Vinte respostas para dilemas que os pais enfrentam ao educar os filhos
Especialistas dão dicas sobre qual o melhor momento para entrar na escola, fazer esportes, ganhar mesada, falar sobre sexo, entre outras
Os tempos mudaram, mas as preocupações de pais e mães sobre como educar os filhos continuam e até ganharam reforço. Com a chegada da tecnologia, em que crianças nascem praticamente usando celular e computador, às vezes fica difícil lidar com algumas situações.
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Por isso, recrutamos experts no assunto para apontar aquela tão desejada luz no fim do túnel e ajudar a solucionar probleminhas que aparecem no dia a dia familiar. É claro que não existe uma regra, pois cada criança possui um histórico, somado ao relacionamento com os pais e a própria percepção de mundo, mas o intuito é partir de algum ponto e trazer conforto aos pais na hora de educar seus filhos. Aqui, vinte diferentes respostas para um mesmo dilema: qual a melhor idade para:
1) Entrar na escola
“Os pais devem tomar a decisão de colocar na escola quando perceberem que a criança explorou todo o ambiente doméstico. Ela já brincou com panelas, desenrolou papel higiênico, correu por toda a casa… Em pequena, a criança vive momentos de muita exploração”, explica Silvia Gasparian Colello, pedagoga e professora de Psicologia da Educação, da Faculdade de Educação da USP. “É importante que o ambiente escolar ou doméstico favoreça esse tipo de experiência. E tem a questão também se esses pais têm com quem deixar a criança. No caso de uma avó com casa com quintal, espaço para andar de bicicleta, subir em árvore, é maravilhoso. Senão, a escola é boa opção. De qualquer forma, a partir dos três anos, a criança que não vai à escola começa a perder oportunidades privilegiadas de estimulação que dificilmente acontecem em casa. Antes, a ideia de educação infantil era apenas de cuidar, tomar conta, manter limpo e alimentar. Agora, mesmo as creches, precisam ter programa pedagógico bem estruturado de educação, estimulação motora, social e cognitiva. E está muito claro que esses anos de educação são vitais para o aprendizado do ensino fundamental.”
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2) Ser alfabetizado
“Até o final dos anos 80, as crianças ficavam sentadas fazendo exercícios de coordenação motora e de cópia, preparando-se para o início da alfabetização. Pais e professores tinham medo de antecipar esse processo. Mas é preciso lembrar que a criança já nasce em um ambiente letrado. Por isso, a escola deveria ser apenas uma continuidade de um longo processo de aprendizagem, que tem início espontaneamente com base nas próprias experiências vividas. Hoje, crianças de três anos ou quatro anos, por exemplo, já são estimuladas a reconhecer o seu nome, reconhecer a língua tipicamente escrita, ter contato com as letras. Então, mesmo que a escola tenha como objetivo sistematizar esse conhecimento entre 6 e 8 anos, é preciso entender que a escola é a continuidade e não o início da alfabetização”, afirma Silvia.
3) Aprender um instrumento musical
Para o maestro e compositor Ricardo Tacuchian, da Academia Brasileira de Música, a criança deve ter contato com a música desde o nascimento. Já o aprendizado lúdico com vários instrumentos pode começar aos três anos. Se a ideia é aprender um instrumento determinado, a idade da criança varia com o seu contexto familiar, cultural e o instrumento. “Geralmente ela é iniciada no piano (ou teclado eletrônico) ou no violão, e isso pode começar aos cinco. Para um instrumento de cordas a arco ou instrumento de sopro, o contato pode ficar para mais tarde. É claro que todas as sugestões de idade são absolutamente empíricas porque as crianças são muito diferentes entre si, mas acredito que todas devem ser expostas a uma atividade musical no processo de educação geral e de formação de sua personalidade.”
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4) Ter aulas de inglês
“Qualquer criança é capaz de aprender mais de uma língua desde o berço, da mesma forma que uma criança monolíngue aprende a primeira língua. Pode ser em casa com seus parentes, mesmo que não sejam nativos, mas que cantam, contam histórias e brincam em inglês. Há quem estude em uma escola internacional ou bilíngue desde pequenos (2 ou 3 anos de idade) e quem aprenda em escolas de línguas, algumas especializados em aulas para crianças e outras que dão aulas para todas as idades. O importante é constatar a forma de ensinar a segunda língua, como o inglês. A interação entre crianças e adultos deve ser lúdica”, garante Sarah Weiler, Head Teacher (coordenadora pedagógica), da Stance Dual School, em São Paulo.
5) Fazer esporte
“Os primeiros passos começam dentro de casa. O brincar de jogar bola, por exemplo, já é um pontapé inicial para que a criança desenvolva várias habilidades. O ideal é se movimentar desde o nascimento. Recém-nascidos podem fazer adaptação ao meio líquido. Até 10, 12 anos é importante experimentar várias modalidades. E depois dessa idade, pode acontecer a especialização em alguma delas. Mas o principal é sempre respeitar o gosto da criança. Aposte desde brincadeiras até esportes, como basquete, natação, judô, futebol etc.”, diz Marcio Atalla, professor de Educação Física, com especialização em Treinamento de Alto Rendimento, e pós-graduação em Nutrição, pela USP.
6) Ter um smartphone
Para Cinthia Conicelli Murer, coordenadora pedagógica da Educação Infantil e 1º ano, do Colégio Sagrado Coração de Jesus, em São Paulo, alguns especialistas da área médica acreditam que esses aparelhos, bem como tablets, não devem ser usados por crianças com menos de 12 anos. “Consideram-se vários aspectos para idade em que a utilização deles seja menos prejudicial, como o desenvolvimento cerebral, a desatenção, a obesidade infantil, o desinteresse pelas brincadeiras que exigem movimentos e a companhia de seus pares. Nossas crianças já nasceram na era digital e negar o recurso está fora de cogitação. O tipo de conteúdo acessado e o tempo de uso dos aparelhos é o que mais me preocupa, pois nem sempre as crianças são observadas enquanto usam esses recursos. Manter esse controle é fundamental para que crianças e adultos (pais/professores) possam ter no smartphone um aliado em casa e na escola”, defende Cinthia.
7) Ver televisão
Já faz parte da rotina de muitas crianças. Mas, o que preocupam especialistas e pais são o tempo de exposição e o tipo de conteúdo assistido. Por isso, a importância de sempre observar a relação do filho com a TV, principalmente para afastar maus hábitos, como fazer refeições na frente da TV, deixar de brincar ou ler um livro e até adormecer vendo um filme ou desenho. “Bebês e crianças pequenas não deveriam assistir programas de televisão, sem controle e acompanhamento. Crianças maiores também precisam ser supervisionadas para avaliar tempo e qualidade dos programas”, ressalta Cinthia Conicelli Murer.
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8) Acampar com os amigos
“As escolas têm desenvolvido atividades de acantonamento na própria escola desde a educação infantil, e é aí que crianças com quatro, cinco anos começam a ter suas primeiras experiências de passar a noite com amigos. Ou seja, havendo monitoramento de adulto responsável, sendo em ambiente seguro e protegido, os pais podem conversar com a criança e verificar se ela se sente preparada para passar a noite fora de casa”, diz Suzane Schmidlin Löhr, psicóloga e professora da Universidade Federal do Paraná. “Porém acampamento com amigos, sem um adulto responsável é complicado antes da adolescência. Os pais podem decidir em conjunto com os filhos se estão preparados ou não para acampar sozinhos com outros amigos.”
9) Trancar-se no quarto
“Permitir que a criança encoste a porta do quarto (tendo o cuidado de tirar a chave da porta para que a criança não possa se trancar dentro) pode ser uma forma de ela perceber que não precisa se trancar para ter sua intimidade respeitada. Se os pais desenvolvem este padrão de interação quando a criança é pequena, quando ela chegar à pré-adolescência/adolescência, período em que normalmente quer maior privacidade, o adolescente saberá que conta com o apoio e respeito dos pais e talvez nem faça questão de trancar a porta”, explica Suzane.
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10) Ir ao cinema e teatro
“Com três, quatro anos. Os pais podem cultivar o interesse da criança por cultura, levando-a para assistir peças de teatro ou filmes apropriados para a sua faixa etária e conversando depois sobre o que gostaram. Porém, quando a criança está na pré-adolescência (depois dos 10-12anos), tende a manifestar interesse de ir a tais exibições com amigos. Não é a idade cronológica que indica que a criança está pronta para uma nova atividade, mas sim o preparo gradual realizado pelos pais. Em geral, o bom-senso, equilíbrio dos pais entre dar apoio e incentivo ao filho para a independência, é essencial para que ele exercite determinada tarefa”, afirma Suzane.
11) Ganhar mesada
Essa é uma dúvida que vem acompanhada de várias outras questões, como o valor a ser dado, se inclui as despesas com lanches de escola, qual a periodicidade. “A partir dos três anos, quando a criança começa a demonstrar desejos próprios, já é o momento de analisar a melhor forma de inserir a educação financeira, mostrando o processo de troca do dinheiro por produtos. A mesada efetivamente deve ser pensada por volta dos sete, oito anos, quando os jovens já estiverem acostumados com o contato com o dinheiro”, ensina Reinaldo Domingos, educador financeiro, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e autor do livro Mesada não é só dinheiro – Conheça os oito tipos e construa um novo futuro (Editora DSOP).
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12) Falar sobre sexo
“Os pais têm que responder apenas o necessário de acordo com a pergunta que o filho apresenta. Muitas vezes, a dúvida é simples e os pais se apressam em dar uma aula sobre o assunto. Não existe uma hora certa para falar de sexo. Quem vai definir esse momento é a criança quando surgir alguma questão. A resposta deve ser dada conforme a capacidade de entendimento de cada uma, e também respeitando sua idade. O importante é se mostrar disposto ao diálogo. A criança precisa encontrar um ambiente onde se sinta acolhida”, diz a psicóloga Amanda Silver, também autora do site maispsicologia.com.br
13) Passar a fazer a lição sem ajuda de um adulto
“Por volta dos oito anos, a criança tem mais autonomia. Algumas, claro, ainda podem pedir ajuda dos pais. Se ela percebe que tem espaço para tirar dúvidas, vai se sentir mais confiante. Os pais devem apenas ficar atentos para não dar respostas prontas, e não esquecer que o erro faz parte do processo de aprendizagem. Eles podem ajudar criando uma rotina de estudos, estipulando horários e lugares adequados, como um ambiente sem barulho, tranquilo, e não no sofá em frente à TV, deitado no chão, ou em cima da cama”, alerta Amanda.
14) Mexer no computador
“Não existem regras bem estabelecidas sobre a idade para se iniciar no uso de computadores. Afinal, praticamente todas as atividades de nossa vida, e também das crianças, estão relacionadas aos computadores, tablets, celulares. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o uso máximo de duas horas diárias de telas em geral Mas, isso é dirigido aos adolescentes. Atualmente, no Japão, recomenda-se 30 minutos para crianças. O importante é que o uso destas ferramentas seja introduzido aos poucos, aumentando progressivamente o tempo de utilização, procurando sempre intercalar com outras atividades, tais como: afeto, brincadeiras com os pais e outras crianças, leitura, jogos e esportes”, defende o pediatra Sylvio Renan Monteiro de Barros, da Sociedade Brasileira de Pediatria e autor do livro Seu bebê em perguntas e respostas – Do nascimento aos 12 meses.
15) Ajudar nas tarefas domésticas
“A partir do final do segundo ano de vida a criança deve ser estimulada a participar de atividades domésticas, muito embora, nesta idade, ela mais atrapalha do que ajuda. No entanto começa a conhecer a necessidade que temos de fazer arrumações, e a alegria de participar de atividades com a família. Ofereça apenas pequenas participações, sem que isto se transforme, ainda nesta idade, em um trabalho obrigatório. É também preciso muito cuidado para que acidentes sejam evitados. Isto se consegue com uma vigilância total dos pais em todo o período da atividade”, explica Monteiro de Barros.
16) Falar sobre morte
Antes de tudo, é preciso definir a diferença entre falar sobre morte e lidar com ela, pois no segundo caso, a criança poderá ter que encarar essa situação a qualquer momento. “A partir dos seis anos, a criança começa a compreender o caráter irreversível da morte. Antes disso, a sua compreensão será como se a morte fosse temporária. Isso é visível nas brincadeiras das crianças pequenas, quando os vilões morrem e em seguida revivem. Em torno dos cinco, seis, a criança já consegue assimilar a ideia da finitude irreversível. O mais importante é que o adulto atenha-se às perguntas formuladas pela criança, não explicando mais do que ela perguntou, mas respondendo com verdade aquilo que ela puder formular. Muitas vezes, mais do que responder, é importante permitir que a criança possa dizer suas hipóteses e as suas questões, e só então responder”, esclarece Juliana Hernandez, psicanalista de criança e adolescente.
17) Descobrir que Papai Noel não existe
“Pode ser com quatro, cinco anos, mas é muito particular. Tem que ver como cada criança investiga a realidade do mundo. O importante é que os pais possam acolher as perguntas, melhor do que o pai estipular certa idade para explicar que Papai Noel não existe. O momento tem quer natural”, diz Maurício Hermann, psicanalista, doutor em psicologia clínica pela USP e diretor do Attenda.
18) Dormir na casa de um amigo
“A questão maior é saber como a criança lida com a angústia da separação dos pais. E como esses pais fazem a nomeação e alternância da presença e ausência, como ela é vivida. Aos seis, sete anos, já é um momento que há maturidade. O ideal é ficar mais atento para escutar o que a criança tem a dizer. É interessante que ela tenha esse espaço para perguntar o que ela bem entender e saber que pode mudar de decisão”, reforça Hermann.
19) Comer com garfo e faca
“Com sete, oito meses, a alimentação do bebê já é composta por alimentos sólidos e a mamãe irá oferecer a comida de colherzinha. Entre 9 e 12 meses, ele vai querer comer sozinho, mas é incapaz de manusear a colher, garfo e faca corretamente. Esse é o momento de deixar a criança pegar a comida com a mão, mesmo que faça sujeira. Isso faz parte do aprendizado, do desenvolvimento, da cognição. Não há uma idade definida para o uso de garfo e faca. Irá acontecer quando a criança apresentar domínio em segurá-los, que pode ser a partir dos 18 meses”, explica Tadeu Fernando Fernandes, presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
20) Escolher as próprias roupas
“A fase de se vestir sozinho representa um marco psicológico e emocional, pois traz para a criança a sensação de independência. O hábito exercita a capacidade de motricidade fina, como a habilidade de segurar objetos e manipular zíperes, botões e fivelas. As crianças também precisam ter habilidade de sequenciamento e a capacidade de se relacionar com diversos aspectos, como a temperatura, e roupas adequadas para as diferentes estações. A partir de um ano e meio, elas começam a tirar as meias, os sapatos e as calças. Esse comportamento costuma durar até os três. Se a criança não manifestar nenhum interesse em se vestir sozinha até os dois anos e meio, repare se não é você mamãe, que está sendo superprotetora e impedindo o desenvolvimento da criança”, comenta Fernandes.