Quarto em preto e branco
Hélio Almeida Rocha, corinthiano, espera um transplante no Hospital do Coração
Roupas, colar, almofada, brinquedos, travesseirose chaveiros — tudo tem a estampa do Corinthians no quarto do ex-segurança Hélio Almeida Rocha, de 54 anos, no Hospital do Coração. Ele só vestiu camisetas do time desde que foi internado, em março de 2012. Na semana passada, portanto, completou 570 dias no HCor. O paciente tem miocardiopatia isquêmica grave: seu coração não funciona direito por problema de oxigenação. Necessita de um novo. Enquanto aguarda o transplante, precisa receber uma dose alta de medicação e cuidados permanentes da equipe. Por isso, fora uma semana que passou em casa em setembro, não conseguiu sair de lá nem uma vez. “Evito olhar a rua pela janela. Me dá muita tristeza ver as pessoas caminhando”, diz. De manhã, logo depois de acordar, posta alguma mensagem no Facebook. Independentemente do tema, ela termina com a mesma frase: “Bom dia do Hélio Corintiano à espera de um coração”. Depois, anda na esteira e nos corredores do hospital, aos quais deu apelidos. “Tem a Avenida dos Safenados e, no meio, a Praça dos Cardíacos”, brinca. Como está há muito tempo internado, a administração do centro de saúde permitiu que sua cachorra, a vira-lata Bali, seja levada até ele às vezes. Solteiro, também recebe frequentemente a visita de seus irmãos. Assiste aos jogos do time pela televisão. Nesses momentos, os médicos entram em alerta, pois ele já infartou no Estádio do Pacaembu. Na reta final da Libertadores do ano passado, tentaram sedá-lo para que não sofresse além da conta. Não adiantou. “Deram vários remédios para que eu apagasse, mas não conseguiram”, lembra. Rocha tem uma resposta pronta quando lhe perguntam o que vai fazer se chegar para ele um coração palmeirense: “Não tem problema, pois a alma continuará sendo corintiana”.