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A chegada da HBR Aviação causa turbulência no setor de helicópteros

Empresa tem obras paralisadas por problemas ambientais, brigas na Justiça contra o vizinho SBT e pechinchas para roubar clientes da concorrência

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 16h20 - Publicado em 12 fev 2016, 23h00

Em 2013, ao contabilizar aproximadamente 2 000 pousos e decolagens por dia, São Paulo ultrapassou Nova York no posto de cidade do mundo com maior trânsito de helicópteros, segundo levantamento da associação brasileira de pilotos do setor, a Abraphe. Há hoje por aqui cerca de 500 aeronaves (o equivalente a 20% da frota nacional), desde os pequenos Robinson R44, com capacidade para três passageiros e preços a partir de 670 000 dólares, até máquinas como o Eurocopter EC 145.

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Cotado a 13 milhões de dólares, é um dos meios de transporte preferidos de gente como o empresário Anderson Birman, dono da Arezzo. A aeronave carrega dez pessoas, além de dois pilotos, e possui autonomia de 680 quilômetros, o suficiente para viajar, sem parada, até capitais como o Rio de Janeiro.

HBR - Aérea
HBR – Aérea ()

Esses aparelhos sofisticados exigem manutenção cara, geralmente deixada aos cuidados das administradoras de hangares. Além de funcionarem como garagem, essas empresas oferecem vários serviços, como oficina mecânica, limpeza, segurança e apoio para embarque e desembarque de passageiros. Três companhias dominavam o setor até janeiro de 2015, quando ocorreu a inauguração da HBR Aviação, em Osasco. Da decolagem das obras à tomada e sustentação da liderança, a HBR vem percorrendo uma trajetória turbulenta.

Respondeu a processo por problema ambiental durante a construção, irritou um vizinho poderoso, o SBT, de Silvio Santos, tem entre seus principais colaboradores um executivo com uma ficha enrolada na Justiça e atraiu a ira da concorrência ao oferecer taxas até pela metade do preço. A política da pechincha provocou estragos na fuselagem financeira das concorrentes. Só de uma delas, a Helicidade, no Jaguaré, a HBR roubou mais de dez clientes, o que resultou em um prejuízo estimado em 2 milhões de reais ao ano. Os empresários Anderson Birman e João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, da Hypermarcas, fazem parte da lista dos que voaram para Osasco.

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Oficina HBR
Oficina HBR ()

Construída no quilômetro 15 da Rodovia Anhanguera com um investimento de 70 milhões de reais, a HBR é o maior negócio do gênero na América Latina. Com terreno de 50 000 metros quadrados, tem 20 000 de área construída. Pode abrigar simultaneamente 200 helicópteros, entre garagem e manutenção, capacidade superior à das concorrentes somadas. A estrutura inclui uma academia de ginástica e salas de descanso para os pilotos. Na rotina do local, cujos clientes são extremamente ricos, inúmeros caprichos são presenciados. Certa vez, Maythe Birman, mulher de Anderson, pediu para o piloto voar de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, até São Paulo para pegar um novo pneu para a sua bicicleta.

“Uma outra pessoa quis comer o pudim de sua mãe, então o comandante saiu de Angra dos Reis para buscar o doce aqui em São Paulo para ser a sobremesa do almoço”, conta uma das pessoas que acompanharam de perto a operação de “emergência”. A HBR quer se colocar no setor como o lugar ideal para o cliente resolver todos os problemas e ter qualquer tipo de desejo atendido. “Não entrei nessa área para brincar”, afirma o proprietário Cesar Parizotto, de 49 anos. Depois de vender a construtora Inpar, em 2010, ao fundo americano Paladin por estimados 180 milhões de reais, sua família resolveu investir em outros ramos. A HBR nasceu como fruto de uma paixão antiga de Parizotto. “Tirei o brevê aos 18 anos e passei a voar como hobby”, conta.

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As polêmicas que envolvem o empreendimento começaram pouco depois que 12 500 caminhões iniciaram o trabalho de aplainamento do terreno em Osasco, localizado ao lado do SBT, com a remoção de 100 000 metros cúbicos de terra. Nos corredores do canal de Silvio Santos espalhou-se na época o temor de que os ruídos causados pelos pousos e decolagens atrapalhassem a gravação de novelas e dos programas de auditório. Entre outubro de 2012 e maio de 2014, os telejornais da emissora dedicaram reportagens à construção, abordando sempre em tom de denúncia problemas que iam de supostas irregularidades no licenciamento da empresa a greves de funcionários no canteiro de obras.

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Helipark - Aérea
Helipark – Aérea ()

Para os responsáveis pela HBR, a campanha levou alguns órgãos de fiscalização a analisar o caso com excesso de rigor. A Cetesb, por exemplo, interditou os trabalhos dos operários em dezembro de 2013 por falta de licenciamento ambiental. Parizotto conseguiu retomar a construção com uma liminar e, em janeiro de 2014, obteve a licença definitiva. Mas as pendengas nos tribunais ainda não acabaram.

Neste momento, encontra-se em fase final um processo movido pelo Ministério Público Estadual, que iniciou em 2013 uma investigação sobre supostas irregularidades da obra e seus impactos ambientais e urbanísticos. A promotoria aguarda alguns dados para terminar seu parecer. “A única coisa que falta é um laudo da Cetesb sobre estudo de impacto de vizinhança”, diz a promotora Fernanda Karan Franco, responsável pelo caso. Se o relatório final apontar problemas, o MPE pode pedir às autoridades competentes determinadas adequações ou, em caso mais drástico, o embargo de suas atividades.

Helicidade
Helicidade ()

O time encarregado da defesa da HBR está otimista com o desfecho do caso e acha que esse será o último capítulo de questionamentos legais que a empresa vai enfrentar. Ricardo Col lucci, advogado da companhia, considera que o imbróglio com o SBT acabou sendo resolvido graças à vitória de uma ação de tutela antecipada, em 2014, segundo a qual a emissora corre o risco de pagar uma multa de 100 000 reais se veicular alguma matéria tendenciosa.

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Procurado por VEJA SÃO PAULO, o SBT não quis comentar. “O complexo de TV tem quatro helipontos e fica ao lado da Rodovia Anhanguera, um corredor aéreo. Não faz sentido dizer que nós faríamos barulho”, afirma Collucci. Helicidade, Helipark e Helicentro Morumbi têm autorização da Anac para fazer 7 000 pousos e decolagens por ano, ao passo que a HBR tem limite superior: 36 500 movimentos anuais. Em uma quinta-feira de dezembro, por volta das 17 horas, a reportagem de VEJA SÃO PAULO, junto da consultoria de engenharia Ieme Brasil, constatou 65 decibéis de ruído na região — o equivalente ao barulho de um bar quando movimentado.

Joao Doria
Joao Doria ()

Se as questões com Silvio Santos parecem resolvidas, o mesmo não se pode dizer da guerra contra a concorrência. O negócio segue quente nos bastidores. Os competidores acusam Parizotto de fazer jogo sujo para conquistar a freguesia. “Eu não ofereço serviço de graça a ninguém”, afirma João Velloso, dono do Helipark, em Carapicuíba, citando a prática de uma espécie de “bolsa hangaragem”. O comentário no mercado é que a HBR concede seis meses de isenção de cobrança aos novos clientes. “Não sei como ele consegue se manter”, diz Edson Pedroso, diretor do Helicidade.

Helicentro Morumbi
Helicentro Morumbi ()
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Em seu primeiro ano de operação, a HBR conquistou 100 donos de aeronaves e faturou pelo menos 1 milhão de reais por mês. “Em seis meses, já estava funcionando com 50% de minha capacidade”, comemora Parizotto. Em dezembro, porém, o empresário demitiu dez funcionários de seu quadro (200 pessoas trabalham no lugar). “Tivemos de fazer um ajuste para enfrentar o período de crise.” Sobre as queixas de competição desleal, o novato acha que há uma choradeira excessiva de quem sempre ditou os preços do setor. “Eles enfiavam a faca porque os clientes são ricos e a economia estava em alta”, rebate.

Até a sua chegada, as taxas praticadas eram de 22 000 reais mensais para cuidar de um helicóptero de grande porte (a HBR pede 11 000 reais). A respeito do bolsa hangaragem, Parizotto admite a prática, mas por um período menor. “Dou três meses de isenção.” Para o dono da HBR, a política de preços não é a única explicação para o sucesso da empreitada.

“Ofereço a manutenção mais segura, com os melhores profissionais”, acredita. “O Thomaz sofreu um acidente aéreo saindo do Helipark”, cita, referindo-se ao filho do governador Geraldo Alckmin que morreu em um desastre ocorrido em abril do ano passado, junto com os outros quatro ocupantes de um Eurocopter EC 155. O caso está sendo investigado pela Força Aérea Brasileira. Sobre o assunto, o discreto João Velloso, do Helipark, limitasse a dizer: “Ninguém pode tratar do caso sem o parecer final da FAB”.

Fábio Tinelli
Fábio Tinelli ()

A decolagem meteórica de Parizotto fez circular na rádio piloto que ele não estaria sozinho na empreitada. O empresário Marco Antônio Audi, dono da Tucson Aviação, especializada em hangaragem de jatos particulares e na venda de helicópteros Robinson, localizada no Campo de Marte, seria um sócio oculto. Oficial mente, ele trabalha apenas como consultor da HBR. “Audi entende como poucos desse segmento. Como entrei nesse mercado para ser líder, contratei os melhores profissionais”, justifica Parizotto.

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João Velloso
João Velloso ()

O executivo tem conta eletrônica da empresa e dispara e-mails em busca de clientes, sempre espezinhando os adversários. “Somente para se ter uma ideia, nosso pátio de estacionamento de aeronaves é maior que todo o terreno do Helicidade”, escreveu recentemente para o dono de um helicóptero. Audi foi o responsável pela revoada dos donos de helicópteros para Osasco. Entre eles, Amilcare Dallevo Jr., da RedeTV! (dono de um Bell 206, um Agusta A109 e um Robinson R44), e João Alves de Queiroz Filho (Bell 429). Ao lado de dois sócios brasileiros e do fundo americano Matlin Patterson, Audi comprou, em janeiro de 2006, a VarigLog e, depois, a Varig, operações que envolveram 500 milhões de dólares.

Em 2007 ele foi afastado da VarigLog pela Justiça, acusado de má gestão e desvio de recursos. “O Parizotto é um homem extremamente rico, não precisaria de um laranja para entrar no mercado de hangaragem”, diz Audi. “Na verdade, o que existe é uma guerra de comadres. As companhias, que tinham vida fácil, estão bravas porque perderam clientes.” O horizonte previsto para 2016 continua de nuvens carregadas. Enquanto Helipark, Helicidade e Helicentro Morumbi torcem para o novato Parizotto se esborrachar no chão, a HBR promete continuar acelerando fundo na sua política de baixo custo. A batalha dos helicópteros na cidade está apenas começando.

Anderson Birman
Anderson Birman ()
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