“Sabia de tudo que podia dar errado”, diz mastologista que enfrentou câncer de mama

Fabiana Makdissi alerta mulheres sobre a importância de exames preventivos e usa a própria história como exemplo

Por Vinicius Tamamoto
Atualizado em 27 Maio 2024, 19h22 - Publicado em 15 out 2021, 06h00
A imagem mostra Fabiana, sentada de pernas cruzadas com seu jaleco, com um computador do seu lado enquanto sorri para a câmera.
“O câncer não me define”, diz a médica Fabiana Makdissi, líder de mastologia do A.C. Camargo (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Fabiana Makdissi, 48, trata mulheres com câncer de mama há quase vinte anos. Chefe de mastologia do hospital A.C. Camargo, ela passou de médica a paciente ao descobrir, em 2018, várias lesões nos seios. Fabiana é exemplo do quão importante é investir na prevenção da doença por meio de exames periódicos. Por causa do histórico da família e da idade, a médica já fazia mamografia todos os anos, mas a rotina atribulada a fez pular um.

“Acabei engolida pelos afazeres”, diz. “O profissional de saúde e a mulher têm esse perfil em comum, de cuidar muito dos outros e esquecer de si.” Depois de tanto tempo proferindo diagnósticos, ela recebeu o seu: carcinoma ductal in situ, um tipo de câncer que não é detectado pelo autoexame.

Nunca é fácil ouvir que está doente. No caso da médica, especializada na própria enfermidade, o conhecimento foi o céu e o inferno. “Por um lado meu coração se tranquilizou ao lembrar de tantas histórias de mulheres fortes que acompanhei e que admirava. Por outro, eu sabia de tudo o que podia dar errado, conhecia todas as vírgulas do processo”, relembra. “A gente sabe que não vai viver para sempre, mas, quando há essa possibilidade tão concreta de não estar mais aqui, a sensação de medo, independentemente da profissão, é comum a todos.”

Fabiana realizou a retirada total das mamas (em momentos distintos). Sofreu muito no pós-operatório, teve infecção, quase perdeu uma prótese e a estética a abalava. Hoje conta sua história com o objetivo de inspirar outras mulheres. “O câncer não me define”, sentencia. Mas o período doloroso, claro, sempre a acompanhará.

Depois de curada, sua primeira cirurgia como médica em uma paciente foi na sala 11, a mesma onde tinha sido operada. Com a voz embargada pelo choro, ela confidencia que, naquele momento, se lembrou de tudo o que passou. “Chorei muito, tive de ir ao banheiro para me recompor”, desabafa. Outro momento a marcou. Durante um banho com o filho pequeno, ele apontou para as cicatrizes da mãe e perguntou se elas ficariam ali para sempre. “Sim”, ela respondeu. “Sabe o que está escrito, mamãe? I am strong (eu sou forte).”

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Publicado em VEJA São Paulo de 20 de outubro de 2021, edição nº 2760

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