Nair Benedicto – Por Debaixo do Pano
Resenha por Julia Flamingo
Em fevereiro de 1989, 3 000 pessoas se reuniram em Altamira, no Pará, para discutir a construção de cinco usinas na região do Xingú (entre elas, era pauta a até hoje polêmica hidrelétrica de Belo Monte). Estavam lá 650 índios e a fotógrafa paulistana Nair Benedicto. Militante — ela foi torturada em 1969 depois de produzir uma série de fotos sobre a ditadura militar —, fez uma série de registros sobre o encontro. Até o ano passado, eles estavam todos intactos. Com as chuvas do último verão, porém, sua casa na Vila Mariana foi inundada e, junto com ela, danificaram-se os filmes. O esforço para o resgate do material deixou marcas igualmente imprevisíveis e deslumbrantes nas fotos. Após reveladas, elas mostraram borrões de cores rosadas e a junção de várias imagens em uma só. Dependuradas em uma das salas da Casa da Imagem, formam uma das várias séries produzidas por Nair em diversos períodos de sua vida. Os textos de parede escritos em primeira pessoa revelam traços e crenças da artista. Na sala onde estão expostas fotografias de São Paulo, por exemplo, um breve parágrafo faz homenagem à cidade: “Sempre me emociono quando volto de algum lugar e chego a São Paulo. […] Me entristece ver os casarões desaparecerem para dar lugar aos prédios — muitas vezes tão anônimos”. A frase também deixa claro o porquê da escolha por esse museu para sediar a mostra Por Debaixo do Pano: suas portas e paredes ornamentadas mostram a típica decoração do período imperial, em um exemplo de conservação. Fundada nos anos 1880, a também chamada Casa Número 1, assim conhecida pela numeração que recebeu na época de sua construção, abriga também registros com temáticas de desigualdade social e tradições regionais. Até 7/2/2016.