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Os desenhos e a coleção de brinquedos de Neco Stickel

Pouco conhecido, o profissional apresenta seus principais trabalhos como desenhista de arquitetura no Museu da Casa Brasileira

Por Saulo Yassuda Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 fev 2018, 19h41 - Publicado em 9 fev 2018, 06h00

Comunicar-se com o desenhista Neco Stickel é seguir algumas regras informais. Você não deve lhe mandar uma mensagem pela manhã — ele dorme às 7 horas, acorda às 14h30. E não se esqueça de deixar o celular no silencioso ao se deitar — não raro, Stickel responde ao WhatsApp no meio da madrugada, entre um rabisco e outro.

Paulistano da Bela Vista, esse engenheiro civil de formação tem o nome pouco conhecido. Mas já foi um dos grandes responsáveis por desenhos de arquitetura da capital paulista. Chegou a projetar meia dúzia de casas, porém construiu a carreira botando no papel ideias de outros arquitetos e engenheiros, para apresentá-las a clientes e ajudar na divulgação. “Fiz mais de 9 000 trabalhos em quarenta anos de carreira”, orgulha-se.

Os traços minuciosos coloridos a lápis de cor já ocuparam anúncios e catálogos de construtoras de peso como Cyrela e Rossi. Entre as gravuras mais destacadas estão as do Shopping Cidade Jardim, da JHSF, que pipocaram em revistas. Até o próximo domingo (18), boa parte da produção poderá ser observada na exposição Desenhando a Cidade: Neco Stickel, em cartaz no Museu da Casa Brasileira (MCB).

Stickel, na sala de seu apartamento: cômodos ocupados pelo acervo (Leo Martins/Veja SP)

As madrugadas de Neco (nome de batismo: Roberto), hoje com 63 anos, costumavam ser mais “agitadas” de serviço. “O ofício dele está em extinção”, diz Giancarlo Latorraca, diretor técnico do MCB. “Desde o fim dos anos 90, o trabalho a mão começou a ser trocado pelo de softwares.” Novas formas de divulgação, como perspectivas vistas com óculos de realidade virtual, também ganharam espaço. Para piorar, há a crise. “Nas décadas de 80, 90, eu fazia vinte desenhos por mês. Fiz no máximo quinze no ano passado todo”, lamenta.

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Com dias (noites, no caso dele) livres, o profissional não parou de se dedicar a outras paixões, como o design aeronáutico. Nunca conseguiu vingar nessa função, porém já projetou microplanadores, ultraleves e asas-deltas. Animado, mostra uma moto vermelha de corrida rabiscada na madrugada anterior à conversa com a reportagem.

Mais de sessenta outros esboços estavam na gaveta. “Se eu quiser, poderei vender esses desenhos imediatamente. Mas não sei por quanto, né?” Enquanto a grana não vem, vive das economias e de raros trabalhos de ilustração que chegam.

A queda de faturamento o fez manter em stand-by outro amor, uma megacoleção de brinquedos e protótipos, que não ganha integrantes há tempos. O acervo ocupa todo o espaço onde vive e trabalha com a mulher, a ilustradora Maria Eugenia, no Jardim Paulistano.

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É difícil caminhar pela dupla de apartamentos conjugados (220 metros quadrados ao todo) sem notar — ou esbarrar — nos objetos. Uma parede de aviões na sala dá “oi” aos raros visitantes, arminhas espaciais fazem as vezes de cabeceira para a cama do casal, e uma mesa cheia de trenzinhos impressiona quem passa.

Painel de avião, parte da coleção (Leo Martins/Veja SP)

O colecionador jura ter perdido a conta de quantos itens possui e prefere manter discrição sobre o assunto. Mas há quem diga que é a maior coleção do Brasil. “Ele tem 15 000 brinquedos ou mais”, afirma João Roberto Pinheiro Gazzola, dono da JR Toys, na Galeria Itapetininga, onde Neco fazia compras. Sem herdeiros, o desenhista pensa em deixar as antiguidades de legado a algum museu no mundo. Mas só num futuro distante. “Isso aqui é arte para mim”, diz ao agarrar uma motinho de metal da estante. “Mil vezes mais que um quadro.”

Desenhando a Cidade: Neco Stickel. Museu da Casa Brasileira. Avenida Brigadeiro Faria Lima, 2705, Jardim Paulistano, ☎ 3032-3727. R$ 10,00. Gratuito nos fins de semana. Até domingo (18). Fecha na segunda (12) e na terça (13).

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