Super-herói paulistano percorre as ruas para “socorrer” pedestres
Estudante mascarado, batizado de Super-Ando, defente a melhoria da mobilidade
Uma mulher grávida aguarda para atravessar a movimentada Rua dos Pinheiros, na Zona Oeste, numa faixa de pedestres sem semáforo por perto. Os carros seguem indiferentes, sem dar passagem a ela. Ao notar o iminente perigo, um sujeito trajando máscara, chapéu, capa e tênis nas cores da bandeira do Brasil estende o braço para interromper, decidido, o trânsito.
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Dá sinal para que os veículos diminuam a velocidade ou parem, até que, finalmente, a moça chega ao outro lado da via. Mas quem é esse sujeito? Um pássaro, um avião, um distribuidor de panfletos? Nada disso. A figura em questão anuncia-se como um “herói” chamado de (que rufem os tambores para o trocadilho) Super-Ando.
Desde novembro, o mascarado ricocheteia pela metrópole protagonizando esse tipo de performance cidadã. Por trás da identidade secreta está o estudante Andrew Oliveira, de 24 anos. “Não sou o inimigo dos automóveis, mas priorizo quem usa arroz e feijão como combustível.” Goiano morador do Butantã, ele dedica cerca de quatro horas semanais ao projeto. Percorre fantasiado principalmente as vias de seu bairro, mas já foi visto na Zona Norte, por exemplo.
Quando não está a caráter, também dá um jeito de ajudar. Na terça (1º), a caminho do trabalho em uma ONG de planejamento urbano, viu um farol quebrado na Avenida Sumaré. Passou meia hora auxiliando na travessia das pessoas. Em geral, a reação é de agradecimento, mas o ativista também ouve buzinadas e palavrões.
No mês passado, Oliveira escapou por pouco de um atropelamento na esquinas das ruas Duarte de Azevedo e Voluntários da Pátria, em Santana. “O condutor só parou quando o parachoque encostou em mim”, conta. Nessas horas, Super-Ando não se furta a fazer cara feia. Afinal, ele luta contra um vilão real. No último relatório da Companhia de Engenharia de Tráfego, de 2014, consta que houve 555 mortes por atropelamento na capital — um aumento de quase 10% em relação a 2013.
Como cinco delas ocorreram na Avenida Cruzeiro do Sul, o local foi um dos escolhidos para a ação do mascarado há duas semanas, que “salvou” dezenas de pedestres, na maior parte idosos, e conquistou a admiração do vendedor Balbino Nogueira, de um quiosque de lanches: “Aqui, é um sufoco atravessar!”.
O superpoder da indignação vem do herói Peatónito, que usa máscara de luta livre e percorre as calles da Cidade do México com o mesmo propósito. Formado em ciências sociais pela Unicamp e pós-graduando em gestão de cidades na USP, Oliveira conheceu o estrangeiro em um seminário sobre mobilidade. Motivado pelos mais de 15 000 seguidores do personagem original nas redes sociais, o brasileiro montou a página no Facebook, e publica ali vídeos de suas ações. Santa disposição, Super-Ando!
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