Jovem é morto por PM durante bloqueio no Campo Limpo
O ajudante de pedreito Evandro Pereira da Silva, de 24 anos, foi atingido na cabeça na noite de domingo (26); no mesmo fim de semana, houve outros três casos de homicídio cometidos por agentes
Um jovem morreu após ser baleado por um policial militar durante um bloqueio no Campo Limpo, na Zona Sul da capital, na noite de domingo (26). Trata-se do quarto homicídio cometido por policiais de que se tem notícia no último fim de semana.
O caso aconteceu na Avenida Amadeu da Silva Samelo, na altura do número 366, quando dois casais de amigos iam para uma festa de samba a bordo de um Fiesta branco. Ao avistar um bloqueio policial na via, o motorista Luis Aurelio, de 26 anos, iniciou uma manobra de ré para seguir em outra direção. Em seguida, o veículo foi atingido por um tiro desferido pelo PM Luis Henrique dos Santos Quero.
O disparo de pistola calibre .40 atravessou o vidro, perfurou o banco e atingiu a cabeça de Evandro Pereira da Silva, de 24 anos, que estava sentado atrás do motorista, ao lado de sua noiva Ana Maria da Silva de Lima, de 22 anos. Internado no Hospital Geral de Pirajussara, não resistiu aos ferimentos e morreu na quarta (29). O sepultamento foi realizado na manhã desta sexta (1º), em Taboão da Serra.
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“A gente nem viu que se tratava de um bloqueio da polícia. Não havia sirenes, as luzes estavam apagadas e o local era escuro. Tinha dois carros parados na nossa frente e decidimos não seguir por ali por conta do trânsito”, relatou Ana Maria a VEJA SÃO PAULO. “Foi um desespero. Ele caiu ferido nos meus braços, gritamos por socorro e saímos em direção a um hospital”.
No boletim de ocorrência registrado pelos policiais militares no 89º Distrito Policial, de Taboão Serra, a versão é outra. Eles contam que estavam em um furgão móvel com dez agentes quando fizeram o bloqueio na área devido a um pancadão. Ao abordarem o automóvel, ele “não parou e nem obedeceu às ordens”.
O registro segue: “O motorista freou antes da base móvel da PM e tentou fugir, quando foi cercado por três policiais. Percebendo o cerco, efetuou uma manobra brusca em marcha ré e atropelou dois policiais, de forma intencional. Só não terminou por passar em cima dos profissionais, porque um deles conseguiu efetuar um disparo de arma de fogo, que fez com que o condutor engatasse e conseguisse efetivamente fugir em alta velocidade”. Ainda de acordo com o boletim, dois policiais tiveram escoriações, parte da farda rasgada e a arma arranhada.
As pessoas a bordo do carro contestam a afirmação. “É absolutamente mentiroso isso. Eles inventaram essa versão para justificar o disparo”, diz Ana Maria. “A gente não deu ré em cima de ninguém. Estávamos com uma amiga grávida de cinco meses no carro.” Sobre o noivo, ela lembra: “Ele não merecia essa morte, estava trabalhando como ajudante de pedreiro, ganhava 1 100 reais, tinha o sonho de comprar uma moto e da gente casar.”
A Polícia Militar informa que foi instaurado Inquérito Policial Militar para apuração dos fatos. Os PMs estão afastados da atividade operacional, realizando serviços administrativos no quartel.
Prisão
O motorista Luis Aurélio, que já cumpriu pena por roubo, foi preso por tentativa de homicídio contra os PMs no hospital onde o colega recebeu atendimento. Ele está encarcerado no CDP de Pinheiros. Evandro tinha antecedentes criminais por tráfico de drogas. O veículo que eles usavam não possuía documentação regular, apenas uma nota fiscal de leilão.
Segundo a delegacia, duas testemunhas, com identidades protegidas, prestaram depoimento confirmando a versão dos policiais. “Essas pessoas foram trazidas pelos próprios agentes e chegaram de madrugada”, alega o advogado José Carlos Bezerra Santos, que defende o motorista. “Estamos diante de mais uma barbaridade cometida pela polícia.”
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Informada sobre o caso por VEJA SÃO PAULO, Julio Cesar Fernandes Neves, da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, afimou que vai oficiar a Corregedoria da Polícia Militar e o Ministério Público para analisar o caso.
Outros casos
No último mês, a capital se deparou com outras quatro ações policiais que culminaram na morte de crianças e jovens. No início de junho, um furto de carro cometido por duas crianças de 10 e 11 anos terminou em perseguição policial. Italo, o mais jovem, foi alvejado na cabeça numa suposta troca de tiros.
Nos últimos dias, outros casos vieram à tona. Na sexta (24), um adolescente de 15 anos em um carro furtado foi alvejado por PMs em Cidade Tiradentes. No sábado (25), Waldik Chagas, de 11 anos, morreu baleado na cabeça por um integrante da Guarda Civil Metropolitana após denúncia de roubo, em um episódio que também envolveu perseguição e disparos contra o veículo.
Na segunda-feira (27) policiais militares e guardas civis de São Caetano do Sul perseguiram um carro que não teria parado em bloqueio e o alvejou com dezesseis tiros, atingindo na cabeça e matando o universitário Julio César Alves Espinoza, de 24 anos.