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Perseguições com mortes abrem discussão sobre despreparo da PM e GCM

Nos últimos dias, três adolescentes morreram vítimas de tiros disparados por policiais militares e guardas civis

Por Sérgio Quintella
Atualizado em 1 jun 2017, 16h05 - Publicado em 2 jul 2016, 00h00
Julio Cesar Alves Espinoza
Julio Cesar Alves Espinoza (Reprodução/Facebook/)
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Por volta das 3 horas de segunda (27), Julio Cesar Alves Espinoza, de 24 anos, circulava com seu Gol 2013 pela Avenida Presidente Wilson, na Zona Leste, quando recebeu o sinal de uma viatura da Polícia Militar para que parasse. O motorista não obedeceu e acabou sendo perseguido até São Caetano do Sul. No percurso, juntaram-se aos soldados outros quatro carros da PM e dois da Guarda Civil Metropolitana (GCM) da cidade do ABC. Eles efetuaram dezesseis tiros contra o automóvel. Um deles acertou a cabeça do motorista, que era estudante de logística da Uninove e morreu no dia seguinte.

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Os responsáveis pelo tiroteio declararam que reagiram depois de ouvir um estampido e ver um clarão vindo do veículo em fuga. Na delegacia, disseram ainda ter encontrado um revólver calibre 38 e um pó branco dentro do Gol. Até a última quinta, 30, a perícia sobre o caso não havia sido concluída. Os familiares da vítima, no entanto, têm certeza de que houve abuso de poder e tentativa de criar uma cena para justificar o assassinato. “Executaram meu filho”, afirma o pai, Julio Ugarte Espinoza.

Carro - Gol Espinoza
Carro – Gol Espinoza ()
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Segundo ele, o rapaz temia a apreensão do automóvel por causa dos 582 reais que devia em multas e DPVAT. “Julio dizia que, se encontrasse uma blitz pelo caminho, não pararia, por medo de perder o carro.” Outros dois casos de perseguição ocorridos nos últimos dias acabaram em morte. Na sexta, 24, um adolescente de 15 anos em um carro furtado foi alvejado por PMs na Cidade Tiradentes. No domingo, 26, em Guaianases, um garoto de 11 anos, depois de pilhar um Chevette, perdeu a vida com uma bala na cabeça, disparada por um GCM da capital. Esses episódios geraram uma grande discussão sobre o despreparo e os abusos de homens da lei em serviço.

Protocolos de segurança determinam que os agentes só atirem quando houver ameaça à sua integridade e à de outras pessoas ao redor. “Na prática, apenas um pequeno grupo cumpre as regras”, afirma a major Tânia Pinc, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que concluiu um doutorado em 2011 sobre o tema. E atirar nos pneus, pode? “Só em filme de Hollywood”, ironiza o coronel da reserva José Vicente da Silva Filho. Tentativas de parar o veículo a bala, ressalta ele, podem ocasionar capotamento e ferir pedestres. “É preferível deixar o bandido escapar a trazer risco a inocentes.”

Diante da repercussão do caso de Guaianases, Fernando Haddad veio a público criticar a atuação da GCM. “O agente anda armado para se proteger, não para fazer policiamento”, declarou. “O prefeito desconhece a legislação e a estrutura que comanda”, critica o inspetor Eliazer Rodella, presidente da Associação de Apoio ao Policial (Aapol). A Lei Geral de Guardas Municipais, de âmbito nacional, prevê o patrulhamento e o atendimento a ocorrências emergenciais, entre outras atribuições.

O secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho, comentou os episódios envolvendo PMs. De acordo com ele, eventuais falhas de comportamento serão apuradas e, se for o caso, punidas. Ele ainda destacou números para tentar demonstrar que a tropa tem uma boa conduta. “A abordagem vem se aperfeiçoando”, avaliou, citando que, em 2015, o índice oficial de letalidade da polícia paulista caiu 14% na comparação com o de 2014. Foram 607 casos, contra 706 no ano anterior.

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Os homens envolvidos nas perseguições foram afastados das ruas. Com 43 anos e treze de GCM, Caio Muratori relata que nunca antes havia dado um tiro em serviço. Casado, pai de três filhos (entre 4 e 16 anos) e com salário de 3 300 reais por mês, ele foi o autor do tiro fatal em Waldik Gabriel Silva Chagas no bairro de Guaianases. O garoto estava no Chevette junto de dois amigos de 14 anos.

Imagem mostra homem de boné e blusa cinza, em foto escura feita para que o rosto dele não aparecesse
GCM Caio Muratori ()

“Eu não sabia que havia criança ali”, diz Muratori. “Foi um acidente de trabalho.” Ele afirma ter reportado cada passo à base durante os vinte minutos da ocorrência, da primeira abordagem ao desfecho trágico. “Dispararam contra nossa viatura e eu revidei alvejando os pneus, mas a bala ricocheteou no asfalto e pegou no carro”, conta. O GCM terá de provar como um dos menores, no banco de carona, conseguiu disparar mesmo com o vidro fechado. “Ele usou a mão esquerda e atirou pelo quebra-vento”, argumenta. Ninguém encontrou esse revólver. Essa e as outras mortes estão sendo investigadas pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

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