Ainda que diversas espécies, todas sem ferrão, se adaptem a áreas urbanas sem esforço do homem — instalam-se em postes e árvores ocas ou em buracos de muros, por exemplo —, esses criadores cuidam dos insetos em casa, como se fossem animais de estimação. Ao mesmo tempo que ajudam a preservar as espécies, de papel fundamental na polinização de plantas, colaboram para o equilíbrio do meio ambiente.

“As abelhas promovem uma mudança no comportamento das pessoas que vivem nas metrópoles. Trazem uma consciência maior sobre nosso ecossistema natural”, acredita o biólogo Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e membro do comitê científico da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A).

“O contato com a terra e com os insetos me faz voltar às origens. Eu me tornei um roceiro urbano”, brinca o apresentador Marcelo Tas, paulista de Ituverava, que desde agosto cria jataís. “Para a melhor alimentação delas, troquei as plantas e flores por opções nativas”, diz Tas, que usa o telhado verde de seu estúdio no Jardim Paulistano.

Marcelo Tas, de óculos escuro, com um braço sobre a sua caixa de criação.
Marcelo Tas, que cultiva plantas e flores para os insetos: “roceiro urbano” (Arquivo pessoal/Divulgação)

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Cuidar dessas espécies é simples. Para começar, obtém-se uma caixinha com uma colônia com algum criador. Mas é preciso atenção a uma nova legislação. Em fevereiro, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (Sima) do estado passou a regular a criação no Sistema Integrado de Gestão de Fauna Silvestre (GeFau).

“É obrigatório o cadastramento até 19 de agosto. Pelo cenário de pandemia, estamos dispostos a prorrogar o prazo”, afirma Sérgio Marçon, coordenador de Fiscalização e Biodiversidade. Para obter a autorização, mesmo sem motivo comercial, é necessário passar o nome da espécie, o comprovante de endereço com coordenadas da instalação do meliponário (local onde fica a colmeia) e documentação pessoal. Desde a entrada do sistema no ar, em 9 de março, até o dia 31 de março, há cinquenta registros.

O chef Alex Atala, do D.O.M. e do Dalva e Dito, se dedica a três colmeias no quintal de sua casa, no Sumaré. “As abelhas ajudam na polinização das minhas orquídeas”, conta o cozinheiro, que também reforça o papel educativo que os insetos tiveram para os filhos. “Eles cresceram entendendo o funcionamento de uma colmeia, a diferença dos méis e pólen. É lúdico.” Para expandir o teor pedagógico, ele pôs na frente do Dalva e Dito uma colmeia de jataís. “As pessoas param para ver.”

Ainda que muitas dessas espécies produzam méis saborosos (veja dois exemplos de receitas abaixo), mais fluidos e de toque ácido, em comparação com os das abelhas africanizadas, com ferrão e as mais usadas comercialmente, a criação não é necessariamente para obter o produto.

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“Ainda não tenho um melgueiro (área da caixa onde ficam os favos) e não sei se quero ter”, afirma a cantora e compositora Isabel Lenza. Desde o início da quarentena, ela mantém jataís e mandaçaias no jardim de casa, na Vila Madalena. “Foi louco observar a aglomeração diária delas, indo na mão contrária do que estava acontecendo na humanidade”, observa.

Montagem de duas imagens. À esquerda, Isabel apoiada com o braço em uma mesa que tem sua caixa de criação de abelhas. À direita, a caixa, com o buraco onda há algumas abelhas
A cantora Isabel Lenza e a caixa de criação ampliada (à dir.): início durante a pandemia (Clayton Vieira/Veja SP)

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O pesquisador de sustentabilidade Celso Barbiéri conseguiu uma façanha: mantém três colônias, de jataí, mandaçaia e mirim, em seu apartamento de 55 metros quadrados, sem sacada, no Ipiranga. “Os vizinhos não têm medo. Até apoiam”, garante. Elas ficam em caixas colocadas ao lado de janelas basculantes, ligadas ao exterior por canos de PVC, pelos quais os insetos podem transitar livremente.

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Mas, mesmo sendo as abelhas animais independentes, o cuidado com a alimentação delas não deve ser deixado de lado. Em estações do ano com pouca floração, Barbiéri recomenda um reforço energético com xarope de água e açúcar.

Caixa de abelhas ao lado de plantas e de uma parede com tijolinhos
Caixa de abelhas mandaçaia: criação de Isabel Lenza (Clayton Vieira/Veja SP)

Presidente da SOS Abelhas sem Ferrão, Gerson Luiz Pinheiro recomenda que os donos estudem sobre as espécies. “As pessoas devem entender os ciclos naturais delas, plantar cada vez mais e usar menos venenos”, afirma.

Enquanto grande parte dos criadores trata as abelhas como bichinhos de estimação, sem extrair o mel, há quem encontre nas colmeias uma atividade econômica. Morador de Parelheiros, no extremo sul da capital, o designer gráfico Carlos Barrichello é um dos sócios da Beeliving, marca de méis de onze espécies sem ferrão.

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Pelo site beeliving.com.br, se adquirem produtos, por exemplo, de uruçu amarela e mandaguari, de seu sítio com uma área de mata atlântica preservada. Barrichello vende também méis vindos de outros biomas. “Com o processo desde a colheita dos produtos até a colocação no frasco com rótulo, é impossível não se atentar à preservação das abelhas”, diz. “Esse cuidado é essencial.”

No prato e no copo

À esquerda, o drinque amarelado com rodelas de limão espalhadas em volta do copo. À direita, o pão de mel do Evva em um fundo branco
Pão de mel do Evvai, à direita: drinque suburbano, do Jiquitaia, à esquerda (Eduardo Maida/Tadeu Brunelli/Divulgação)

O mel produzido por abelhas nativas criadas por especialistas pode ter fins gastronômicos. O pão de mel do Evvai, feito com os produtos da Mbee, de jataí, vem com distintas texturas do ingrediente principal: creme, gel e favo, além de chocolate. Essa é uma indicação do editor-sênior Arnaldo Lorençato. O repórter de bares Saulo Yassuda recomenda o drinque suburbano, do Jiquitaia. O mel de mandaçaia de um produtor do litoral do Paraná adoça a mistura de cachaça, Cynar 70, limão e ginger ale.

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Publicado em VEJA São Paulo de 28 de abril de 2021, edição nº 2735

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