Condomínios comerciais modernos têm prédios vazios na capital
Estudo de consultoria imobiliária mostra que a quantidade de salas comerciais desocupadas chega a 30%, recorde nos últimos quinze anos
Lançado em novembro de 2014, o condomínio São Paulo Headquarters, na Marginal Pinheiros, em Interlagos, é um dos mais modernos do país. Fruto de um investimento de mais de 100 milhões de reais, bancado pela incorporadora Fibra Experts, o endereço dispõe de quatro torres que podem abrigar aproximadamente 100 escritórios — com aluguéis de 110 000 reais por mês para um ambiente de 1 000 metros quadrados —, além de um shopping no térreo, incluindo praça de alimentação. No terreno há ainda amplos jardins e 2 300 vagas de estacionamento.
Até agora, no entanto, apenas um único espaço foi alugado. Trata-se da filial da empresa petroquímica mexicana Mexichem. Ela ocupa, com seus 115 funcionários, o segundo dos doze andares de um dos espigões. Das 25 lojas disponíveis para locação no térreo, apenas cinco estão abertas. “Não esperávamos trabalhar sozinhos em um lugar desse porte”, comenta a diretora de RH da companhia, Adriana Garcia. “Por um lado, é legal tanto espaço só para a gente. Por outro, faltam serviços, como restaurantes.”
O São Paulo Headquarters é um dos cerca de dez complexos corporativos de alto padrão inaugurados na cidade nos últimos dois anos que estão com menos de 7% de ocupação. Nesses lugares, os aluguéis custam entre 70 000 e 200 000 reais por mês. Alguns permaneciam completamente vazios em dezembro, caso do Jacarandá, edifício espelhado de seis andares entregue em 2015 na Berrini, e do Atlas Office Park, conjunto de quatro prédios lançado em 2016 na Vila Leopoldina, na Zona Oeste. Além deles, dezenas de condomínios comerciais espalhados por toda a capital estão com andares inteiros desocupados.
Um estudo da Buildings Pesquisa Imobiliária, renomada empresa da área, quantificou o fenômeno. Em 2016, a taxa de vacância, índice dos espaços imobiliários vagos e disponíveis para locação, atingiu o maior porcentual em toda a cidade desde 2002: 30%. As regiões mais atingidas são as imediações da Marginal Pinheiros.
Especialistas do setor acreditam que isso se deve ao excedente de lançamentos corporativos. São edifícios que começaram a ser construídos entre 2012 e 2013, quando o mercado estava superaquecido, com uma procura maior do que a oferta de espaços disponíveis. Para se ter uma ideia, naquela época, a taxa de vacância era de apenas 12%. Esses empreendimentos, no entanto, só foram entregues nos últimos dois anos. Com a crise econômica, a quantidade de interessados já havia despencado, tanto para compra como para locação. “Em consequência disso, começaram a sobrar lugares vagos”, diz Paulo Casoni, diretor de outra consultoria, a JLL Pesquisa Imobiliária.
Para tentar driblar a situação e garantir os negócios, algumas companhias passaram a bancar obras de finalização, instalando pisos e aquecedores sem cobrar nada. A “cortesia” chega a 1 500 reais por metro quadrado. No caso dos aluguéis, há abatimento de até 40% na mensalidade. Na visão de consultores, esse cenário deve perdurar pelos próximos sete anos. “Há ainda vários empreendimentos com entrega prevista para esse período”, calcula Fernando Didziakas, diretor de negócios da Buildings. “Considerando o quadro recessivo atual, será difícil preencher todos eles em um espaço curto de tempo.”
Os cinco campeões de vagas
Os edifícios novos que estavam totalmente desocupados em dezembro
Atlas Office Park. Inaugurado em 2016 na Vila Leopoldina, dispõe de quatro prédios. Valor do aluguel: 65 reais o metro quadrado
Jacarandá. Na Berrini desde 2015, conta com seis andares e fachada espelhada. Valor do aluguel: 120 reais o metro quadrado
Olímpia Business Tower. Aberto na Vila Olímpia em 2014, tem 22 andares e 591 vagas na garagem. Valor do aluguel: 120 reais o metro quadrado
Parque da Cidade — Torre Sucupira. O prédio, na Marginal Pinheiros, começou a funcionar em 2015. Valor do aluguel: 110 reais o metro quadrado
São Paulo Corporate Towers — Torre Sul. O edifício de trinta andares foi entregue em 2016 na Juscelino Kubitschek. Valor do aluguel: 110 reais o metro quadrado