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Sorocaba recua após post de ‘estudo’ sobre eficácia do tratamento precoce

A publicação original foi apagada pela gestão municipal; pesquisador da Fiocruz fala em desobediência ética em momento de pandemia

Por César Costa
Atualizado em 14 abr 2021, 17h53 - Publicado em 14 abr 2021, 17h53

A prefeitura de Sorocaba publicou um “estudo” incorreto sobre o suposto tratamento precoce contra a Covid-19, já comprovado por estudos internacionais como ineficaz contra o vírus. O post foi ao ar durante a manhã desta quarta-feira (14), mas depois foi apagado e modificado.

Na primeira versão, a publicação feita nas redes sociais da prefeitura afirmava que o “estudo”, feito com 123 pacientes, demonstrou 99% de eficácia do tratamento precoce. Após críticas que contestavam a propagação de informações falsas e a metodologia errada empregada para comprovação dos dados, a postagem foi alterada e o texto, modificado.

Duas artes da prefeitura sobre o tratamento precoce contra a Covid-19. Na primeira imagem, aparecem as palavras estudo e eficácia, de 99%, se referindo aos benefícios do tratamento precoce. Na segunda imagem são usadas as palavras levantamento e excelentes resultados
Mudança: após críticas, prefeitura refaz postagem retirando as palavras estudo e eficácia (Reprodução/Instagram/Veja SP)

De acordo com a gestão municipal da cidade do interior, a prescrição do suposto tratamento precoce contra a Covid-19 usa Azitromicina e Ivermectina, entre outros medicamentos. Órgãos nacionais e internacionais de saúde já comprovaram através de estudos rigorosos que ambos não são eficazes contra o vírus. Sorocaba ainda investiu quase R$ 60 000 na compra desses dois medicamentos.

Rodrigo Stabeli, pesquisador e diretor da Fiocruz em São Paulo, afirmou à VEJA SÃO PAULO que os dados do levantamento são irrelevantes. “A prefeitura publica um caso observacional e que é muito parecido com o curso natural da doença. O setor público buscou uma resposta a partir de uma bala de prata contra a Covid que não existe”.

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O especialista destaca que tanto a Azitromicina quanto a Ivermectina são rejeitadas pela ciência para o uso no tratamento contra a Covid-19, além de mencionar também a Cloroquina. “Para Cloroquina e a Hidroxicloroquina, existe um estudo conduzido da forma correta, com milhares de pacientes, concluindo que ela não funciona e a OMS recomenda fortemente que não se deve utilizá-las em casos de Covid-19, assim como Azitromicina”, explica.

“A Ivermectina é recomendada pela OMS apenas em estudos experimentais, e que não leve risco ao paciente. Ou seja, ela não tem comprovação e nós não sabemos se ela tem algum efeito de recuperação. O que é conhecido: se ela possui algum efeito de recuperação, ele é ínfimo comparado com o não uso do remédio. Portanto, você não precisa ir em busca de um medicamento que não tem custo-benefício”, diz em relação ao vermífugo.

Ele ainda destaca como mais importante saber se o suposto estudo da gestão municipal foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). “Se a prefeitura diz que isso é um estudo, existe o Conep, ele precisa aprovar esse estudo. Se não aprovou, ali há uma desobediência ética em momento de pandemia, calamidade pública. Tudo isso tem que ser investigado”.

Pela taxa de transmissão, Stabeli afirma que não faz sentido considerar o tratamento precoce como eficaz contra a Covid-19. “O estado de São Paulo, pelo Painel Covid, tem uma taxa de incidência da doença de 5419 pessoas por 100 mil habitantes. Sorocaba tem uma taxa de 6452 por 100 mil habitantes. Então, a taxa de transmissão de Sorocaba é maior que a taxa de transmissão do estado. Se o tratamento precoce fosse preventivo, não teria uma taxa de incidência maior do que do próprio estado”.

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O pesquisador ressalta que a única forma de combater a pandemia é pelas medidas de distanciamento e vacina. “A única medida farmacológica que dá certo é a vacina, a gente está vendo isso em vários países: a queda da doença nos EUA, fruto da vacinação. Também vemos Israel, que fez o lockdown, teve queda na incidência da Covid-19 e fez a vacinação. O ‘kit-covid’ é só no Brasil que existe”.

A assessoria de Sorocaba disse que “ao ver que a publicação gerou dúvidas sobre a eficácia dos medicamentos do tratamento, e não do levantamento preliminar realizado, a Prefeitura refez o post, esclarecendo sobre os resultados preliminares”.

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