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Ausência de vacina para crianças pode elevar casos de Covid nas escolas

Estudo mostra que taxa de mortes entre as hospitalizadas chega a 9% ; pesquisadores alertam para a necessidade de iniciar imunização antes de fevereiro

Por Clayton Freitas
20 dez 2021, 19h41

Um estudo publicado nesta segunda-feira (20) na versão eletrônica da revista The Lancet Regional Health – Americas indica que se a vacinação contra a Covid-19 de crianças não for iniciada ainda em janeiro de 2022, os casos da doença podem aumentar de forma significativa já em fevereiro, quando o ano escolar será retomado.

Como consequência, as internações pela doença e as mortes podem se manter nos mesmos níveis dos registrados em 2020 e 2021. Um outro efeito colateral tão grave quanto é que elas poderão ser as principais responsáveis pela transmissão da doença.

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“Nós já temos dados que demonstram que a carga viral das crianças mesmo assintomáticas é equivalente a carga viral dos adultos e têm capacidade de transmissão. Quando olhamos apenas para o número de crianças hospitalizadas pela doença, percebemos que a taxa de letalidade hospitalar é muito alta”, afirma Lorena Barberia, pesquisadora do departamento de ciência política da USP (Universidade de São Paulo) e da Rede de Pesquisa Solidária.

O estudo recebeu o nome de “Reabertura das Escolas e Covid-19 no Brasil” e é assinado por outros dois pesquisadores, ambos da Fiocruz. O primeiro é Leonardo Bastos, estatístico que trabalha com epidemiologia de doenças infecciosas; e Tatiane Moraes de Souza, da Escola Nacional de Saúde Pública.

Os dados que serão publicados na versão impressa da revista em janeiro de 2022 trazem informações alarmantes sobre as altas taxas de mortes entre as crianças e adolescentes hospitalizadas por Covid-19.

Em 2021, até outubro, 11.557 crianças de 0 a 9 anos haviam sido hospitalizadas. Desse total, 657 morreram, o equivalente a 5,7%. Em 2020, das 9.725 hospitalizadas, 605 perderam a vida para a doença, numa taxa de letalidade hospitalar de 6,2%.

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“Como testamos pouco, certamente devemos ter muito mais casos entre as crianças. O que gostaríamos de chamar a atenção é que deveríamos estar muito mais preocupados em imunizar as crianças antes do início de fevereiro”, afirma a pesquisadora.

Embora a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tenha autorizado a imunização contra a Covid de crianças a partir de 5 anos de idade, o próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, questionou a decisão e minimizou a quantidade de mortes por Covid a partir desta faixa etária. Com isso, a campanha para vacinar esse público continua incerta.

Os pesquisadores também fizeram a análise de dados de crianças e adolescentes de 10 a 19 anos. Nessa faixa etária, 534 morreram em 2020 entre os 6.826 que foram hospitalizados, numa taxa de letalidade hospitalar de 7,8%. O maior índice, de 9%, foi registrado neste ano de 2021, já que 763 crianças e adolescentes de 10 a 19 anos morreram. No período, o total de internadas foi de 8.520.

“O que a gente precisa alertar é que, sim, existem dados graves entre crianças e adolescentes. E é fundamental que estivéssemos fazendo testes nessa faixa etária”, afirma a pesquisadora.

Educação

Como integrante da Rede de Pesquisa Solidária, que reúne 100 pesquisadores que debatem as políticas públicas no enfrentamento à crise sanitária, Lorena é a coordenadora científica das notas técnicas emitidas sobre o que vem sendo feito pela União, estados e municípios.

O artigo a ser publicado na The Lancet Regional Health – Americas reforça como foi desastrosa a condução da crise sanitária, em especial para aqueles em situação de alta vulnerabilidade. “O desemprego em comunidades pré-pandêmicas já vulneráveis, exacerbando ainda mais as desigualdades entre os matriculados em escolas privadas”, informa o documento.

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O estudo indica ainda que o fechamento de escolas presenciais resultou no aumento da fome e nas deficiências nutricionais com a ausência e aumento da alimentação escolar.

Além disso, 19% dos domicílios brasileiros não têm acesso à internet e, entre os 81% que dispõem, 60% das famílias contam com o celular para acesso digital.

Além dessas questões, os pesquisadores também questionam a falta de uma política pública para promover o diagnóstico precoce, com testagens em massa.

“No Estado de São Paulo, principal epicentro da pandemia no Brasil, o número de testes de RT-PCR Covid-19 de janeiro a setembro de 2021 após a reabertura das escolas não aumentou, e as taxas de positividade do teste permaneceram elevadas tanto para crianças quanto para adolescentes”, informa o texto.

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