O poliglota de Mogi
Internado desde 2009, Thauan assiste tanto a desenhos que diz já falar inglês e japonês
Thauan Nunes Fialho da Silva levava uma vida normal até 2009, quando sentiu muita falta de ar. Seu pulmão havia acabado de entrar em colapso. Socorrido, recebeu o diagnóstico de miopatia e polineuropatia periférica, doenças que enfraquecem os músculos do corpo. O médico lhe deu duas horas de vida. Desde então, o garoto tem desafiado diariamente esse prognóstico. Hoje, aos 11 anos, não anda, mas fala com desenvoltura e consegue fazer alguns movimentos. Para respirar, precisa de um aparelho de ventilação conectado à garganta. Por isso, mora há quase cinco anos em hospitais. Foram alguns meses no Menino Jesus, na Bela Vista, e o restante do tempo no Doutor Arnaldo Pezzuti Cavalcanti, em Mogi das Cruzes. Da enfermaria que divide com outras dezenove crianças, Thauan só saiu em três ocasiões, sempre dentro de uma ambulância e com uma equipe de cinco pessoas. Foi a uma pizzaria, ao McDonald’s e à sua casa, na Vila Nova Cachoeirinha.
Nos dias comuns, o menino tem aulas com uma professora da rede estadual e, no tempo livre, lê livros e gibis e assiste a programas infantis. “Vejo tanto desenho, mas tanto, que falo inglês e japonês. Quer ver? Hot-dog, cowboy, arigatô e sayonara”, dispara. À noite, liga seu aparelho de DVD portátil porque, segundo ele, os filmes o ajudam a sonhar. “Mas outro dia tive um pesadelo daqueles feios. Meu irmão mais velho estava comigo. Veio um fantasma e ele deixou a assombração me levar”, conta. Thauan tem consciência de seu estado de saúde e sabe que não terá alta tão cedo. “Logo que cheguei, falei: ‘Vamos embora’. Mas conheci tanta criança que me acostumei. Aqui eu tenho todas as coisas que eu preciso para brincar”, diz. Embora não se saiba como sua doença vai evoluir, ele já decidiu o que pretende ser quando crescer: dono de hospital. “No meu vai ter tudo: cinema, biblioteca, sala de esporte, churrascaria, pastelaria e pizzaria. Minha família vai morar lá.” Sua mãe, Maria das Graças, passa três ou quatro dias por semana com ele. No aniversário do filho no ano passado, mandou fazer no braço uma tatuagem com a imagem dele e a inscrição “Mamãe te ama”. Ela explica, comovida: “É a forma que encontrei de deixar o Thauan ficar grudado comigo o tempo inteiro”.