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Aumento de roubos de motos impulsiona crimes por falsos entregadores

Cerca de 35 motos foram roubadas por dia em São Paulo em 2021; confira as vias com maior ocorrência

Por Clayton Freitas
Atualizado em 27 Maio 2024, 22h12 - Publicado em 8 abr 2022, 06h00
Duas imagens. À esquerda, um carro da polícia ao lado de uma série de motos. À direita, um carro da polícia estacionado em uma rua.
Operação policial: tentativa de coibir casos com motos. (Polícia Civil/Divulgação)
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A alta de 26,85% nos roubos e furtos de motos durante o ano de 2021 na cidade de São Paulo pode ser uma das explicações da recente onda de crimes praticados por falsos entregadores de aplicativos. A lógica é a de que quanto mais veículos caírem nas mãos dos criminosos, maior é a probabilidade de eles os usarem para a prática de outros delitos.

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Dados da própria Secretaria de Segurança Pública (SSP) mostram que 12 781 motociclistas ficaram sem os seus veículos no ano passado, média de 35 por dia, 2 706 acima dos subtraídos em 2020. A quantidade do ano passado supera em 5,48% os 12 116 veículos desse tipo que foram alvo de assaltos em 2019, antes da pandemia.

“De 70% a 80% dessas motos vão parar no mercado de peças ilegais. Porém de 20% a 30% servem para ostentação e também são usadas para a prática de outros crimes”, afirma Erivaldo Costa Vieira, da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap). Um estudo coordenado por Vieira evidencia que em todo o estado de São Paulo foram roubadas ou furtadas 33 394 motos, numa alta de 11,6% em relação a 2020.

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As estatísticas de crimes divulgadas mensalmente não esclarecem se uma pessoa foi vítima de um bandido que estava a pé, de bicicleta, carro ou outro veículo, o que impede saber se há mais delitos sendo praticados usando esses veículos. “Apesar de não existir nenhuma análise, o que vemos nos sugere que tem havido, sim, um aumento dessa prática delituosa (de crimes com motos)”, afirma Rafael Alcadipani, professor da FGV e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O coronel Álvaro Batista Camilo, secretário-executivo da Polícia Militar de São Paulo, descarta a elevação de casos, mas diz haver uma superexposição deles. “A exposição na mídia repetidamente de uma mesma ocorrência acaba causando uma sensação de insegurança.”

Uma das imagens que viralizaram foi a que flagrou o assalto sofrido pela influenciadora digital e estudante de direito Kauana Santiago Viviani, de 19 anos, e seu namorado. No dia 26 de março, eles estavam no Jaguar dirigido pelo rapaz, quando, perto da casa dela, na Mooca, os dois foram abordados por homens em uma moto.

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Duas imagens. À esquerda, dois homens abordam um carro vermelho. À direita, os mesmos homens, vestindo capacetes de moto, abordando o vidro de motorista do carro
Motoqueiros abordam casal em Jaguar: imagens viralizaram. (Crédito/Reprodução)

“Eu pensei que fossem de delivery. Mas o que estava na carona e com a bag já desceu, pediu os celulares e gritava para passar as senhas, que eram anotadas pelo outro”, conta. Algumas vezes, as vítimas de roubos são os próprios entregadores dos aplicativos. É o caso de Izaias Nunes, de 31 anos, que no dia 19 de março teve sua moto levada por dois outros homens que também usavam uma motocicleta.

“Um deles tirou a marmita da bag, jogou-a no meu peito, daí eu reagi e atiraram. Sorte é que o disparo não me atingiu.” Depois de sair vivo, ele disse ter se lembrado do caso envolvendo o secretário de Segurança Pública de São José dos Pinhais (PR), Ricardo Kusch, que no dia 6 de março foi baleado e morto quando pilotava sua moto na Marginal Pinheiros.

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Imagem mostra homem vestindo farda escura sentado em frente a duas bandeiras.
Morte na Marginal: Ricardo Kusch era secretário da Segurança em cidade do PR. (Arquivo pessoal/Reprodução)

O uso da motocicleta para crimes vem de longa data, por ser ágil no trânsito e rápida para fuga. Outro fator é que os ocupantes usam capacete, o que torna difícil o reconhecimento, segundo José Vicente da Silva Filho, coronel reformado da PM de São Paulo. Camilo, secretário-executivo da PM, lembra que a polícia já desenvolve duas operações para tentar coibir a prática de crimes utilizando esses veículos.

Além disso, desde 21 de março foi desencadeada uma operação específica para abordar motociclistas, que em dezesseis dias (até o dia 5) parou 9 000 motos e prendeu 53 pessoas. “No final é uma grande briga de gato contra rato”, avalia José Vicente.

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Preocupada com a recente onda de roubos, a Associação de Bares e Restaurantes enviou um ofício à Secretaria de Segurança Pública reivindicando que os entregadores usem colete ou números e letras para que possam ser identificados. Dados da própria secretaria revelam aumento de roubos e furtos no primeiro bimestre deste ano em relação a 2020 em Pinheiros, Itaim Bibi, Moema, Santa Cecília e Jardins, regiões que concentram bares.

Imagem mostra tabela nas cores rosa e vermelho
*Em número de casos. (Crédito/Veja SP)

“As pessoas precisam ter mais segurança. Além disso, queremos proteger a imagem do delivery”, afirma o diretor da entidade, Percival Maricato. Gilberto Almeida, o Gil, presidente do Sindicato dos Motoboys de São Paulo, diz que a categoria já é regulamentada por duas leis federais e uma municipal, e rejeita a ideia.

Procuradas, Rappi e iFood, dois dos mais importantes serviços de entrega, informaram que estão à disposição para colaborar com as autoridades de segurança. Ambas, porém, dizem ter métodos próprios para cadastro e identificação e que não possuem controle sobre fraudes ou mesmo uso indevido de suas bags por bandidos.

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Publicado em VEJA São Paulo de 13 de abril de 2022, edição nº 2784

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