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Flávia Rodrigues é a nova líder da associação de moradores de Paraisópolis

Filha de empregada doméstica e de pedreiro, jovem comandará entidade que atende 100 000 moradores e comerciantes na favela

Por Clayton Freitas
Atualizado em 23 set 2022, 13h03 - Publicado em 23 set 2022, 06h00

Cria da favela, já que nasceu em Paraisópolis, Flávia Campos Rodrigues, 24 anos, é a pessoa com menos idade e a primeira mulher a presidir a União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis, a mais importante associação do bairro.

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A jovem, que há sete anos nem sabia muito bem o que era a União, hoje, como “prefeita de Paraisópolis”, coordena doze ações de impacto social na favela, que realizam diretamente 43 200 atendimentos por ano e mais de 120 000 indiretamente, com direito a viagens ao exterior, a mais recente na comitiva da empresária Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magalu.

Flávia Rodrigues sorri ao lado de Luiza Trajano, da Magalu
Durante encontro de mulheres em Miami com a empresária Luiza Trajano, do Magalu (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Atualmente cursando a sua segunda graduação, em direito, Flávia é vaidosa. Gosta de usar sapatos de salto alto e roupas alinhadas e exibe suas longas madeixas encaracoladas e um sorriso largo. Quem a vê hoje não imagina as dificuldades já vividas — de passar fome à pobreza menstrual (falta de condições para adquirir itens básicos como absorventes).

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Flávia Rodrigues segura seu diploma em Marketing ao lado de três irmãos
Com alguns de seus irmãos na formatura em marketing, em 2021, hoje ela cursa direito (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Filha de um pedreiro e de uma empregada doméstica, que ainda hoje luta para deixar de ser dependente de álcool, tem outros doze irmãos. Segundo conta, o vício da mãe impediu que fosse levada para o colégio, o que a fez repetir o terceiro e o quarto anos do ensino fundamental.

Mais tarde, com a separação dos pais, veio a fome. “Chegou a uma situação em que não existiam mais condições em casa e minha mãe não teve como nos sustentar.”

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A saída foi ir morar com a avó materna em Vitória da Conquista, na Bahia. Na época a família era composta de sete irmãos, e só um deles ficou com a mãe em São Paulo. Entre outras funções, Flávia ajudou na plantação de mandioca da avó e também cuidava dos irmãos mais novos.

Ainda na Bahia, continuou a estudar e atuou como cuidadora de idosos. “Na minha cabeça, só a educação seria a saída”, diz. De volta a Paraisópolis cinco anos depois, aos 14 anos, encontrou uma situação muito pior em casa, já que sua mãe teve mais filhos e vivia apenas da renda do Bolsa Família.

Flávia Rodrigues em campanha de distribuição de absorventes para 1 000 mulheres da favela
Em distribuição de absorventes para 1 000 mulheres da favela (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Obrigada a dormir no sofá, já que não havia espaço em casa, Flávia, devido à situação de sua mãe, cuidou de seus novos irmãos. Depois de uma saga por moradia, que incluiu morar de favor com uma amiga e em uma obra que só contava com as paredes e o telhado, conseguiu emprego e dinheiro para alugar um barraco e chamou uma irmã para ir junto.

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Aos 16 anos, fazia faxina para se sustentar e ajudar a comprar leite e fralda para os irmãos, e, mais tarde, foi operadora de caixa num supermercado.
Aos 17 anos, conheceu a União dos Moradores e Comerciantes de Paraisópolis, onde começou a participar de cursos e, posteriormente, se engajou em trabalhos voluntários.

Na pandemia, coordenou o trabalho dos chamados presidentes de rua, um esquema que reunia 658 voluntários residentes na favela para cuidar, cada um, de moradores de cinquenta casas. Devido à sua atuação, foi convidada em 2021 para presidir a Associação de Mulheres do bairro. “Eu me questionava: ‘Como eu posso cuidar de mulheres, se nem o problema da minha mãe eu consigo resolver?’. Depois, aceitei o convite”, afirma.

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Flávia com seu retrato em painel de prédio ao lado do Viaduto do Chá
Retratada em painel de prédio ao lado do Viaduto do Chá por seu trabalho social (Arquivo Pessoal/Divulgação)

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Com o destaque nos trabalhos que realizou, foi convidada pelo líder comunitário Gilson Rodrigues, 38 anos, que comandou a União por treze anos, para suceder a ele. Corajosa para enfrentar os desafios à frente do cargo, diz que seu único medo até agora foi o de entrar em um avião pela primeira vez. “Achei que ia morrer”, diz.

Flávia Rodrigues segura uma faixa em uma rua de Nova Tork
Durante visita à Bolsa de Valores de Nova York (Arquivo Pessoal/Divulgação)

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Publicado em VEJA São Paulo de 28 de setembro de 2022, edição nº 2808

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