Baladeiros trocam a sexta e o sábado pela quarta-feira
Casas como Disco, Astronete e Hot Hot têm pista cheia também no meio da semana
Quarta-feira, 3 horas da manhã. A pista do refinado clube Disco, no Itaim, está quase tão cheia quanto em qualquer festança de fim de semana. Como se não houvesse amanhã, os baladeiros dançam sem se preocupar com as rotinas de trabalho ou estudo que virão no dia seguinte. Prestes a completar uma década em dezembro, a tradicional boate de playboys e patricinhas abre as portas às quartas desde 2005 — de um ano para cá, no entanto, o público cresceu 50%
“É ótimo fazer uma pausa bem no meio da semana”, diz o estudante de marketing Marcelo Bocca, de 24 anos. “Além disso, às sextas e aos sábados eu não encontro mais ninguém da minha faixa etária.” Ele adotou o hábito há dois anos, e badala, na maioria das vezes, depois de assistir a jogos de futebol em barzinhos. “O pessoal ainda não saiu na segunda nem na terça, não gastou dinheiro e está descansado”, afirma um dos sócios da Disco, Michel Saad, que guarda suas melhores atrações para esse dia. As estudantes universitárias Vitória Sheldon e Renata Cardim, de 23 e 21 anos, respectivamente, não tinham planos de ir para a cama tão cedo. “A gente dorme bem pouquinho”, conta Vitória. “Depois ficamos supercansadas na aula, mas vale a pena.”
Misto de casa noturna e pub na Consolação, o Astronete também põe seu globo espelhado para rodar no terceiro dia útil da semana. A folia gratuita Baile Veneno reúne os fãs de soul, funk e hip-hop das antigas. “É uma galera diferente, mais segmentada e descolada”, acredita a stylist Drica Cruz, de 37 anos. O projeto rolava só uma vez por mês, mas passou a agitar o ambiente retrô a cada sete dias desde o ano passado. “Foi uma noitada que se consolidou”, afirma um dos proprietários, Claudio Medusa. “Bomba mais do que as quintas-feiras, que antes eram o nosso forte.”
Ele promete abrir sua nova casa, o Alberta#3, no centro, ainda em maio. Lá, será o rock o responsável por embalar as quartas-feiras. “As outras madru- gadas estão muito concorridas.” Ali perto, na Bela Vista, o Hot Hot costuma ferver sua pista iluminada com bandas do mesmo gênero, na Hell on High Heels. “São poucas as baladas roqueiras boas na cidade na sexta e no sábado”, diz o diretor de arte Vitor Zanini, de 24 anos.
Cida Souza
As universitárias Vitória Sheldon e Renata Cardim: sono durante as aulas
Durante dois anos, até janeiro último, a festa Funhell foi responsável por reavivar o clube Funhouse, que havia perdido um pouco de seu brilho. A W4rp aproveitou o público da antecessora e agora também lota o sobradinho da Rua Bela Cintra. A requisitada D-Edge, na Barra Funda, pode ser considerada uma das pioneiras em chacoalhar seus frequentadores às quartas. Sob o comando da experiente DJ Glaucia ++, o projeto Cio está na ativa há nada menos que onze anos.
A Heaven, no Jardim Paulista, passou a receber DJs especialistas em black music comercial. Assim como o Milo, em Higienópolis, e o Vegas, na Consolação, que investem em rock alternativo. Já o novo Lions Club, no centro, anuncia em seu site: “Quarta. Em breve. Lustrem os sapatos e preparem- se para dançar”. Tudo indica, então, que essa onda de festas não vai acabar tão cedo. Assim como o cansaço e a ressaca do dia seguinte. Mas parece que os baladeiros não estão nem aí.