Mudança no trânsito e obras do metrô complicam situação da Praça 14 Bis
Área na Bela Vista passou recentemente por transformações viárias e urbanísticas
Conhecida há anos pela degradação, pelos moradores de rua e pelo trânsito confuso, a Praça 14 Bis, no bairro da Bela Vista, está passando nos últimos tempos por algumas transformações viárias e urbanísticas.
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O lugar é um tronco importante de tráfego em direção ao centro, com circulação de 29 000 veículos por dia. Embora a intenção dos administradores públicos tenha sido nobre, as alterações realizadas recentemente ou em curso conseguiram o que parecia difícil: trazer ainda mais transtorno a moradores, motoristas e pedestres da região.
Uma dessas medidas vem provocando especial dor de cabeça e revolta. Em novembro passado, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) proibiu a circulação de automóveis no Viaduto Doutor Plínio de Queiroz, que passa exatamente sobre a praça, para criar um corredor exclusivo de ônibus e táxis na Avenida Nove de Julho.
O órgão alega que a nova regra acabou com o chamado “trânsito em xis” — quando carros e coletivos são obrigados a trocar de faixa entre si — e aumentou em 10% a velocidade dos lotações na via elevada. Quem é forçado a circular por baixo da ponte, no entanto, não vê a situação da mesma forma.
“Deu um nó no tráfego. Os passageiros estão até evitando pegar corrida por aqui”, reclama o taxista Washington Mendes, que tem vaga em um ponto do local. “Uma viagem à Estação Trianon do metrô, por exemplo, custava 7 reais”, diz. “Agora, está saindo por quase o dobro.”
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Ele não é o único que passou a perder mais tempo nos deslocamentos. “Eu levava três minutos para ir da praça ao Hospital Sírio-Libanês”, afirma o comerciante Horácio Elton Rodrigues sobre o percurso de 700 metros. “Depois do bloqueio, não consigo fazer o trajeto em menos de dez”, calcula.
O Doutor Plínio de Queiroz surgiu no começo de 1970 como parte de um conjunto de obras viárias para melhorar o fluxo de automóveis em direção ao centro. “A construção desse viaduto custou milhões de reais aos cofres públicos, e agora ele está subutilizado”, afirma o consultor de trânsito Flamínio Fichman, um dos fundadores da CET.
“E não ocorreu nem uma reprogramação dos semáforos naquela área, o que seria necessário pelo excesso de veículos”, completa o especialista. Ele sugere outro tipo de intervenção para a região. “Com uma pequena obra, os ônibus poderiam ter sido transferidos para o canteiro central do elevado, circulando sempre à esquerda.”
O grande volume de carros parados no pico da noite fez com que o Conselho Comunitário de Segurança da Consolação recebesse, nos últimos seis meses, 140 reclamações ligadas à mudança viária. “Várias delas envolvem furto a motoristas”, conta a presidente da entidade, Marta Lilia Porta.
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Os moradores preparam um estudo de impacto no trânsito para protocolar queixa na prefeitura nas próximas semanas. “Não vamos sofrer calados”, afirma a advogada Célia Marcondes, presidente da Sociedade dos Amigos, Moradores e Empreendedores do Bairro de Cerqueira César.
Para a Polícia Militar, o cenário não é tão ruim. Responsável pelo pedaço, o 7º Batalhão da PM registrou nove casos de furto e roubo na praça entre dezembro e fevereiro — um a mais em relação ao mesmo período da temporada anterior. “Temos uma base comunitária instalada ali há cinco anos, e estamos preparados para qualquer problema”, afirma o tenente-coronel Francisco Cangerana.
No mês passado, surgiu por ali outro inconveniente: a instalação de tapumes no entorno da praça. Trata-se da preparação do canteiro de obras para a construção da Estação 14 Bis do metrô, da Linha 6 — Laranja (Brasilândia–São Joaquim). Os trabalhos começam em julho. Seria uma boa notícia, se os anteparos de madeira não tivessem colaborado para espalhar a população de moradores de rua. “Como não podem mais ficar no mesmo local de antes, agora eles estão por todo lado”, reclama Dircea Quintino, síndica do Edifício Guatemala.
Um alento para quem vive por ali seria a mudança da escola de samba Vai-Vai, instalada há 86 anos na vizinha Rua São Vicente. A princípio, a agremiação sairia de sua histórica quadra rumo à Ladeira da Memória, no Vale do Anhangabaú. O objetivo era abrir espaço ao poço de acesso à Estação 14 Bis. Mas a Secretaria dos Transportes Metropolitanos decidiu transferir a estrutura para um posto de gasolina desativado. A previsão é que a praça fique fechada por quatro anos para a construção do metrô. Após esse prazo, ela será reaberta com novo paisagismo e equipamentos de ginástica.