Como São Paulo está ampliando seus serviços de saúde para pessoas trans
Cidade ganhou centro especializado em cuidados para a população e a oficialização da Rede Sampa Trans
No mês em que transexuais e travestis celebram o Dia da Visibilidade Trans (no domingo, 29), a cidade ganhou, em 11 de janeiro, o Centro de Referência de Atenção à Saúde das Pessoas Transexuais e Travestis — Janaína Lima, no Bom Retiro, e a publicação da portaria n° 036/2023 no Diário Oficial de sábado (21), que consolida a Rede Sampa Trans.
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Essa rede é focada em promover políticas públicas e serviços essenciais para o grupo, no âmbito da rede municipal de atenção à saúde de São Paulo. O sistema público paulistano já oferecia esse atendimento em 44 Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Agora, ambas as novidades “facilitam muito a garantia dos direitos e do acesso dessa população à saúde”, segundo Tânia Regina Corrêa, interlocutora da área técnica de saúde integral da população LGBTIA+ na Secretaria Municipal de Saúde. “A ideia é oferecer um serviço complementar ao existente.”
3 000 pessoas em acompanhamento na Rede Sampa Trans atualmente
Com funcionamento de segunda a sexta-feira, das 9h às 21h, a nova unidade de saúde especializada — cujo nome homenageia a ativista morta em 2021, que foi a primeira travesti a assumir a presidência do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual paulistano e virou um símbolo da luta — oferece serviços e procedimentos ainda não realizados na rede.
Entre eles estão a hormonização para adolescentes a partir dos 16 anos; apoio psicossocial a familiares de crianças e adolescentes com variabilidade de gênero; acolhimento em saúde mental; pré-natal; abordagem para possíveis complicações causadas por implantes de silicone; e atendimentos a complicações cirúrgicas de afirmação de gênero.
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Trata-se do primeiro equipamento do tipo na esfera municipal — antes havia apenas ambulatórios da Unifesp e da Unicamp. A prefeitura desembolsou 143 000 reais em investimento para equipar o espaço e terá o custo mensal de 522 000 reais para manter as operações. A unidade conta com uma equipe multidisciplinar com 33 profissionais e 11 consultórios. A capacidade é de 1 252 consultas médicas e 516 consultas com equipe multiprofissional por mês.
35 vida da população trans, segundo dossiê de 2020 da Antra Brasil
A tradutora Linnara Rodrigues, 47, foi a primeira pessoa a ser acolhida na unidade, logo na inauguração. “A psicóloga me atendeu no mesmo dia, nem precisei marcar a consulta”, conta. Para ela, uma vantagem do novo centro é o atendimento rápido e direcionado. Isso porque nas UBS os profissionais atendem o público geral, o que gera uma fila de espera. “Já cheguei a passar em consulta com um médico em um dia e só ter disponibilidade para fazer um exame oito meses depois”, diz. “Nunca fui mal-atendida, mas é sempre aquela demora.”
No centro, ela está fazendo acompanhamento com psicólogo, fonoaudiólogo e nutricionista, e pretende começar em breve com psiquiatra e ginecologista. Outro ponto positivo que aponta é o horário de funcionamento estendido à noite, que vem de um entendimento da realidade do grupo e da “preocupação para atender o maior número de pessoas”.
Linnara sempre soube que era uma mulher trans, mas só assumiu sua identidade de gênero aos 44 anos, no fim de 2019. “Viver no armário não é bom para ninguém. Percebi uma melhoria na cultura da aceitação e vi que era a hora. Foi durante o Natal que me abri”, afirma. Ela já era casada com outra mulher e “deu muita sorte” de contar com o apoio da companheira e da família.
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No ano seguinte, iniciou o acompanhamento médico, mas acabou adiando o início do tratamento hormonal devido à pandemia da Covid-19, por apresentar comorbidades. Com a melhora desse cenário, decidiu começar a hormonização e passou em consulta com um profissional, que a direcionou para fazer exames endocrinológicos no Centro Janaína Lima. “Para mim, facilitou absurdamente. Pretendo começar em março.”