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“A prefeitura se tornou uma secretaria do governo do estado”

Pré-candidato a prefeito pelo PSB, Márcio França quer reeditar seu plano de alistamento civil e pretende dar bônus a quem andar de ônibus

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 17h43 - Publicado em 14 ago 2020, 06h00
Márcio França
Márcio França (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Sua candidatura será de direita ou de esquerda?

Será de futuro. Será de alguém que tem experiência e sempre cumpriu seus mandatos na íntegra.

Como o senhor avalia a atuação de João Doria e Bruno Covas nas ações contra o coronavírus?

Ambos foram um desastre. Houve uma grande bateção de cabeça entre Bruno e Doria, com abre e fecha. Foram várias demonstrações do desentendimento que já existe entre eles. Os dois não se bicam. Além disso, o Bruno fica muito na mão de uma coligação de partidos e vereadores que o Doria montou com o DEM. O Doria controla cinquenta vereadores até hoje.

Mas o seu partido apoiou a campanha do Doria para a prefeitura e o senhor, então vice-governador, foi um dos arquitetos dessa grande coligação, não?

Nosso objetivo era consolidar a vitória do Doria. Depois, já na prefeitura, ele foi conduzindo da forma que quis. Mandou embora (os secretários Gilberto) Natalini e Soninha (Francine), excluiu PV, PSB e foi criando corpo próprio. Além disso, prometeu PPP (parcerias público-privadas), privatizações, mas não saiu nada. De venda concreta, o que saiu?

O Pacaembu foi concedido, mas, quando o senhor era governador, mandou paralisar a licitação, pois parte do terreno pertence ao Estado. Isso foi visto como medida para prejudicar uma das bandeiras de Doria, seu concorrente ao Palácio dos Bandeirantes. O que houve ali?

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Eles estavam fazendo uma concessão de uma propriedade que não era do município. Isso é um pouco de inexperiência administrativa. Você não pode fazer uma concessão de uma coisa que não é sua, pois vai gerar uma ilegalidade.

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O senhor pretende manter, caso eleito, o plano de desestatização da atual gestão?

Ninguém em sã consciência vende as coisas em plena crise financeira. Este é o momento em que o capital não está líquido, as pessoas não investem em nada.

Então não pretende dar andamento?

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No formato deles, de jeito nenhum, pois é um formato equivocado.

Qual será seu formato?

Primeiro é fazer a recuperação dos espaços. Quando eu era secretário de Turismo do estado, fiz a concessão do Centro de Exposição Imigrantes. O local arrecadava 30 000 reais por mês. Depois passou a arrecadar 400 000. Mas o Doria e o Bruno não sabem como se faz.

Mas o senhor, quando foi secretário de Desenvolvimento, não conseguiu tirar do papel a ideia de transformar o Parque Tecnológico do Jaguaré, vizinho à USP, no “Vale do Silício” de São Paulo, e atrair startups. O que houve?

O parque está instalado e virou uma referência. A Secretaria de Desenvolvimento está muito bem adaptada ao espaço. A USP tem um centro de startups, assim como o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Mas a venda de concessões de espaços depende mais da mudança da Ceagesp de lugar, aí é possível trazer as empresas.

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Uma das últimas fotos públicas de Mario Covas foi ao seu lado, em uma visita à Favela México 70, em São Vicente. Como será enfrentar o neto dele na eleição?

Com lealdade. O Bruno sempre foi leal e correto comigo. Serei assim com ele. Mas isso não o exime de certas responsabilidades. A prefeitura se tornou uma secretaria do governo do estado. Há casos em entrevistas coletivas que o Doria dá trinta segundos para o Bruno se pronunciar. O Mario Covas jamais seria conduzido, ele conduzia.

O alistamento civil, uma de suas bandeiras na campanha de 2018, está de volta em 2020. Como será a medida e quanto vai custar?

A gente fez 25 no estado e deu a oportunidade a 40 000 jovens. Na cidade vão ser 40 000 também. Eles serão orientadores municipais, pois vivem as cidades. Serão grupos de quatro e cinco. Fiz isso também em São Vicente e deu certo. Aqui custará 480 milhões de reais por ano. Para compensar o custo, vamos tirar 1% do gasto em mais de 6 000 cargos em comissão.

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Mas qual será a função dos meninos? Eles ficarão zanzando pela cidade?

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É uma expressão ruim. Eles vão ajudar as pessoas a atravessar a rua, poderão se comunicar com a Guarda Civil Metropolitana. Enquanto isso, deixam de fazer coisas erradas. Se colocarmos 100 meninos uniformizados na Praça da Sé, haverá uma grande sensação de segurança.

E quanto às críticas de que o senhor não é da cidade, não conhece os problemas de São Paulo?

Ninguém conhece 100% a cidade. Não sou candidato a motorista de Uber, e sim a prefeito. Estou na cidade há sete anos.

A pandemia fez com que muita gente deixasse de procurar tratamento para outras doenças. Como pretende tratar da questão no ano que vem?

Nossa emergência número zero será produzir os exames que estão parados por causa da pandemia. Certamente isso vai derivar em outras doenças. Vamos abrir todas as unidades de saúde nos fins de semana e zerar a fila em um mês.

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Pretende copiar o “Corujão da Saúde”, da gestão Doria, e utilizar empresas privadas?

Esse corujão foi uma sugestão minha. Ele diz que não, mas foi. Pretendo usar o privado na seguinte condição: se o munícipe não conseguir ser atendido na rede pública, vai ganhar um crédito para ir à particular.

A sua gestão vai manter o projeto do Parque Minhocão?

Não. A proposta de deixar um parque permanente não é viável por causa do trânsito. Ainda estamos analisando o que fazer . Especialistas afirmam que haverá diminuição na procura por transporte público de massa por causa da pandemia.

Qual sua avaliação?

As pessoas vão continuar a usar ônibus, metrô. Não dá para pensar que todo mundo vai migrar para a bicicleta. Basta fazer um ônibus que permita o distanciamento entre os passageiros, com as pessoas sentadas. Se tem alguma coisa que a pandemia mostrou, é que dá para fazer mobilidade de horários. A gente pretende experimentar uma novidade. Vamos permitir que parte do custo da passagem possa ser reembolsada de acordo com o consumo de produtos no trajeto.

Como assim? Quanto vai custar?

Pretendemos criar um aplicativo que permita ao passageiro, ao usar o ônibus, poder abater a passagem com créditos. Toma um café e ganha um crédito. Compra um sapato, ganha um crédito. Isso vai incentivar as pessoas a usar o transporte. Estamos levantando os custos.

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 19 de agosto de 2020, edição nº 2700. 

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