Aumento de roubos de motos impulsiona crimes por falsos entregadores
Cerca de 35 motos foram roubadas por dia em São Paulo em 2021; confira as vias com maior ocorrência
A alta de 26,85% nos roubos e furtos de motos durante o ano de 2021 na cidade de São Paulo pode ser uma das explicações da recente onda de crimes praticados por falsos entregadores de aplicativos. A lógica é a de que quanto mais veículos caírem nas mãos dos criminosos, maior é a probabilidade de eles os usarem para a prática de outros delitos.
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Dados da própria Secretaria de Segurança Pública (SSP) mostram que 12 781 motociclistas ficaram sem os seus veículos no ano passado, média de 35 por dia, 2 706 acima dos subtraídos em 2020. A quantidade do ano passado supera em 5,48% os 12 116 veículos desse tipo que foram alvo de assaltos em 2019, antes da pandemia.
“De 70% a 80% dessas motos vão parar no mercado de peças ilegais. Porém de 20% a 30% servem para ostentação e também são usadas para a prática de outros crimes”, afirma Erivaldo Costa Vieira, da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap). Um estudo coordenado por Vieira evidencia que em todo o estado de São Paulo foram roubadas ou furtadas 33 394 motos, numa alta de 11,6% em relação a 2020.
As estatísticas de crimes divulgadas mensalmente não esclarecem se uma pessoa foi vítima de um bandido que estava a pé, de bicicleta, carro ou outro veículo, o que impede saber se há mais delitos sendo praticados usando esses veículos. “Apesar de não existir nenhuma análise, o que vemos nos sugere que tem havido, sim, um aumento dessa prática delituosa (de crimes com motos)”, afirma Rafael Alcadipani, professor da FGV e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O coronel Álvaro Batista Camilo, secretário-executivo da Polícia Militar de São Paulo, descarta a elevação de casos, mas diz haver uma superexposição deles. “A exposição na mídia repetidamente de uma mesma ocorrência acaba causando uma sensação de insegurança.”
Uma das imagens que viralizaram foi a que flagrou o assalto sofrido pela influenciadora digital e estudante de direito Kauana Santiago Viviani, de 19 anos, e seu namorado. No dia 26 de março, eles estavam no Jaguar dirigido pelo rapaz, quando, perto da casa dela, na Mooca, os dois foram abordados por homens em uma moto.
“Eu pensei que fossem de delivery. Mas o que estava na carona e com a bag já desceu, pediu os celulares e gritava para passar as senhas, que eram anotadas pelo outro”, conta. Algumas vezes, as vítimas de roubos são os próprios entregadores dos aplicativos. É o caso de Izaias Nunes, de 31 anos, que no dia 19 de março teve sua moto levada por dois outros homens que também usavam uma motocicleta.
“Um deles tirou a marmita da bag, jogou-a no meu peito, daí eu reagi e atiraram. Sorte é que o disparo não me atingiu.” Depois de sair vivo, ele disse ter se lembrado do caso envolvendo o secretário de Segurança Pública de São José dos Pinhais (PR), Ricardo Kusch, que no dia 6 de março foi baleado e morto quando pilotava sua moto na Marginal Pinheiros.
O uso da motocicleta para crimes vem de longa data, por ser ágil no trânsito e rápida para fuga. Outro fator é que os ocupantes usam capacete, o que torna difícil o reconhecimento, segundo José Vicente da Silva Filho, coronel reformado da PM de São Paulo. Camilo, secretário-executivo da PM, lembra que a polícia já desenvolve duas operações para tentar coibir a prática de crimes utilizando esses veículos.
Além disso, desde 21 de março foi desencadeada uma operação específica para abordar motociclistas, que em dezesseis dias (até o dia 5) parou 9 000 motos e prendeu 53 pessoas. “No final é uma grande briga de gato contra rato”, avalia José Vicente.
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Preocupada com a recente onda de roubos, a Associação de Bares e Restaurantes enviou um ofício à Secretaria de Segurança Pública reivindicando que os entregadores usem colete ou números e letras para que possam ser identificados. Dados da própria secretaria revelam aumento de roubos e furtos no primeiro bimestre deste ano em relação a 2020 em Pinheiros, Itaim Bibi, Moema, Santa Cecília e Jardins, regiões que concentram bares.
“As pessoas precisam ter mais segurança. Além disso, queremos proteger a imagem do delivery”, afirma o diretor da entidade, Percival Maricato. Gilberto Almeida, o Gil, presidente do Sindicato dos Motoboys de São Paulo, diz que a categoria já é regulamentada por duas leis federais e uma municipal, e rejeita a ideia.
Procuradas, Rappi e iFood, dois dos mais importantes serviços de entrega, informaram que estão à disposição para colaborar com as autoridades de segurança. Ambas, porém, dizem ter métodos próprios para cadastro e identificação e que não possuem controle sobre fraudes ou mesmo uso indevido de suas bags por bandidos.
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Publicado em VEJA São Paulo de 13 de abril de 2022, edição nº 2784