O arquiteto paulistano que se especializou em construir pistas de skate

Aos 12 anos, Daniel Oristanio revirava as caçambas do bairro da Saúde, onde cresceu, atrás de materiais para seus projetos; a brincadeira virou profissão

Por Débora Lopes
1 dez 2023, 06h00
O arquiteto Daniel Oristano em meio às obras da pista da Street League Skateboarding, no Ginásio do Ibirapuera (Júlio Tio Verde/Divulgação)
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Pedaços de madeira dispensados pelas caçambas do bairro da Saúde, na Zona Sul, não passavam despercebidos pelo jovem Daniel Oristanio, que aos 12 anos já construía pequenas pistas de skate com materiais improvisados. Aos 17, ele ingressou no curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie obstinado: queria construir pistas de skate profissionalmente. E conseguiu. Hoje, aos 37 anos, o arquiteto já realizou obras em países como Rússia, China, Israel, Japão, Chile e Noruega.

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“A arquitetura e o skate foram dois caminhos que se cruzaram de uma maneira bem natural”, conta Daniel, que relembra com saudosismo os tempos de infância, quando os amigos skatistas iam até sua casa pedir que ele construísse novas pistas. “Eu fazia coisas na garagem da minha mãe. Não tinha recurso”, afirma.

Em 2008, ele foi convidado para trabalhar nos Estados Unidos e, a partir daí, começou a realizar projetos cada vez maiores. “Fizemos uma megarrampa em cima de um lago em Munique, na Alemanha, em 2013.”

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Aqui no Brasil, em 2019, Daniel realizou um projeto único. Ele foi o responsável pela construção de uma rampa instalada em cima da Ponte Estaiadinha, na Marginal Tietê. “É uma ponte que já tem um formato de uma pista de skate”, brinca. A ideia surgiu do consagrado skatista Sandro Dias, conhecido como Mineirinho, que encarou o desafio de andar de skate nas alturas, mais especificamente a 30 metros de distância do chão. “Foi um planejamento de meses. Tivemos de pedir autorização para a CET, que precisou até fazer bloqueio parcial do tráfego. Foi um projeto bem emblemático.”

Daniel Oristanio
O arquiteto em ação durante a construção de uma rampa na Ponte Estaiadinha, na Marginal Tietê (Lecio Batista da Silva/Arquivo pessoal/Reprodução)

O arquiteto explica que, primeiro, se imagina andando de skate na pista, para depois construí-la. Por isso a importância de ter uma equipe formada por 90% de skatistas. “Não importa se é profissional, se já foi, se anda mais ou menos. A galera anda, então fica todo mundo pirando ao longo do projeto.”

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Além de skatista amador e arquiteto, Daniel é empresário. Em 2014 ele fundou a Insane Ramps, empresa que cria e constrói pistas de skate. Ele também comanda a California Skateparks Brasil, uma filial subsidiária da companhia de mesmo nome com origem nos Estados Unidos.

Questionado se faz um test drive em suas próprias pistas, ele dá risada. “Essa, na verdade, é a parte que a gente sempre espera. Temos aquele olhar de empresários, de construtora, querendo ver o negócio feito no prazo. Mas o olhar de skatista sempre acaba sobressaindo, porque ficamos doidos para ‘dropar’ e andar, né?”, se diverte. Mas existem exceções, como as megarrampas. “Claro que não vou fazer o test drive porque o meu nível de skate não permite. São pouquíssimas as pessoas que descem lá de cima. Mas desço de uma rampa ou outra. Dou uma volta para ver, até para encontrar alguma pequena imperfeição.”

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Daniel Oristanio
Daniel Oristanio em Xangai, na China. (Manoel Neto/Arquivo pessoal/Reprodução)

A obra da vez é a pista da Street League Skateboarding (SLS), que acontece nos dias 2 e 3 de dezembro no Ginásio do Ibirapuera. É o evento mundial mais importante da categoria street, em que os skatistas fazem manobras no chão, usando obstáculos e corrimãos. É a quinta vez que o arquiteto realiza o projeto no Brasil. “Estamos no quintal de casa, é superlegal”, diz. O planejamento prévio é longo e permite que a equipe realize a obra em poucos dias. “Em um evento como a SLS, estamos falando dos maiores atletas de skate street do mundo.”

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Para Daniel, ser um arquiteto de pistas de skate profissional é o resultado de algo que começou como uma brincadeira com os amigos na Zona Sul da cidade e se tornou um estilo de vida. “Eu já fazia isso quando nem pensava em ser remunerado. Não deixa de ser um sonho de criança que se materializou”, conclui.

Publicado em VEJA São Paulo de 1º de dezembro de 2023, edição nº 2870.

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