Mana Manutenção faz serviços de reforma e reparos só para mulheres
Empresa formada por equipe feminina nasceu depois de episódio em que "marido de aluguel" disparou perguntas como "Você está sozinha?"
Imagine receber um prestador de serviços em casa que, enquanto faz o trabalho, dispara diversos xavecos e perguntas estranhas, deixando a cliente extremamente desconfortável. Esse episódio de assédio ocorreu com Ana Luisa Monteiro Correard, 31, fundadora do Mana Manutenção, empresa que presta serviços de reforma e reparo com mão de obra exclusivamente feminina. Em 2015, Ana havia recebido um entregador de gás que fazia questionamentos inconvenientes, do tipo “Cadê seu namorado?” e “Você está sozinha?”. Insegura em sua própria casa, a empreendedora, formada inicialmente em cinema de animação, resolveu aprofundar seus conhecimentos em reparos domésticos e oferecê-los a clientes mulheres pelo Facebook.
A publicação sobre o serviço viralizou na rede social e chegou até Katherine Pavloski, 31. A arquiteta, que já tinha planos de abrir a própria empresa de obras, enviou uma mensagem pedindo para ser sócia quando o empreendimento tinha apenas quinze dias de existência. Juntas, elas investiram 10 000 reais na empreitada. “Estava me recuperando de uma cirurgia de câncer na garganta. Uma das causas da doença foi o stress do trabalho de escritório. Estava desiludida e queria até mudar de profissão. A ideia da Ana apareceu como se fosse um caminho para mim”, conta Katherine.
A divulgação acabou atraindo outras mulheres para a empresa — toda a identidade visual da marca foi feita por uma designer. A equipe tem atualmente sete profissionais fixas — mais especialistas de outras empresas, que são chamadas sob demanda — que prestam serviços como instalações de prateleiras, pisos, cortinas e quadros, montagem de móveis, pintura, instalações e reparos elétricos, hidráulicos e de drywall. “Erguemos paredes para dividir ambientes, só não construímos casas do zero”, explica a arquiteta sobre a nova demanda durante a pandemia: obras mais complexas e criação de home office. Antes, a maioria dos pedidos era de manutenções pontuais, como troca de tomadas.
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Katherine acabou assumindo a direção da empresa sozinha quando Ana, que começou tudo, decidiu se mudar para o Uruguai. A arquiteta nasceu em Curitiba e trabalhava no Rio de Janeiro. Há sete anos veio a São Paulo para um trabalho temporário e não quis mais ir embora. Foram os avôs dela, que construíram a própria casa, quem a ensinaram o ofício.
Os orçamentos são individuais, cobrados por serviço, enviados pelo WhatsApp 96162-2345 ou pelo e-mail oi@manamanutencao.com.br. O preço mínimo do trabalho é de 200 reais. Para obras, é necessária uma visita técnica, que custa 80 reais. O atendimento acontece de segunda a sábado, das 9h às 17h, apenas para a capital paulista. A Mana atende casais, mas é obrigatório que uma mulher esteja presente durante o atendimento. A empresa não presta serviços em residências em que estejam apenas homens.
Apesar de não existir formação universitária na área de manutenção e reparos, todas as integrantes da Mana fizeram — e ainda fazem — cursos especializados. Katherine dá aulas de elétrica e já fechou parceria com marcas para o aperfeiçoamento. Com a Deca, para que as mulheres da equipe pudessem se aprofundar sobre sistemas hidráulicos, e com a Suvinil, para aprimorar a pintura. “É um trabalho geralmente ensinado de geração para geração e dominado por homens. Nós temos de estudar muito e não podemos errar, porque duvidam da nossa capacidade”, afirma a arquiteta. Hoje, o faturamento mensal da empresa é de 10 000 a 15 000 reais. Durante os atendimentos na pandemia, as prestadoras trocam de sapato antes de entrar na casa da cliente, usam luvas e máscaras e higienizam as ferramentas com álcool 70%.
A Mana prega o empoderamento feminino de prestadoras de serviço e clientes ao compartilhar conhecimento da área. As mulheres administravam aulas presenciais de manuseio de ferramentas e módulos de hidráulica, elétrica e pintura básica nos fins de semana na garagem de Katherine (os encontros estão suspensos desde março). “É autonomia para a mulher trocar sozinha um chuveiro queimado no inverno.” A arquiteta conta também que as clientes contratam a Mana não só pelo serviço, mas porque dividem os mesmo valores e ideais e querem fomentar a economia feminina.
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Publicado em VEJA São Paulo de 10 de fevereiro de 2021, edição nº 2724