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Conheça oito tipos de terapia e escolha qual é a melhor para você

Setembro amarelo: especialistas dão detalhes sobre algumas das técnicas mais procuradas da área da psicologia

Por Alice Padilha, Fernanda Campos Almeida
18 set 2020, 06h00

Motivos para escolher uma terapia não faltam. Qualquer pessoa que apresente uma demanda de sofrimento com a qual não consegue lidar sozinha pode buscar diferentes tipos de tratamento. O ideal é procurar um profissional antes que a condição se agrave e evolua para crises profundas. Até dores físicas muitas vezes estão relacionadas aos problemas emocionais. “Conversar com familiares e amigos talvez seja útil, mas é insuficiente. Eles podem falar apenas a partir da própria perspectiva, sem abordagem profissional ou imparcialidade”, explica Laura Camara, professora do Instituto Saúde e Sociedade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em sintonia com a campanha do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, a Vejinha reuniu características de algumas terapias para mostrar que há ajuda profissional disponível para todo tipo de situação.

Psicólogo ou Psiquiatra?

Envolta em diversos estigmas, a psiquiatria pode ser indicada a diversos perfis de pessoas. Segundo Yara Azevedo, médica psiquiatra formada pela Santa Casa de São Paulo, apenas um profissional do tipo pode diagnosticar transtornos mentais ou quadros psiquiátricos e prescrever diferentes tratamentos, sendo a terapia um deles. Ela é feita por psicólogos, que podem seguir diversos tipos de abordagem, como os apresentados nesta reportagem. Na ausência de diagnóstico, a terapia pode ser feita em qualquer momento da vida, escolhendo a que mais se ajusta à personalidade do paciente. Durante a pandemia, nem é necessário sair de casa para as sessões. Os atendimentos psicológicos on- line estão devidamente regulamentados.

Psicanálise

Desenvolvida por Sigmund Freud na segunda metade do século XIX, o objetivo dessa linha psicoterápica é construir uma análise de longo prazo com base no histórico familiar e na infância. “A psicanálise assume que você possui estruturas predefinidas de relacionamento, ou seja, padrões bons ou ruins que você aprendeu no período de formação e reproduz com todos que lhe conhecem — inclusive com o terapeuta”, explica Laura Camara. É uma jornada de autoconhecimento longa e profunda, que usa o passado para entender o presente. Nas sessões, os pacientes têm total liberdade de fala. “O psicanalista pressupõe que todo comportamento consciente tem influência do inconsciente. Por isso é tão difícil desistir de hábitos ruins”, diz Eduardo Fraga, psicanalista e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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Terapia cognitivo-comportamental (TCC)

Desenvolvida na década de 60, deriva do behaviorismo, teoria que estuda a psicologia através da observação objetiva do comportamento. “A TCC busca padrões de crenças fundamentais, pensamentos dos quais o sujeito está convencido e não se dá conta. Ela funciona bem para questões mais direcionadas, como pacientes que desejam parar de fumar ou resolver outro problema específico”, avalia Laura. Além da conversa no consultório, os terapeutas costumam trabalhar com a colaboração ativa do paciente, que deve cumprir algumas tarefas, como escrever diários de emoções, por exemplo. “A terapia cognitivo-comportamental supõe que os humanos assimilam o ambiente e criam regras automáticas a partir dele. Por exemplo, se eu ajo de certa maneira e as pessoas riem de mim, passo a me sentir incapaz de cumprir aquela ação”, explica Vinicius de Sousa, especialista em terapia comportamental da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

(Malte Muller/GettyImages/Divulgação)

Terapia analítico-comportamental (TAC)

Apesar dos nomes confundirem, a abordagem aqui é diferente da TCC. “Esse profissional parte de um pressuposto diferente, segundo o qual o repertório humano é adaptável e moldado por variáveis do ambiente. Então, se você assimila algo negativo, não é um problema interno, mas, sim, porque lhe foi ensinado a pensar dessa forma”, diz Vinicius. Esta terapia não é centrada em pensamentos, como a TCC, mas nas questões do comportamento em si. O paciente é sujeito ativo do tratamento e analisa, em conjunto com o terapeuta, quais são seus hábitos nocivos e como alterá-los. O método varia. “Para várias pessoas, a simples discussão verbal é suficiente. Mas há quem precise ser provocado de alguma forma para desenvolver habilidades sociais e de conversação, por exemplo”, diz o psicólogo. Podem ser avaliados problemas de curto e longo prazo, a depender da meta do paciente para o tratamento.

(Malte Muller/GettyImages/Divulgação)

Terapia com trabalho multiprofissional

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De acordo com a psicóloga Cristiana Renner, com doutorado no Departamento de Psicobiologia da Unifesp, se o paciente apresenta pensamentos suicidas, ele pode precisar da mescla dos trabalhos de psicologia e psiquiatria. “É comum casos em que o psiquiatra recomende um antidepressivo e faça o acompanhamento do paciente uma vez ao mês, enquanto o psicólogo o atenda duas vezes por semana”, explica. Esse tipo de tratamento ajuda o paciente a compreender por que chegou àquele estado emocional, além de prevenir futuras crises. “Ninguém deprime-se do nada. A terapia dá instrumentos à pessoa para que ela lide com problemas sem precisar adoecer novamente”, complementa a doutora Danielle H. Admoni, psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Apesar de ser uma das técnicas mais eficientes na prevenção ao suicídio, Cristiana afirma que, na prática, nem sempre há uma boa comunicação entre os dois profissionais. “Houve casos em que o psiquiatra demorou dias para atender minha ligação de um caso grave. É como se um cardiologista e um pneumologista não conversassem entre si durante o tratamento de um paciente internado.”

(Malte Muller/GettyImages/Divulgação)

Terapia de orientação para pais com Intervenção Breve

E se pais ou responsáveis sabem que o filho precisa de ajuda psicológica, mas ele recusa o tratamento? Cristiana Renner desenvolveu um tipo de terapia que combina duas linhas dentro da área da psicologia, a terapia cognitivo-comportamental e a terapia familiar sistêmica, com a técnica de Intervenção Breve. Ela é dividida em oito sessões para lidar com diferentes tipos de crise, como dependência de drogas em adolescentes, idealização suicida, quadros de depressão etc. “Os pais acham que não há saída se o filho não quer tratamento. Eles devem procurar um psicólogo especializado na área de ‘orientação de pais’, que informará o que fazer ou não, como falar com o jovem, como lidar com as situações de risco, como diminuir os conflitos dentro de casa e até como sofrer menos ao lidar com os problemas dos filhos”, explica a psicóloga sobre a estratégia criada em 2008 na Unifesp com o apoio de Arthur Guerra, médico psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).

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(Malte Muller/GettyImages/Divulgação)

Terapia rogeriana ou humanista

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Esta teoria tem como principal expoente o psicólogo americano Carl Rogers, que desenvolveu, a partir da década de 50, a “abordagem centrada na pessoa”. Essa corrente humanista estabelece que há no núcleo básico da personalidade humana uma tendência para a saúde e o crescimento. Aqui, quem busca por terapia não é chamado de paciente ou doente, mas, sim, de cliente. “É uma corrente menos diretiva, em que o psicólogo não induz a interpretações. Ao invés disso, ele incentiva que o sujeito saia de uma posição de retraimento e realize seus próprios desejos, potencializando a autoconfiança”, avalia Laura. Na terapia rogeriana, a responsabilidade pela condução e sucesso do tratamento está, principalmente, no indivíduo. Rogers acreditava que todos têm essa capacidade dentro de si. Ela pode estar adormecida e precisa ser incentivada. “É um processo mais lento, porque demora um pouco até que a pessoa compreenda os mecanismos da análise”, pontua Laura.

Terapia jungiana

A psicologia analítica, desenvolvida pelo suíço Carl Gustav Jung, propõe a existência de um inconsciente coletivo, ou seja, um conjunto de ideias compartilhado por uma sociedade. Esse inconsciente é responsável pela construção de alguns arquétipos, que seriam ideias universais sobre alguns fenômenos, como é o caso da figura da mãe, por exemplo. Na sessão, o terapeuta constrói sua análise com base em sonhos e simbolismos.

Terapia lacaniana

Ramificação da psicanálise, mergulha em recortes específicos da obra de Freud. A teoria de Jacques-Marie Lacan é estruturada na linguagem. “O profissional que utiliza essa abordagem vai analisar as palavras que o paciente escolhe para construir o seu discurso e os sentidos ocultos expressados por elas”, diz Laura. A sessão, portanto, é menos baseada em uma relação paciente-psicólogo e mais na estrutura da língua em si. É um tratamento que faz mais sentido para demandas de longo prazo.

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Publicado em VEJA São Paulo de 23 de setembro de 2020, edição nº 2705.

 

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