Complexo com Zoo, Safári e Jardim Botânico terá maior reforma em 40 anos

Com investimento de 300 milhões, Biosfera Parque terá mais espaço para animais, educação ambiental e experiências imersivas

Por Clayton Freitas e Tiago Galvão
Atualizado em 27 Maio 2024, 21h32 - Publicado em 16 set 2022, 06h00
Onça-pintada
Onça-pintada: um dos animais em risco de extinção protegido pelo Zoo (Paulo Gil/Zoo SP/Divulgação)
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Professora de ginástica paralímpica que veio a São Paulo com um grupo de quinze crianças, a paranaense Monica Galdino, 45, deu de presente aos seus pupilos um passeio pelo Zoo SP. “Até tem zoológico na minha cidade, mas eu nunca vi os animais fora das grades ou vidros. Alguns aqui ficam só atrás do muro baixinho”, afirmou Renata Alves, 13, medalha de ouro nos 1 000 metros, uma das estrelas do grupo. Caso volte a São Paulo e repita o passeio no ano que vem, é bem provável que perceberá mudanças, já que a direção do Zoo SP prepara a maior reformulação no espaço desde os anos 1980, banho de loja que também vai incluir o Jardim Botânico e o Zoo Safári, seus vizinhos.

Uma das mudanças incluirá a atual disposição dos bichos nos parques e também melhorias nos recintos onde eles são expostos. Para isso, uma das ideias é camuflar as barreiras aparentes de grades metálicas usando materiais da natureza, como arbustos e toras, além de ampliar espaços para alguns animais, trocar outros de lugar e, em alguns casos, agrupá-los tal qual eles são encontrados em seu hábitat, por bioma. O plano inclui ainda a criação de uma plataforma suspensa a 6 metros de altura de quase 2 quilômetros para acessar a entrada, trecho que o visitante poderá percorrer a pé para apreciar a vista ou com uma espécie de trenzinho elétrico. Um enorme deque no entorno do maior lago do complexo para contemplação, novos restaurantes, anfiteatro e reforma e ampliação dos estacionamentos também são alguns itens da lista.

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Leão no Zoológico
Mais espaço: com mudança, leão ocupará 6066 metros quadrados, em vez dos 623 atuais (Leo Martins/Veja SP)

Quem tocará a empreitada é a Reserva Paulista, um grupo de empresas que tem à frente a LivePark, especializada na operação de arenas e eventos, e que desde dezembro de 2021 passou a comandar os três parques por ter vencido a licitação do governo estadual para administrá-los. Além de pagar 120 milhões de reais para poder explorar os espaços por trinta anos, ela será obrigada a investir perto de 300 milhões até 2027 para propor todas essas mudanças, além de desembolsar anualmente 62 milhões para manter o serviço.

“A última vez que tivemos uma grande reforma aqui (Zoo) foi em 1980, há mais de quarenta anos, e um monte de coisa evoluiu, inclusive na questão da gestão dos ativos biológicos. Essa reformulação vem para melhorar a infraestrutura, mas o foco principal é o bem-estar animal e a atividade de educação ambiental”, afirma Rogério Dezembro, CEO da LivePark.

A concessionária já fez algumas melhorias. Uma delas, a de venda de ingressos on-line, resolveu uma das maiores dores de cabeça dos usuários, que chegavam a passar horas na fila do lado de fora para comprar o tíquete. Pontos de venda de alimentos e bebidas foram reabertos, máquinas de vendas com autoatendimento foram espalhadas pelo parque e opções mais saudáveis foram incluídas no cardápio dos restaurantes. A reportagem visitou quatro banheiros masculinos, e todos eles estavam limpos, com papel higiênico disponível e sabonete para lavar as mãos.

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Dois detalhes chamaram atenção: o primeiro é a quantidade de bancos disponíveis para descanso — foram implantados 150, todos feitos de garrafas PET — e as placas que denominam os bichos, muitas delas com bom humor, como no caso da zebra, cuja inscrição diz: “Meu look nunca sai de moda!”. “Ele presta mais atenção no que diz a placa do que no passeio”, diz Roger Tiago dos Santos, 39, pai de Renan, 6. Também tornou permanente a visita durante a noite a animais com hábitos noturnos, como corujas.

Outras mudanças, como a reforma nos estacionamentos, começam a ser implementadas já em 2023. Outras ainda demandam projetos e precisam ser autorizadas por órgãos ambientais e do patrimônio. Elas englobam o planejamento de tudo que a concessionária pretende fazer nos trinta anos de concessão, chamado de masterplan, uma espécie de plano diretor dos parques, que tem como objetivo colocar de pé as obrigações previstas no contrato. Ele foi elaborado com a participação dos renomados escritórios dos arquitetos Indio da Costa e Biselli Katchborian. Quem coordena a execução do masterplan junto à Reserva Paulista e também elaborou os planos para o Zoo Safári foi a Effect Arquitetura. O plano de intervenções só foi apresentado à Secretaria da Infraestrutura e Meio Ambiente no dia 15 de agosto. “Estamos no meio da Mata Atlântica. Não podemos quebrar nenhum galho, mexer muito na terra ou arrancar árvore alguma”, afirma o arquiteto e urbanista Celso Grion, da Effect.

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A maior parte do trabalho não demanda grandes obras de engenharia. Aquelas que necessitarem de perfurações ou montagens, como no caso do deque de mais de 30 000 metros quadrados no entorno do lago principal projetado pelo paisagista Burle Marx, ou mesmo a passagem suspensa, usarão métodos menos invasivos de construção. “Vamos trocar o pneu com o carro andando”, afirma Eduardo Rigotto, diretor da LivePark.

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COMPLEXO EM NÚMEROS

1,1 milhão de metros quadrados

Este é o total de toda a área dos três parques juntos, que estão dentro de Mata Atlântica nativa e integram o Parque Estadual das Fontes do Ipiranga

1770 animais

Os bichos estão divididos em 225 espécies, sendo 30% delas ameaçadas de extinção, como a onça-pintada e o mico-leão-da-cara-dourada

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1264 plantas

O quase centenário Jardim Botânico (criado em 1928) oferece uma grande variedade de espécies em exposição, das quais 145 são botânicas

300 milhões de investimento

Os valores estão sendo revertidos para a reformulação e a integração dos parques nos primeiros cinco anos da concessão (dezembro de 2027)

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COMO SERÃO AS MUDANÇAS NO ZOO SP, SAFÁRI E JARDIM BOTÂNICO

1. Novo nome do complexo

A integração dos três parques será batizada de Biosfera Parque. O irerê, uma espécie de marreco que migra para o Zoo SP, foi escolhido para simbolizar a junção

2. Disposição dos animais no Zoo e no Safári será alterada

Os animais de cada parque serão divididos pelos biomas aos quais eles pertencem, e não pelas espécies; novos restaurantes serão temáticos

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3. Deque

Estrutura de 30 000 metros quadrados no entorno do lago servirá para contemplação e também para a dispersão do público e será construída logo acima da vegetação para manter a permeabilidade do solo

4. Caminho suspenso

Uma estrutura metálica ligará os dois estacionamentos até a entrada, percorrendo de forma paralela a Avenida Miguel Stefano, só que dentro da área verde

5. Manejo dos animais

Assim que a divisão dos biomas estiver completa, até 2025, os biólogos poderão colocar mais animais diferentes juntos, como eles vivem na natureza; isso já ocorre em alguns dos recintos

Avestruz e veado em recinto do Zoo SP
(Leo Martins/Veja SP)

6. Estacionamentos

Atualmente eles são de cascalho e terra. Serão trocados por asfalto permeável. As vagas passarão das atuais 2 000 para 3 000, podendo ser ampliadas para até 5 000

7. Entrada única

A nova entrada ficará no meio do complexo e servirá como um centro de distribuição para que os visitantes acessem os parques para os quais compraram ingressos

Mapa de cima do Complexo do Zoo SP, Safári e Jardim Botânico após a reforma
(Reprodução/Reprodução)

8. Acessos ao Jardim Botânico e ao Safári SP

A nova entrada permitirá ao visitante conhecer melhor um trecho do Jardim Botânico pouco visitado. No Safári, o visitante terá de usar um carro do próprio parque

“Se fosse mais barato, viríamos mais”

Uma das maiores críticas dos visitantes do Zoo SP é em relação ao valor do ingresso, de 69,90 reais no preço cheio, e também do estacionamento, de 50 reais. Para muitos, esses são os principais fatores que limitam novas visitas. “Realmente é algo que pesa no bolso. Só vim porque estou em férias e queria trazer o pivete”, diz o ajudante geral Henrique Pereira Silva, 28 anos, pai de Renan, de 3. Apesar de o filho não pagar pela entrada, Silva teve de desembolsar 140 reais para que ele e a mulher, Adriana, 30, entrassem. Supervisor da área de serviços, Agnaldo Domingues, 55, trouxe a sobrinha, Beatriz, 15 anos, pela primeira vez para conhecer o parque. “Eu não vinha fazia muito tempo e nem sei qual vai ser a próxima”, afirma.

Casal com seu filho pequeno no zoológico de SP
Crítica: Henrique e Adriana desembolsaram 140 reais (Leo Martins/Veja SP)

Eduardo Rigotto, diretor da LivePark, discorda que o valor do ingresso para a entrada no Zoo SP seja um limitador. “A cidade de São Paulo conta com várias outras opções de lazer com preços similares. Além disso, na verdade, o nosso tíquete médio é de 44 reais”, afirmou. Para chegar a esse cálculo, ele dá como justificativa a existência de várias gratuidades — como de crianças e estudantes que visitam o parque.

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Axolotes ganham “mansão”

Sucesso no jogo eletrônico Minecraft, os axolotes que hoje moram num pequeno aquário no Zoo SP ganharão uma espécie de “mansão” com mais de 200 metros quadrados numa praça do parque, num conceito imersivo inédito. Eles também terão um embaixador, o youtuber Marco Túlio, referência do Minecraft no Brasil.

Axolote dentro de um aquário
Efeito Minecraft: axolote é uma pequena salamandra reverenciada pelos adeptos do jogo (Leo Martins/Veja SP)

O espaço contará com três ambientes, sendo o primeiro um túnel coreografado de cerca de 3 metros com temática remetendo ao México, país onde o “deus do fogo” é muito valorizado. O segundo terá uma apresentação tridimensional feita de resina que poderá ser tocada; e o terceiro, a exposição dos animais, será onde o visitante vai encaixar a cabeça no aquário curvo para ver os fofos bichinhos de pertinho.

Conservação será ampliada

Uma importante atividade desenvolvida no Zoo SP está ligada à conservação de espécies, já que 31,55% de todas as existentes no parque estão ameaçadas de extinção. Entre elas estão algumas que correm maior risco de desparecer, e o Zoo SP atua em vinte programas de conservação e pretende dobrar esse número nos próximos dois anos.

Macaco-aranha pendurado em uma apoio de madeira no Zoo
Macaco-aranha (Paulo Gil/Divulgação)

Para isso, firmou um convênio de cooperação técnica com a Azab (Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil). Na prática, o que eles fazem é criar uma rede para que vários locais do país tenham uma espécie de “backup” de animais. Algumas dessas espécies podem ser conferidas pelos visitantes, como mico-leão-da-cara-dourada; jacutinga, macaco-aranha e onça-pintada.

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Mico-leão-da-cara-dourada
Mico-leão-da-cara-dourada (Paulo Gil/Divulgação)
Jacutinga
Jacutinga (Paulo Gil/Divulgação)

Erramos: diferentemente do que foi informado na reportagem original, o nome do diretor da LivePark é Eduardo Rigotto, não Celso Rigotto. Pedimos desculpas pelo erro

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Publicado em VEJA São Paulo de 21 de setembro de 2022, edição nº 2807

 

 

 

 

 

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