Os novos planos de Casagrande ao chegar aos 60 anos
Ex-jogador quer ir além do comentário esportivo e tem planos de produzir shows para homenagear ícones da música e montar casa de apoio a dependentes
Às vésperas de completar 60 anos, no próximo dia 15 de abril, o ex-jogador de futebol e comentarista Walter Casagrande Júnior afirma que nunca deixará de ser jovem. “Jovem está na alma, nas ideias, na mente da pessoa. Eu vou ser eternamente jovem. Não importa se eu vou fazer 60 anos. A minha cabeça é de 19, 20, 22 anos”, afirma. Essa energia e inquietude já foram demonstradas de muitas maneiras, do movimento Democracia Corinthiana a falas consideradas polêmicas. Agora, está direcionada a novos e bons planos. Um deles é se dedicar mais à produção cultural. “Eu tenho uma trilha sonora na minha cabeça, seja escrevendo, conversando, tem música na minha cabeça”, afirma Casagrande, sobre a paixão pela música, que nutre desde cedo. Outro dos projetos é tentar ajudar dependentes químicos a se livrarem do vício. “Eu quero usar minha história, a minha recuperação, para incentivar essas pessoas e tentar levá-las para uma outra estrada”, afirma, sobre o plano de criar uma espécie de núcleo de atendimento de serviços, que foque na autoestima dos dependentes químicos, sobretudo os que estão nas ruas.
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Com nítido brilho nos olhos, Casagrande fala de realizar mais eventos para homenagear grandes nomes da música e relembra que chegou a ser produtor de shows de Raul Seixas em 1983, com a Casagrande Promoções Artísticas, criada por ele aos 19 anos, já quando era um ídolo do futebol. A experiência, porém, não foi nada exitosa, conforme ele mesmo já reconheceu. Desta vez a ideia é repetir o sucesso da parceria que fez com o maestro João Carlos Martins em 2018, num projeto batizado de Adonirando, que homenageou o autor de Trem das Onze. À época, eles conseguiram reunir nomes como Baby do Brasil, Arrigo Barnabé, Rappin’ Hood, Nasi, Kiko Zambianchi, Simoninha e a Orquestra Bachiana Filarmônica SESI-SP em um show concorridíssimo realizado no Theatro Municipal. Neste ano, a primeira ideia é colocar de pé um show no dia 13 de julho, para comemorar o Dia Mundial do Rock. A lista ainda inclui homenagens a Luiz Gonzaga, Belchior e Guilherme Arantes. “Eu e o Casão jamais faremos um projeto desses para termos resultados financeiros. É baseado no idealismo dos artistas”, diz o maestro João Carlos Martins, que receberá o ex-jogador para um jantar em sua casa para detalharem o projeto ainda neste mês.
Paulistano da gema nascido no Ipiranga mas criado na Penha, Casagrande mantém hábitos simples, bem diferentes da vida badalada e cheia de compromissos da época de jogador e depois comentarista da TV Globo. “Estou muito tranquilo”, afirma. Além de caminhadas regulares no Parque Ibirapuera, sai de casa apenas para treinar musculação, fazer tratamentos médicos e estéticos — emagreceu 7 quilos só no último mês — e idas ao teatro, cinema, museus e shows, além demarcar cafés com amigas. Um dos restaurantes prediletos de Casão é o Dona Felicidade, na Lapa.
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O ídolo do Corinthians e de tantos brasileiros já emocionou muita gente ao falar abertamente sobre sua experiência de vida com a dependência química, como fez em 2018 na Copa da Rússia, em que comentou como era passar uma “Copa sóbrio”. A declaração levou o amigo Galvão Bueno às lágrimas. “Eu não bebo, não fumo, não faço nada. Eu não tenho mais estratégia, porque eu conquistei uma coisa que é gostar de mim e conseguir ficar sozinho”, afirma, quando questionado se teve recaídas. Uma das atividades que ele desempenha é dar palestras sobre sua experiência. Depois de muito conversar com os profissionais de saúde que o atendem, decidiu levar a ideia de criação de um centro de atendimento para dependentes químicos que vivem nas ruas de São Paulo a Aloizio Mercadante, atual presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e uma das pessoas mais próximas do presidente Lula. A conversa, segundo Casagrande, ocorreu quando ele foi convidado pelo PT para disputar uma vaga no Senado nas eleições de 2022, proposta que não aceitou. “Eu não nasci para a política”, diz. Entretanto, ele quer aproveitar essa proximidade para emplacar o projeto. Em linhas gerais, o que pensa é conseguir apoio governamental para criar um núcleo de atendimento que ofereça serviços para mudar a autoestima desse público. “Um lugar em que eles possam tomar banho, fazer a barba, cortar o cabelo, se tratar com um dentista. Você não consegue desenvolver nada se estiver com a autoestima baixa”, afirma.
Casagrande diz que uma de suas principais características é não se prender a nada, apesar de respeitar os compromissos de escrever as colunas para o UOL e também participar de programas no portal. Com isso, não descarta convites para o streaming, mesmo que venham de eventuais concorrentes do amigo Galvão Bueno, como Casimiro Miguel, da Cazé TV, que comprou os direitos de transmissão da Copa do Mundo Feminina de Futebol de 2023. “Eu sou livre, bicho”, reforça.
“Álbum do Casão”
Confira abaixo algumas imagens que mostram alguns momentos da vida do ex-jogador.
Infância
Casagrande aos 6 anos com o pai, Walter: bolas eram feitas de meias para não danificar os móveis da casa onde morava
Pais
Uma das tristezas do ex-jogador é sua mãe, Zilda (que o beija), ter morrido, em 2013, sem vê-lo sóbrio; do outro lado está o seu pai, Walter
Possante
Primogênito
“Vovô Casão”
Amigos
Futebol de várzea
Democracia Corinthiana
Dupla com o Doutor
Comentarista
Saúde
Improviso
Ex-jogador fez uma reforma na sala de sua casa e, em uma das paredes, colocou quadros de seus ídolos do rock. O local serve de cenário de fundo para as participações que ele fazia nos programas de TV e faz agora na TV UOL
Carreira no futebol
Publicado em VEJA São Paulo de 12 de abril de 2023, edição nº 2836
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