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Por que os motoristas de aplicativo passaram a recusar tantas viagens?

Passageiros dizem que está cada dia mais difícil pedir transporte enquanto trabalhadores se queixam de prejuízos; entenda motivos

Por Guilherme Queiroz
Atualizado em 27 jul 2021, 16h36 - Publicado em 27 jul 2021, 15h45
Imagem mostra mulher com celular na mão, acionando viagem pelo aplicativo da Uber. Ela segura também um livro e usa pulseiras no braço esquerdo, além de anéis nos dedos
 (Reprodução Instagram/Divulgação)
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Pedir uma viagem por aplicativo na capital paulista por vezes é uma tarefa que pode demorar mais do que o esperado: um, dois, três motoristas cancelam, até que o passageiro consiga alguém que tope o levar para o destino. Antes da pandemia, o fenômeno não era tão comum, mas nos últimos meses se acentuou: qual o motivo?

Conversamos com motoristas da Uber e da 99 e com as plataformas para entender o caso. “Rola bastante, eu mesmo costumo cancelar várias viagens“, relata Eduardo Andreazzi, 23. Na Uber há 2 anos, ele explica que, antes da pandemia, o preço do combustível era outro. “A taxa mínima (valor que é pago ao motorista) no Uber X é 5,25 reais, a gasolina está 5,40. Agora, que muitas vezes não tem muita demanda, a gente aproveita para selecionar uma viagem mais longa, se não, às vezes, não paga nem o combustível”, explica.

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O valor que o motorista recebe varia também de acordo com o número de quilômetros percorridos e o tempo gasto no trajeto. “Por quilômetro, é por volta de 1,10 reais e o tempo, 15 centavos a cada minuto”, diz Eduardo. Os valores praticados dentro da 99 são praticamente iguais.

Os motoristas relatam também que a chamada taxa mínima dos dois aplicativos não aumentam de valor desde 2016, o que encolhe ainda mais os ganhos, obrigando a seleção de trajetos mais vantajosos.

“Por vezes, o aplicativo manda a gente buscar um passageiro que está a 5 quilômetros para andar com ele 1 quilômetro. A tarifa mínima [do Uber X e do 99 Pop, 5,25 reais] não muda desde 2016 e o preço do combustível está alto demais, nosso custo operacional dobrou”, afirma Rosemar Pereira, 48, que atende pelas duas plataformas.

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“Nós nunca tivemos um reajuste de tarifas. Em 2016, para o motorista ganhar bruto de 320 a 350 reais por dia, precisava trabalhar de 8 a 10 horas. Hoje, são de 14 a 15 horas, com a diferença que antes abastecíamos o veículo com 60, 70 reais. Hoje, entre 100 e 140 reais”, afirma o presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo, Eduardo Lima.

Ele diz que o combustível ocupa 50% da despesa do motorista e afirma também que orienta os associados da Amasp, que conta com 36 000 membros, a não aceitarem trajetos das categorias Uber Promo e 99Poupa, que têm preços menores do que as categorias regulares. “O motorista praticamente tira dinheiro do bolso para concluir a corrida. A taxa mínima ali por vezes é de 4,90. Já não temos um reajuste, alimentar esse tipo de corrida só piora”, comenta Lima, que afirma que boa parte dos cancelamentos costuma ocorrer nessa categoria.

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O que dizem as empresas

De acordo com a Uber, a categoria Promo oferece viagens a preços menores, “portanto os usuários pagam menos, a Uber ganha menos e os motoristas parceiros também. Os motoristas são livres para escolher se querem ou não atender essa modalidade”, diz a empresa em nota enviada à Vejinha. Já a 99 diz que a Poupa “é uma das categorias [criadas] com o objetivo de minimizar a crise provocada pela pandemia e aumentar a eficiência na rotina do motorista, pois estimula a corrida em momentos de menor demanda. O  motorista parceiro tem a liberdade de desabilitar o 99Poupa a qualquer momento e sem qualquer tipo de restrição”.

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“Antes da pandemia, quando havia valor dinâmico às 18h [Uber e 99 aumentam o preço da corrida em locais com alta demanda], se você pegasse uma viagem ruim, depois podia pegar uma boa. Hoje, você já aproveita para pegar uma longa, porque pode não achar outra assim depois”, afirma Eduardo Andreazzi.

A Uber afirma, no entanto, que a demanda aumentou “nas últimas semanas, conforme o avanço da campanha de vacinação e reabertura progressiva de atividades comerciais”. Por isso, segundo a empresa, os usuários estão esperando mais tempo por uma viagem: “especialmente nos horários de pico, há mais chamados do que parceiros dispostos a realizar viagens”. A 99 relata que desde o final de 2020 retomou o “volume de corridas no período pré-pandemia”.

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“Os ganhos de quem dirige com app da Uber têm sido maiores desde o início do ano. Em São Paulo, por exemplo, os parceiros que dirigem por volta de 40 horas ganharam, em média, de 1 200 a 1 300 reais por semana”, diz a Uber. “A gente pode até faturar 1 300 reais por semana, mas aí tira 600, 700 reais de gasolina. Se fura um pneu então…”, argumenta o motorista Rosemar Pereira.

Sobre o preço dos combustíveis, a Uber afirma que entende “a insatisfação”, mas que o fator “foge ao” controle da empresa e lista parcerias que conferem 4% de cashback para os motoristas em postos da rede Ipiranga. Nem a 99 nem a Uber se pronunciaram sobre as queixas com o preço da taxa mínima. “Garantimos 10% de desconto em todo o abastecimento em postos da rede Shell. Também estamos, em datas estratégicas, zerando as taxas aplicadas nas corridas, ou seja, 100% do valor é repassado ao motorista parceiro”, diz a 99.

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Para Eduardo Lima, da Amasp, as empresas poderiam procurar outras soluções para cobrir o aumento do custo operacional dos motoristas. “Eles poderiam, por exemplo, abaixar a taxa cobrada por eles (25% a 40% do valor da viagem)”.

A Uber afirma que  opera “um sistema de intermediação de viagens dinâmico e flexível, por isso buscamos sempre considerar, de um lado, as necessidades dos motoristas parceiros e, de outro, a realidade dos consumidores que usam a plataforma, tendo em vista a necessidade de preservar o equilíbrio entre oferta e demanda que é fundamental para a plataforma”. Já a 99 diz que está “ampliando as ações voltadas para a geração de renda para os motoristas parceiros”.

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