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O complexo de ensino e pesquisa de R$ 700 milhões do Albert Einstein

Prédio projetado por arquiteto que criou o Museu do Holocausto de Jerusalém contará com cursos de medicina, enfermagem, fisioterapia e odontologia

Por Guilherme Queiroz e Pedro Carvalho
6 Maio 2022, 06h00

Para o paulistano, o nome Albert Einstein sempre esteve associado ao hospital do bairro do Morumbi, tradicionalíssimo na cidade. Essa imagem, cada vez mais, é só uma parte do quadro completo. Nos últimos anos, o grupo médico criado por membros da colônia judaica passou a investir maciçamente na área de educação, na qual dispõe de cursos que vão da pós-graduação ao ensino médio — tem 333 alunos em um colégio técnico localizado na Avenida Paulista. Ao todo, soma 45 000 estudantes matriculados (quase o dobro de cinco anos atrás), dos quais 35 000 em salas de aula presenciais.

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Em junho, vai concretizar sua principal aposta no setor: a inauguração de um centro de ensino e pesquisa ao custo de 700 milhões de reais, instalado num arrojado prédio ao lado de sua sede e projetado pelo israelense Moshe Safdie, 83, arquiteto que criou o Museu do Holocausto de Jerusalém.

Foto do prédio de ensino do Albert Eisntein onde alunos aparecem estudando em uma das sacadas
Novo prédio: medicina com mensalidade de 9 310 reais (Wanezza Soares/Veja SP)

O complexo começou a ser construído em 2019 — quem visitou recentemente o Albert Einstein deve ter notado o enorme domo de vidro que ganhava forma no terreno vizinho. Passou a receber alunos em março. Serão 21 salas de aula para cursos como graduação em medicina (mensalidade de 9 310 reais) e enfermagem (2 250 reais), além de cerca de vinte pós-graduações.

Em maio, o time de pesquisa da instituição se mudará para o local — antes, ele ficava no próprio hospital. A área terá 130 profissionais (48 com crachás de cientistas), 180 bolsistas e um orçamento anual de 100 milhões de reais. Em junho, está marcado o evento oficial de inauguração. Calcula-se que até 6 300 pessoas circularão diariamente nos 44 000 metros quadrados do espaço, sob um teto transparente que permite mais luz solar nas plantas do vão central do que nos corredores por onde passam os estudantes, para o conforto de todos.

Alunos na área de convivência arborizada

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Alunos estudam em uma ampla sala com paredes de vidro e visão para o resto do prédio
(Wanezza Soares/Veja SP)

CONVIVÊNCIA: a área central do prédio tem diversos bancos e sofás para a integração dos alunos, que também dividem bancadas de estudo e pesquisa

O Einstein colocou pela primeira vez o pé no setor educacional em 1989, quando abriu a faculdade de enfermagem e a escola técnica da instituição. Nove anos depois, criou o Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP), ampliado em 2004 com o Centro de Educação em Saúde Abram Szajman — apoiado pela família Szajman, fundadora da empresa VR Benefícios.

Hoje, a maior parte dos alunos do grupo encontra-se em cursos de pós-graduação e treinamentos para profissionais, mas a graduação tem ganhado força — já são 720 estudantes. No ano que vem, a marca, que estreou um curso de fisioterapia, passa a ter faculdades de odontologia, engenharia biomédica e administração em saúde. “Estamos crescendo em número de alunos de forma agressiva”, diz Alexandre Holthausen, diretor de ensino do Einstein.

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Dos 700 milhões de reais investidos no novo projeto, 150 milhões vieram de doações particulares. Assim como o hospital, o novo prédio é coalhado de placas com os sobrenomes dos apoiadores, via de regra de famílias judaicas: Safra (do banco de mesmo nome), Stuhlberger (dos fundos de investimento) e Szajman (da VR), entre outros. O restante do investimento saiu do caixa da instituição, que tem receita anual na casa dos 3,2 bilhões de reais.

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Alunos estudam sentados em mesas da biblioteca. O ambiente, com estantes, é aconchegante
A biblioteca do prédio (Wanezza Soares/Veja SP)

Tal fôlego financeiro atraiu cientistas de universidades renomadas. “Até o ano passado, eu atuava como vice-diretor da (faculdade de) farmácia da USP”, conta o biólogo Helder Nakaya, 43. O pesquisador transferiu-se para o Einstein em agosto passado para desenvolver estudos que misturam medicina e ciência de dados. “Queremos gerar modelos que podem funcionar inclusive para o SUS. Um exemplo é a pesquisa sobre Covid-19 que fizemos com uma base de 10 milhões de resultados de exames de diversos hospitais. Mapeamos o que acontece com diferentes grupos de pacientes, o que dá mais clareza para o tratamento médico”, explica Nakaya, que passará a ocupar o novo prédio com uma equipe de 35 pesquisadores.

Duas estudantes sentadas em uma mesa de uma das cafeterias do prédio. A parede permite que frestas de luz passem, o que deixa o ambiente aconchegante
Uma das cafeterias (Wanezza Soares/Veja SP)

Ex-Incor-USP, a cardiologista Patrícia Guimarães, 36, entrou para o “time do Morumbi” em 2020. No complexo, irá comandar um estudo com 3 400 pacientes de ataque cardíaco em quarenta hospitais do país. “Nossa hipótese é que o uso de apenas um dos dois remédios normalmente empregados nesses casos traria benefícios ao tratamento”, ela diz. Atualmente, nada menos que 773 projetos científicos estão em andamento na instituição.

Alunos sentados em mesas em uma ampla sala que une a área de convivência e o jardim
(Wanezza Soares/Veja SP)

FOCO NO CONFORTO: a aconchegante biblioteca (primeira foto), o brise diagonal que ajusta a iluminação em uma das cafeterias (segunda foto) e a integração entre o jardim e uma das áreas de convivência (acima)

Entre as joias da área de pesquisa estarão três “salas limpas” do tipo ISO7 com certificação nível NB2, que devem ficar prontas em 2023. Serão as únicas no país que têm esse patamar de segurança e, ao mesmo tempo, paredes de vidro. “Os alunos poderão ver, por exemplo, pesquisadores editarem células para realizar transfusões”, diz Luiz Vicente Rizzo, diretor de pesquisa no Einstein.

Rizzo menciona uma técnica conhecida como CRISPR, que auxilia no tratamento de doenças genéticas e rendeu o Nobel de Química em 2020 para a microbiologista francesa Emmanuelle Charpentier e para a bioquímica americana Jennifer Doudna. O espaço também vai abrigar projetos de ponta voltados a pacientes com câncer, como as pesquisas que usam células do tipo CAR-T: “Elas reconhecem marcadores tumorais e são atualmente um dos principais recursos no tratamento para linfomas”, explica Rizzo.

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O investimento total no segmento quadruplicou desde 2015. “Uma estrutura científica sólida vai atrair não apenas estudiosos e doadores, mas a própria indústria farmacêutica, que precisa de locais adequados para validar os produtos”, diz Sidney Klajner, presidente do Einstein.

Mural colorido que atravessa os cinco pavimentos do prédio
(Wanezza Soares/Veja SP)

ALTO DESIGN: acima, o colorido painel de Claudio Tozzi que marca a fachada interna do edifício; abaixo, Sidney Klajner, presidente do Einstein, com um banco do designer Guto Indio da Costa ao fundo

O prédio também servirá para a capacitação de profissionais que atuam na saúde pública. O Einstein gerencia 27 equipamentos do tipo, entre eles os hospitais do M’Boi Mirim e o Vila Santa Catarina, além de diversas UBSs e Capes. O novo complexo também reservará vagas para quem não pode pagar as mensalidades. No ano passado, 27% dos estudantes da faculdade de medicina tiveram crédito estudantil ou bolsas de estudos (que cobrem de 25% a 100% da mensalidade), segundo a instituição. Dos 630 alunos do curso, 69 possuíam bolsas de 75% e 43, de 100%, afirma o Einstein. “Temos planos de abrir o prédio para usos da população em geral, especialmente nos fins de semana”, diz Klajner.

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Mais que as cifras, a aposta em educação e ciência é uma estratégia do grupo. “Veja o exemplo do Johns Hopkins (nos Estados Unidos). Nenhum grande centro médico do mundo é desprovido de estruturas robustas de ensino e pesquisa”, diz Rizzo. Um dos ganhos mais diretos está nas equipes: cerca de 80% dos formados em enfermagem, a mais antiga graduação da instituição, passam a trabalhar no grupo. Além disso, todos os estudantes de medicina fazem estágio nos hospitais administrados pelo Einstein. “E não somos uma universidade. Ainda”, comenta o pesquisador.

EDIFÍCIO DE GRIFE 

O amplo e iluminado edifício a ser inaugurado em junho foi criado pelo time do arquiteto israelense Moshe Safdie, 83, responsável por obras icônicas como o Museu do Holocausto de Jerusalém e o anexo do Aeroporto de Singapura. “Queríamos um prédio em que todos pudessem ver, o tempo todo, o que acontece em cada lugar. O objetivo é encorajar a interação entre alunos, professores e pesquisadores”, ele diz.

Os cinco pavimentos são atravessados por um colorido mural do artista plástico Claudio Tozzi. Os bancos de madeira são assinados pelo premiado designer Guto Indio da Costa. O jardim, no vão central, é repleto de espécies de árvores brasileiras.

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Moshe é um senhor idoso, de cabelos brancos e bigode branco também. Ele usa um terno bege e posa em uma estrutura onde é possível ver, atrás, a arquitetura do novo prédio do Albert Einstein
Moshe: “Objetivo é integrar os frequentadores” (Safdie Architects/Divulgação)

O destaque, porém, é o enorme domo e as paredes de vidro do espaço. O teto controla a luz e o som no interior. “Ele tem duas camadas com um tipo de plástico­-filme no meio, que possui pequenos buracos para absorver o ruído”, explica Safdie. O domo tem também pequenas manchas nos vidros. Sobre as cafeterias e os corredores, a quantidade de manchas é maior do que sobre o jardim, para regular a passagem de luz.

A temperatura interna fica sempre em 23 graus. “No começo, achávamos que um pátio como esse não poderia ser sujeito ao ar ­condicionado, mas o clima em São Paulo muda muito e queríamos que as áreas pudessem ser usadas o ano todo”, diz o arquiteto. “Não é um projeto de luxo”, ele afirma. “Ter luz do sol, espaços de convivência e jardins são atributos essenciais para o bem­-estar das pessoas”, conclui.

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Publicado em VEJA São Paulo de 11 de maio de 2022, edição nº 2788

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