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O carro que acumulou 20 milhões de reais de dívidas em dois anos

O Ford Escort 1996 tem 1 975 infrações e foi caçado durante seis meses pelas ruas da cidade

Por Adriana Farias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 dez 2017, 20h12 - Publicado em 10 nov 2017, 06h00
O Escort: três irregularidades por dia (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Cerca de 180 veículos circulam em São Paulo com histórico de multas superior a 1 milhão de reais. Na liderança desse ranking estava um Ford Escort 1996. Durante seis meses, o campeão foi caçado em vão pelas ruas. Sem notícias de seu paradeiro, o Comando de Policiamento de Trânsito (CPTran) armou uma campana na altura do número 12200 da Avenida Aricanduva, na Zona Leste, onde a maioria das irregularidades havia sido cometida.

A estratégia deu resultado por volta das 6 da manhã de 24 de julho. “Tivemos de esperar três dias no mesmo ponto, mas finalmente o pegamos”, conta o PM Fabricio Martins Coimbra, do CPTran. O automóvel tem 1 975 infrações, que somam 20 milhões de reais — valor que dá para comprar 2 893 modelos iguais em boas condições. Não é o caso da celebridade mecânica. Com lanternas penduradas, pneus carecas e lataria amassada, ela acabou sendo levada ao pátio do Detran em Itaquera.

Quem estava ao volante era o vendedor Oseias de Souza Rodrigues, de 38 anos, que não se mostrou surpreso com a chegada dos guardas. “Muita gente compra um carro ness

as condições e fica rodando até ser pego”, afirmou a VEJA SÃO PAULO. Ele adquiriu o Escort em 2015 por 600 reais, quando este só tinha nove infrações. “Veio sem documentos, mas achei um bom negócio, pois tinha poucas multas”, conta.

Oseias de Souza Rodrigues autor das multas do Ford Escort.jpeg
Rodrigues, que comprou o carro em 2015 por 600 reais (Reprodução/Veja SP)

Desde então, Rodrigues cometeu, em média, três infrações por dia. Cerca de 60% delas foram registradas em diferentes pontos da Avenida Aricanduva, geralmente às 6 da manhã ou às 8 da noite, a maioria por excesso de velocidade. Outras, de menor incidência, incluem invasão de faixa de ônibus, avanço de sinal vermelho e falta de cinto de segurança.

No total de pontos, elas seriam suficientes para que o condutor perdesse a carteira mais de 400 vezes. Isso se efetivamente tivesse uma. Sim, Rodrigues guiava por aí sem nunca ter tirado a CNH. “Uma multa a mais ou a menos não faz diferença”, entende. “Mas nunca coloquei a vida de ninguém em risco por dirigir bêbado”, jura.

No dia 3 de abril de 2016, ele descumpriu dezesseis regras de trânsito em um intervalo de 24 horas. Começou às 6h18, ao invadir uma faixa de ônibus e ainda exceder o limite de velocidade na Avenida Aricanduva. Nos dez minutos seguintes foi flagrado outras três vezes por radares nas imediações da Rua Melo Freire.

O radar na Avenida Aricanduva que registrou boa parte das infrações (Clayton Vieira/Veja SP)

Voltou a cometer violações a partir das 19h18, na Avenida Alcântara Machado, novamente por acelerar demais, sendo flagrado três vezes em um intervalo de vinte minutos até estacionar na Avenida Conde de Frontin. A sequência de ilegalidades prosseguiu após as 22h57, quando tomou mais oito multas em cerca de uma hora, uma delas por avançar um sinal vermelho na região da Rua Bresser.

O carro aparece registrado no nome de uma empresa, a BV Financeira. Essa companhia diz ter vendido o automóvel ao empresário Douglas Borgoni, proprietário de uma concessionária de revenda de veículos em Mauá, por 3 000 reais e comunicado a transação ao Detran em 2009. Borgoni, no entanto, nunca finalizou a transferência e repassou o bólido adiante — outras seis pessoas assumiram seu volante ao longo dos últimos oito anos.

As infrações foram se acumulando, e o último condutor acelerou de vez na malandragem. A dívida de 20 milhões de reais está em fase de cobrança nos tribunais. “Eu me descuidei da documentação, não vou conseguir pagar isso nem em 100 anos”, lamenta Borgoni.

Patio Detran
Pátio do Detran no Sacomã: 21 148 carros aguardam para ir a leilão na cidade (Clayton Vieira/Veja SP)

Seu advogado ainda vai tentar lutar para livrá-lo do problema, mas as chances são pequenas. “Virou uma bola de neve, e o nome que consta no Detran como o responsável pelo automóvel vai responder por isso”, afirma Maxwell Vieira, diretor-presidente do órgão de trânsito.

Rodrigues, por sua vez, pagou uma multa de 880 reais por guiar sem a CNH e não deve mais nada à Justiça (se tivesse carteira,
sofreria uma punição de 7 pontos no prontuário). Até a semana passada, o local onde estacionava o Escort, na porta de sua casa, no Jardim da Conquista, na periferia da Zona Leste, permanecia vazio. O automóvel deve ser leiloado como sucata, situação similar à de outros 21 148 carros apreendidos com documentação irregular na cidade.

Ficha Corrida

O ranking das 1 975 anotações no prontuário do automóvel

962 Falta de identificação do condutor

823 Excesso de velocidade

164 Invasão de faixa de ônibus

9 Avanço de sinal vermelho

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8 Infração do rodízio municipal

6 Ausência de cinto de segurança

3 Estacionamento ou parada proibidos

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