Tomorrowland desembarca pela primeira vez no Brasil
Com decoração inspirada em contos de fadas e ingressos esgotados, maior festival de DJs do mundo espera atrair 180 000 pessoas para Itu
Numa terra muito, muito distante, na pequena Boom, na Bélgica, surgiu há dez anos o Tomorrowland. Com nome de parque de diversões e decoração inspirada nos contos de fadas, o festival dedicado exclusivamente à música eletrônica desde então lota todo mês de julho o Parque De Schorre, no centro da cidadezinha de 20 000 habitantes, e carrega o título de maior evento do gênero no mundo. No ano passado, a maratona de shows de DJs consagrados, como David Guetta e Steve Aoki — nem pense em usar o nome rave para descrever o negócio, ele caiu em desuso —, teve seus 360 000 ingressos esgotados em menos de uma hora. Na ocasião, uma transmissão ao vivo no Parque VillaLobos anunciou aos 10 000 fãs vidrados no telão ali instalado a primeira edição da festa na América Latina. Ela será realizada nos próximos dias 1º, 2 e 3 de maio, em Itu, no interior paulista.
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Essa espécie de Woodstock dos pickups acontecerá pela segunda vez fora do país de origem (a primeira foi em Atlanta, nos Estados Unidos, em 2013). “Os brasileiros são o maior público nas nossas mídias sociais”, explica Maurício Soares, diretor de marketing da SFX, produtora do evento. “Por isso escolhemos estar aqui.”
A aposta rapidamente se mostrou acertada. Mesmo sem o line-up confirmado, o primeiro lote de ingressos esgotou-se em menos de três horas. Pouco mais de 5 000 unidades foram disponibilizadas depois, totalizando 180 000 pessoas para os três dias de festa. Trata-se de um dos maiores festivais montados aqui (o XXXPerience, em 2014, somou um público de 120 000 pessoas em dois dias) e também um dos mais caros. A diária mais em conta custa 399 reais e a mais completa, para as três datas, sai por 899 reais, sem hospedagem.
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O local escolhido para abrigar as apresentações é o Parque Maeda, a 90 quilômetros da capital. A preparação do lote utilizado, de 1,2 quilômetro quadrado, e a montagem das construções de apoio começaram em novembro do ano passado. A terraplenagem do terreno, um novo sistema de escoamento e drenagem da água da chuva e a distribuição de 200 para-raios integram os cuidados com a infraestrutura, que envolveu ainda o cabeamento de fibra óptica desde Itu e a instalação de antenas das principais operadoras de celular, para garantir o necessário sinal de internet aos frequentadores. “Foi como montar uma cidade no meio do nada”, afirma Luiz Eurico Klotz, diretor-geral da SFX, que iniciou o planejamento para trazer o Tomorrowland para o Brasil há mais de três anos.
A lista de atrações reúne 178 artistas, sendo 116 internacionais. Do francês David Guetta, que, segundo estimativas de mercado, costuma cobrar 300 000 dólares de cachê, ao holandês Armin van Buuren, não faltam DJs conhecidos por lotar seus espetáculos. Também holandês, outro chamariz é o jovem Hardwell, de 27 anos, considerado pelo segundo ano consecutivo o melhor do mundo. “Trazer os artistas para o Brasil é o mais difícil”, diz Edo van Duyn, diretor artístico do festival. “A questão tributária eleva o custo de contratá-los.”
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Sua expectativa é que o festival aconteça aqui pelos próximos dez anos. Para atingir essa longevidade, ele e os organizadores variaram a seleção com apostas e revelações nacionais, a exemplo de Alok, eleito pela mídia especializada o melhor do Brasil.
A grandiosidade do espetáculo assusta até uma cidade que ficou famosa com o marketing dos superlativos. Em 2010, o mesmo parque de Itu recebeu cerca de 150 000 pessoas para o festival de rock SWU. Sem muitas opções de hospedagem, o município foi tomado pelos visitantes. “A organização do SWU pareceu amadora perto do projeto apresentado pelos belgas”, compara o prefeito Antonio Luiz Carvalho Gomes, o Tuíze, do PSD. “Estou muito tranquilo.”
A empolgação da prefeitura foi traduzida em rápida liberação da papelada para regularizar a realização dos shows e em ajuda com o empréstimo de máquinas e mão de obra para pavimentar as estradas de terra que levam até o Maeda. Com o propósito de diminuir a aglomeração, organizar o trânsito nas rodovias e reduzir congestionamentos, ônibus serão disponibilizados em quatro pontos de partida: o Sambódromo do Anhembi, os aeroportos de Guarulhos e Viracopos e o Estádio Novelli Junior, no centro de Itu. O preço para o traslado de ida e volta começa em 100 reais. Quem preferir ir de carro contará com áreas adjacentes ao Maeda transformadas em estacionamento, cuja diária mais barata, antecipada no site, sai por 150 reais.
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Visitantes de 56 nacionalidades são esperados por lá. Para recebê-los, a cidade dispõe de placas informativas em inglês e equipes bilíngues da Guarda Municipal, herança da Copa do Mundo, quando as seleções da Rússia e do Japão passaram pelo local. Para o prefeito Tuíze, o resultado da competição esportiva deixou a desejar. O Tomorrowland, por outro lado, já rende bons frutos.
A montagem e a operação do evento garantiram 2 000 vagas de trabalho temporárias aos ituanos e cerca de 2 milhões de reais em impostos. A forte injeção de dinheiro no comércio e no turismo local também conta para a cidade enxergar com bons olhos os baladeiros. Encontrar uma vaga de hotel num raio de 30 quilômetros da festa é missão quase impossível: mais de 90% dos quartos estão ocupados.
Cerca de 20 000 pessoas optaram na hora da compra dos ingressos por instalar- se dentro do Maeda, com diárias que variam de 140 reais (preço para montar a própria barraca no camping) a 7 400 reais. Esse valor dá direito a chalés para quatro pessoas equipados com banheiro, ar-condicionado e piscina. “Esses foram os primeiros pacotes esgotados”, comemora Soares. Para atender a turma, o fornecimento de água é independente do sistema de abastecimento do município, um dos mais afetados pela crise hídrica. A produção encomendou 1 600 tanques com capacidade para 15 000 litros de água trazidos por caminhões-pipa.
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Dentro do acampamento e nas áreas de alimentação próximo aos sete palcos, a moeda local será o token, comprado a 5,55 reais. A estrutura inclui um corredor de conveniência, com venda de pão para o café da manhã a pilha para lanterna. “A festa de música eletrônica ficou estigmatizada como um lugar aonde as pessoas iam para se drogar, e não é nada disso”, defende Soares. A política de tolerância zero abrange revista rigorosa na entrada e a instalação de um juizado de pequenas causas dentro do Maeda, a fim de solucionar qualquer ocorrência. “Queremos mostrar o lado bonito dos festivais e da celebração da música”, completa o diretor da SFX. Pelo menos por três dias, o mundo da fantasia poderá se tornar realidade.
Com reportagem de Silas Colombo
Fique de olho: VEJA SÃO PAULO vai convidar seis leitores que gostam de comentar seus programas favoritos na cidade para curtir o domingo (3/5) no Tomorrowland Brasil, com um acompanhante cada um. Para escrever sua avaliação de baladas, restaurantes, filmes e peças de teatro de São Paulo, basta entrar no site de vejasaopaulo.com e se cadastar. Os convidados receberão um e-mail da redação até o dia 30/4. A responsabilidade pelo transporte até o local, em Itu, e pela alimentação no Tomorrowland Brasil é inteiramente do leitor.